quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Burgueses e filisteus: a Nova Direita (parte 2)








Caminhando sobre espelhos partidos


 “O assombro com o fato de que os episódios 
que vivemos no século XX ‘ainda’ sejam possíveis, 
não é um assombro filosófico. Ele não gera nenhum conhecimento, 
a não ser o conhecimento de que a concepção de história 
da qual emana semelhante assombro é insustentável”
Walter Benjamin, Sobre o conceito de História, Tese 8




1.
Terminologias políticas são confusas e vagas. A longevidade e a latitude de certas denominações ocultam incoerências e descontinuidades. Essas denominações anêmicas, lábeis e equívocas, incapazes de resistir a um exame crítico, são escoradas por tribunos de retórica inflamada; são repetidas pela multidão, que as tomam como chaves de entendimento do mundo; são incorporadas à doxa de uma época na forma de idées reçues, clichês e chavões. Essas noções mal definidas que se cristalizam na sua própria vagueza, eu as denomino conceitos-de-guerra.

Na minha longa e ainda inconclusa série A Claraboia e o Holofote tenho me dedicado às vicissitudes do comunismo como teoria e como conceito-de-guerra desde o Manifesto de Marx e Engels. Justamente por isso não me surpreendeu que, na polarização recente, o velho conceito-de-guerra tenha sido mais uma vez posto em circulação por aqueles que acreditam  numa conspiração da esquerda para abolir a propriedade privada, cancelar as liberdades individuais e instituir um Estado totalitário no Brasil. Que o velho conceito-de-guerra tenha recebido alguma cor local na forma de bolivarianismo, chavismo ou venezuelização (outros tantos conceitos-de-guerra) não muda o essencial do que está em jogo do ponto de vista da Nova Direita: a identificação da esquerda brasileira, em especial o Partido dos Trabalhadores, com um projeto comunista (ou bolivarista) que deve ser interrompido, punido e exterminado em nome de um outro projeto, o da Nova Direita.

Tão vaga como o “comunismo” e o “bolivarismo” – noções escoradas por tribunos de habilidade desigual,  mas fortemente empenhados em berrar até ensurdecer os ouvintes -, a denominação “Nova Direita” merece ser tratada com igual cuidado. A esquerda tem mais a ganhar com um esforço sincero de compreensão do que com as autocríticas perfunctórias de sempre. Nós, esquerdistas de coração e de pensamento, erramos na avaliação das forças sociais e políticas que se levantaram em oposição ao lulopetismo. Acreditávamos que dessa vez éramos impelidos pela própria História; acreditávamos que a classe trabalhadora (o que quer que isso signifique hoje no Brasil) estava conosco; acreditávamos que o exercício prolongado do poder pela esquerda, sustentado por um crescimento econômico sem percalços, iria atender todas as demandas dos segmentos que sempre foram deixados à margem do banquete.

Erros análogos foram cometidos pela esquerda em situação incomparavelmente mais grave, com custos catastróficos. Nas décadas de 1920 e 1930, as esquerdas italianas e alemãs não estavam capacitadas para diagnosticar e entender o fenômeno do fascismo e do nacional-socialismo. A perseguição sofrida pelos socialistas e comunistas nesses dois países, a tomada do poder pelos falangistas na Espanha e o pacto germano-soviético foram traumas históricos que repercutiram nos meios esquedistas do Ocidente e da periferia.  “Fascismo” e “fascista” passaram a ser os insultos clássicos da esquerda contra todos os seus adversários intransigentes. O fascismo passou a ser o espectro que ronda a esquerda, tanto como o comunismo é o espectro que ronda a direita. 

Eis a razão pela qual a esquerda brasileira se deixou assombrar por alguns mortos-vivos do regime militar que saíram em passeata ao lado do deputado ferrabrás Jair Bolsonaro (filiado a uma agremiação curiosamente chamada Partido Progressista, prova cabal de que as terminologias políticas são frouxas). Diante dessa promíscua reunião da bancada do alicate, a esquerda viu o que está habituada a ver - uma ameaça fascista -, deixando escapar o fundamental, que era a nova configuração da Direita. É essa configuração que, nós  esquerdistas de coração e de pensamento, devemos nos esforçar por compreender. 


2.
Não pretendo me ocupar da formação dos movimentos que foram às ruas nos últimos anos, nem dos modos de organização e financiamento dos think tanks da Direita brasileira. O que me interessa são suas matrizes culturais e ideológicas, declaradamente inspiradas na complexa cultura conservadora norte-americana. 

