sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Aviso a los navegantes








Descante del mio Cid



Durante muitos anos a Espanha me vinha aos pedaços, trazida pelo ar. Soava feito Granados, Rodrigo, De Falla ou um cante jondo dos gitanos de Cádiz. Num farrapo de sono, sonhei com Carlos V triunfante em Muhlberg. No Teatro Municipal, vi um balé de Antonio Gades. No apartamento, li com tristeza a derrota do Quijote diante do Cavaleiro da Branca Lua. No pátio do colégio, recitei um verso de Lorca. À noite, no Jornal Nacional, noticiaram a morte de Franco. Eu era menino e ainda não conhecia as majas nem El Dos de Mayo, mas, no aleph da memória, os fragmentos brilham sem se confundirem.

Então, já maduros, pisamos Ludmila e eu em terras de Espanha. Indo dos olivais de Andaluzia às neves dos Pirineus, pensávamos inverter o curso da Reconquista, porém, em verdade, apenas seguíamos o sulco profundo aberto pelo arado de Antonio Machado, de cujas Soledades roubei a epígrafe desta viagem:

En medio de la plaza y sobre tosca piedra,
el agua brota y brota. En el cercano huerto
eleva, tras el muro ceñido por la hiedra,
alto ciprés la mancha de su ramaje yerto.
La tarde está cayendo frente a los caserones
de la ancha plaza, em sueños. Relucen las vidreiras
con ecos mortecinos de sol. En los balcones
hay formas que parecen confusas calaveras.
La calma es infinita en la desierta plaza,
donde pasea el alma su traza de alma en pena.
El agua brota y brota en la marmórea taza,
En todo el aire en sombra no más que el agua suena.


******





2 comentários:

  1. Boa viagem, Valdir! Que ela seja uma renovação para o ano que vem por aí. Um abraço de saudades.

    ResponderExcluir
  2. "Carry me Caravan take me away
    Take me to Portugal, take me to Spain
    Andalusia with fields full of grain
    I have to see you again and again
    Take me, Spanish Caravan
    Yes, I know you can "

    ResponderExcluir