O tradicional anti-americanismo da esquerda e a força das correntes europeias na formação intelectual brasileira tiveram como resultado uma perigosa ignorância a respeito de vários aspectos da vida política, social e cultural dos Estados Unidos. O custo dessa ignorância é uma avaliação limitada e errônea da Direita que se mostrou ao mundo desde a eleição de Ronald Reagan em 1980.

É claro que a esquerda brasileira nunca foi nem poderia ser indiferente aos rumos do império norte-americano, mas naqueles anos finais da ditadura militar no Brasil, estávamos muito ocupados em construir alternativas democráticas para eliminar o que chamávamos de “entulho autoritário”. De maneira ingênua, tendíamos a subestimar a figura do Presidente Reagan, que escarnecíamos como um ator medíocre dominado pela esposa, que tinha feito carreira brigando com os hippies e universitários da Califórnia no final dos anos 60. Nas análises de que dispúnhamos na época, apenas dois aspectos eram privilegiados: a política externa de Reagan em relação à América Latina, ao Oriente Médio e à União Soviética e a sua política econômica. Lembro-me da manhã de dezembro de 1982 em que ouvi falar pela primeira vez na supply side economics. Nesse aspecto, víamos em Reagan apenas um homólogo de Margareth Tatcher, que se tornara primeira-ministra do Reino Unido em 1979. Ambos atacavam o welfare state em crise aguda na década de 1970, quando o legado de Keynes passou a ser criticado publicamente pelos monetaristas de Chicago, à frente dos quais estava o famoso Milton Friedman, e pelos liberarians liderados pelo Friedrich Hayek, que esteve no Brasil algumas vezes, mas só era conhecido por aqueles que, como eu, liam a revista Visão, do empresário Henry Maksoud. (Sim, leitor, eu já me iniciava nos tortuosos caminhos do marxismo e até por isso dedicava parte de meu tempo ao estudo dos críticos de Marx.  Ainda me recordo da última visita do velho Hayek ao Brasil em 1981 e me diverto com os neófitos que acham que a escola austríaca é o dernier cri da economia).

Nos Estados Unidos do começo dos anos 1980, o que estava em jogo era muito mais do que uma investida neoliberal contra a seguridade social. A agenda dos conservadores era bem mais ampla e viria a ter consequências com as quais, nós esquerdistas, temos que lidar hoje no Brasil. 

Acredito que uma visão sinótica do conservadorismo que ganhou força a partir da Era Reagan deve levar em conta três processos: a guerra cultural entre progressistas e conservadores estudada por James Davison Hunter em Culture Wars: the struggle to define America (1991), a formação da coalizão conservadora examinada por George H. Nash em The Conservative Intellectual Movement in America since 1945 (1976) e o surgimento de uma cultura mediana promovida por mediadores que pretendiam elevar o nível cultural do público, tema analisado por Joan Shelley Rubin em The Making of the Middlebrow Culture (1992).


3.

Em Culture Wars, James Davison Hunter relata como o pertencimento a uma denominação religiosa definia a identidade dos norte-americanos até que, no começo do século XX, a industrialização, a imigração, o crescimento urbano, o surgimento de uma sociedade de massas, as lutas pelos direitos dos trabalhadores e das mulheres e os avanços dos meios de comunicação, enfim, os processo ligados à modernização afetaram profundamente o Protestantismo, o Catolicismo e o Judaísmo, que passaram por uma cisão interna e por um realinhamento. Em cada uma das denominações passou a existir dois grupos: de um lado, os que observavam com receio as mudanças e desejavam colocar um freio moral no processo; de outro lado, os que endossavam as novas demandas sociais e viam como necessária a integração dos novos segmentos numa democracia ampliada e robustecida.  Essa divisão entre conservadores e progressistas acabou se tornando um fator que definia a identidade dos norte-americanos e orientava suas posições políticas. 

Cada um dos grupos passou a ter as suas diretrizes, suas instituições, seus representantes políticos. Cada um dos grupos construiu o seu sistema moral com base em seus interesses, valores e pressuposições. Cada um dos grupos passou a ter seu modo de percepção da realidade e seus critérios de julgamento moral.  Tomando como exemplo o problema do direito ao aborto, Davison Hunter comenta: “Em consequência desse estranhamento recíproco, fazer concessões se tornou virtualmente impossível no que diz respeito a vários temas políticos (…) A realidade da vida política e das políticas públicas numa democracia consiste, por bem ou por mal, num compromisso nascido da discussão pública e do debate. Todavia essa discussão pareceria inpraticável quando a linguagem moral empregada pelos lados opostos é tão completamente antitética. Pode-se facilmente imaginar um protestante evangélico, um católico da renovação carismática, um judeu hassídico ou um mórmon  fazendo a seguinte pergunta retórica: 'Como pode um assassinato ser um direito garantido pela Primeira Emenda?'  Poder-se-ia também imaginar um protestante liberal, um católico liberal, um judeu reformista ou um secularista  perguntar justamente o oposto: 'Como poderia ser chamado de assassinato o exercício dos direitos básicos da Primeira Emenda?'  A decisão política parece sociologicamente impossível quando a linguagem moral para se conversar sobre os problemas comuns é tão oposta" (Culture Wars, p. 128 a 130).

Num debate em que os oponentes não compartilham as mesmas premissas, os argumentos se revelam insuficientes e se torna necessário desqualificar o adversário: “Neutralizar a oposição através de uma estratégia de ridículo público, derrisão e insulto se tornou tão importante quanto tornar aceitáveis as alegações morais que cada um dos lado defende. Sem dúvida, a persuasão negativa se tornou ainda mais importante uma vez que, na discussão pública, o diálogo foi amplamente substituído pelo xingamento, denúncia e pela completa intolerância" (idem, p. 136).

A guerra cultural entre conservadores e progressistas em torno de cada item da agenda política moderna (reforma educacional, políticas de ação afirmativa, políticas ambientais, uso de drogas, porte de armas de fogo e reconhecimento de novos direitos em questões de gênero, orientação sexual e etnia) fornece o quadro mais amplo dentro do qual se articulou o pensamento da Direita norte-americana.

Em The Conservative Intellectual Movement in America since 1945, George H. Nash reconhecia três correntes maiores no movimento intelectual conservador: o conservadorismo propriamente dito, os neoliberais ou libertarians e os anticomunistas. 

O primeiro grupo eram os conservadores propriamente ditos. Eles se viam como herdeiros de Edmund Burke e dos Founding Fathers, desconfiavam da racionalidade humana e da ciência, desprezavam as massas e a vida democrática corrompida pela demagogia. Os conservadores criticavam a decadência cultural e rejeitavam o consumismo da sociedade capitalista, que conduziria a um hedonismo neopagão. Entre os intelectuais conservadores estavam Richard Weaver e Russell Kirk, autores de dois clássicos do pensamento conservador norte-americano: Ideas have Consequences (1948) e The Conservative Mind (1953).  

Russell Kirk expôs as linhas gerais do pensamento conservador na forma do seguinte decálogo (cf. "Dez Princípios Conservadores"):

1. Existe uma ordem moral duradoura já que a natureza humana é constante e as verdades morais são permanentes.
2. O respeito aos costumes e às convenções é que permite a convivência pacífica das pessoas.
3. Os direitos (inclusive o direito à propriedade) são sancionados pelo uso e pela antiguidade. É inaceitável pretender avaliar essa herança do passado com base no julgamento pessoal e no uso da razão privada.
4. É preciso prudência. As decisões políticas devem levar em conta os efeitos de longo prazo e não apenas a popularidade imediata.
5. É preciso entender a importância da variedade de instituições, de classes sociais e de modos de vida. Essa variedade não deve ser destruída pelos programas igualitários. Os homens só são iguais perante Deus e perante a lei.
6. O ser humano não é perfectível e não pode criar nada perfeito. O pensamento social utópico é falso e perigoso.
7. Liberdade e propriedade estão intimamente ligadas.
8. É preciso apoiar a vida comunitária, mas rejeitar o centralismo e o coletivismo feito em nome de uma Democracia abstrata.
9. É preciso haver meios para restringir os poderes e as paixões humanas para evitar a anarquia e a tirania.
10. É preciso conciliar a mudança e a estabilidade na sociedade.

A segunda corrente era a dos libertarians ou neoliberais, que se agregavam em torno de Friedrich Hayek. Eles confiavam no progresso, na ciência e no mercado como princípio autoregulador que garantiria que os indivíduos, agindo racionalmente em função de seus interesses privados, acabariam por produzir o máximo bem-estar comum sem a intervenção do Estado. 

Inicialmente os neoliberais não se reconheciam como conservadores. O próprio Hayek afirmou que, embora fosse possível aliar-se aos conservadores frente ao inimigo comum socialista, era preciso reconhecer os limites do conservadorismo: “Gostaria de enunciar agora o que me parece a objeção decisiva a qualquer conservadorismo que mereça assim ser chamado. É que pela sua própria natureza ele não pode oferecer uma alternativa quanto à direção em que estamos nos movendo” (“Why I am not a conservative”, p. 398). Para Hayek, essa insuficiência do pensamento conservador podia ser vista em vários aspectos, do qual destaco dois:

Primeiro: ”O conservadorismo é tão incapaz de produzir uma concepção geral de como a ordem social é mantida que os seus modernos seguidores, na tentativa de construir uma fundamentação teórica, invariavelmente apelam para autores que viam a si mesmos como liberais. Macaulay, Tocqueville, Lord Acton, and Lecky certamente consideravam-se liberais, e com razão; e mesmo Edmund Burke permaneceu um velho Whig até o fim e teria estremecido diante do pensamento de ser visto como um Tory” (idem, p. 401)

Segundo: “Enquanto um conservador tende a defender uma hierarquia particular e desejar que a autoridade proteja o status daqueles que ele valoriza, o liberal sente que nenhum respeito pelos valores estabelecidos pode justificar o apelo ao privilégio, ao monopólio ou a qualquer outro poder coercitivo do Estado que proteja essas pessoas contra as forças da mudança econômica. Embora o liberal esteja totalmente consciente do papel importante que as elites culturais e intelectuais exerceram na evolução da civilização, ele também acredita que essas elites têm que provar por si mesmas que são capazes de manter sua posição sob as mesmas regras que se aplicam a todos os demais” (idem, p.402-403).

Conservadores e neoliberais, portanto, tinham pouco em comum. Eram basicamente grupos acadêmicos com reduzido número de adeptos e pouca ou nenhuma influência na vida política nacional. Como mostrou George H. Nash, o que forneceu o cimento para unir conservadores e neoliberais foi a corrente anticomunista, que não tinha um ideário intelectual sólido, mas era muito ativa politicamente e despertava grande atenção na imprensa.

Em meados da década de 1950, o filósofo e ativista político Frank Meyer propôs uma forma ecumênica de conservadorismo, que integrava aspectos das três correntes: a 
hostilidade conservadora à cultura moderna, a fé no poder auto-regulador do mercado e o discurso anti-comunista. Esse consenso conservador mais amplo, conhecido como fusionismo, passou a ser veiculado pela National Review, fundada em 1955 por William Buckley Jr., talvez o maior formador de opinião da direita norte-americana na segunda metade do século XX. Foi essa coalizão conservadora que apoiou Ronald Reagan em sua trajetória para a Casa Branca.

À sombra do grande trabalho historiográfico de Nash, gostaria de sublinhar que a força dessa coalizão dependia menos da solidez teórica de seus defensores do que da capacidade de dirigir-se a uma audiência mais numerosa, daí a importância de um público middlebrow que funcionasse como receptor e caixa de ressonância das ideias da nova direita.

Em The Making of the Middlebrow Culture, Joan Shelley Rubin mostra como a cultura middlebrow nos Estados Unidos surgiu de uma atitude de otimismo e confiança na capacidade de autodesenvolvimento do caráter. Escritores e educadores queriam estimular o aperfeiçoamento dos indivíduos de boa-vontade e elevar o nível de cultura geral do público. Associações como o Clube do Livro do Mês, publicações como as Seleções da Reader’s Digest, coleções como a Great Books of the Western World, programas radiofônicos como o Information Please!, em que especialistas respondiam questões de cultura geral enviadas pelo público, representaram um notável esforço de divulgação cultural consistente e responsável. (Apesar de entender a simpatia de Rubin pelos patronos da cultura middlebrow, não posso deixar de observar que se tratava de incutir um respeito acrítico pelos padrões culturais convencionais e uma aceitação de critérios de bom-gosto bem distantes do experimentalismo da alta cultura, como acusou Dwight MacDonald).

Esse grande esforço de elevação cultural  teria sucumbido na década de 1950, por várias razões: a especialização técnico-científica tomou o lugar do estudo das Humanidades; novas formas rápidas de comunicação estimulavam o desapreço pela leitura e pela instrução; o mercado cultural queria produtos que tivessem apelo direto e imediato. Em 1949, quando a promoção de uma cultura middlebrow dava sinais de esgotamento, o escritor Clifton Fadiman, apresentador do programa Information Please!, escreveu o artigo “The Decline of Attention”, que apontava a transformação do público leitor num público consumidor, que queria ser cortejado pelos escritores e jornalistas, ao invés de ser instruído por homens culturalmente superiores, razão pela qual era preciso que os profissionais da palavra se colocassem, na postura e na linguagem, no mesmo nível do público. Parecia que o ideal de autoaperfeiçoamento chegara ao fim em meados dos anos 50. 

O livro de Joan Shelley Rubin se detém nesse momento, mas não é difícil imaginar que o público middlebrow – sempre desconfiado das vanguardas e dos novos valores, mas não necessariamente conservador – tenha sofrido um choque com a agitação dos anos 1960, quando os valores tradicionais da classe média foram questionados, espezinhados e ridicularizados pela contra-cultura em nome de experiências vanguardistas no plano artístico, político e existencial. É bem possível que uma parte do público middlebrow tenha ficado profundamente perturbada pela contestação dos radicais e tenha dado adesão aos diagnósticos pessimistas dos conservadores, sempre hostis às vanguardas e à modernização cultural, vindo a engrossar as fileiras dos neoconservadores. Aqui talvez tenha se confirmado novamente a famosa boutade  de Irving Kristol segundo a qual os neoconservadores eram liberais que foram agredidos pela realidade.

Do ponto de vista intelectual, a força dos conservadores norte-americanos repousa, portanto, na existência de uma fratura social e cultural que os opõe aos progressistas; na articulação eficiente do consenso entre conservadores, neoliberais e anticomunistas (aos quais se juntaram depois os neoconservadores e a direita belicista) e na participação de um público middlebrow que expressa a dóxa conservadora e lhe dá ressonância social, promovendo-a ao nível de verdades autoevidentes, que se contrapõem às verdades autoevidentes defendidas pelos middlebrows progressistas, num debate em que nenhum lado consegue persuadir o lado oposto. 

À luz da experiência norte-americana resumida acima, cabe perguntar se (1) a violenta polarização que se viu nos segmentos médios da população brasileira pode ser comparada às guerras culturais norte-americanas e (2) se a Nova Direita brasileira é portadora de algum consenso elaborado em bases teóricas análogo àquele elaborado pelos fusionistas da década de 1950. 


(continua)




Perry Anderson, "A direita intransigente: Michael Oakeshott, Leo Strauss, Carl Schmitt, Friedrich von Kayek" in Espectro, Boitempo, São Paulo, 2012 | Norberto Bobbio, Nicola Matteucci, Gianfranco Pasquino, Dicionário de Política, Editora da UnB, Brasilia, 1998 | Edmund Burke, Reflexões sobre a Revolução em França, Editora da UnB, Brasília, 1997 | Jorge Chaloub e Fernando Perlatto, “A Nova Direita Brasileira: ideias, retórica e prática política” in Revista Inteligência Insight, ano XIX nº 72, Janeiro-Março de 2016 | Clifton Fadiman, "The Decline of Attention" in The Saturday Review, August, 1949 | Jürgen Habermas, “A crítica neoconservadora da cultura nos Estados Unidos e na Alemanha” in A Nova Obscuridade, Editora Unesp, São Paulo, 2015 | F. A. Hayek, “Why I am not a Conservative” in The Constitution of Liberty, The Chicago University Press, 1978 | James Davison Hunter, Culture Wars: the struggle to define America, Basic Books, 1991 | Samuel P. Huntington, “Conservatism as an Ideology” in The American Political Science Review, vol. 51, nº 2 (Jun. 1957) | Russell Kirk, “Dez Princípios Conservadores” in A Política da Prudência, É Realizações Editora, São Paulo, 2014 | Joseph de Maistre, Consideraciones sobre Francia, Tecnos, Madrid, 1990 | Herbert Marcuse, “Estudo sobre a Autoridade e a Família” in Ideias sobre uma Teoria Crítica da Sociedade, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1981 | Karl Mannhein, “O significado do conservantismo” in Mannheim: Sociologia, coleção “Grandes Cientistas Sociais, Ática, São Paulo, 1982 | George H. Nash, The Conservative Intellectual Movement in America since 1945, Intercollegiate Studies Institute, 30th edition, 2006 | Anthony Quinton, “Conservatism” in A Companion to Contemporary Political Philosophy, edited by Robert E. Goodin and Philip Pettit, Blackwell, Oxford, 1997 | Francisco Carlos Teixeira Silva, Sabrina Evangelista Medeiros, Alexander Martins Vianna, Dicionário Crítico do Pensamento da Direita, Mauad, Faperj, Rio de Janeiro, 2000 | Roger Scruton, “What is Conservatism” in Conservative Texts: an anthology, St. Martin’s Press, New York, 1991 | Joan Shelley Rubin, The Making of the Middlebrow Culture, University of North Carolina Press, Chapel Hill & London, 1992 | Richard M. Weaver, Ideas have Consequences, University of Chicago Press, Chicago and London, 1984