sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Aviso a los navegantes









Hubo un día tan rico el año passado...!
que ya ni sé qué hacer con él.
César Vallejo, Trilce, LXXIV


21 de janeiro de 2017

Depois de Ludmila comprar papéis e tintas na Géant des Beaux-Arts da rua Vergniaud, iríamos visitar o poeta Cesar Vallejo.

Me moriré em París con aguacero,
un día del cual tengo ya recuerdo.
Me moriré em París – y no me corro –
talvez un jueves, como es hoy, de otoño. (1)

Eis o que tínhamos combinado e nem os quatro graus abaixo de zero, nem a caminhada aborrecida pelo boulevard Auguste Blanqui, nem a lembrança daquela manhã gelada em que, muitos anos antes, com os lábios azuis de frio, havíamos tiritado junto à tumba de Baudelaire, nada disso nos impediria de regressar ao campo santo do 14e. 

Todavia, fosse pelo feitio gauche e arredio do poeta ou, mais simplesmente, pela minha inépcia em lidar com o mapa, não topamos com a sepultura que esperávamos coberta de bandeiras alvirrubras do Peru. Aborrecido comigo mesmo e cheio do spleen de Paris, passamos indiferentes e neutros ao lado do túmulo de Samuel Beckett, saímos do cemitério e fomos almoçar numa brasserie da Edgar Quinet.

Yo no sufro este dolor como César Vallejo. Yo no me duelo ahora como artista, como hombre ni como simple ser vivo siquiera. Yo no sufro este dolor como católico, como mahometano ni como ateo. Hoy sufro solamente. Si no me llamase César Vallejo, también sufriría este mismo dolor. (2)

Foi preciso voltar ao hotel à noite e verificar as datas para confirmar que, num outro 21 de janeiro, exatamente um ano antes, chegávamos a Trujillo depois de uma longa viagem noturna pela Panamericana Norte. Mas não era ainda Vallejo que buscávamos e sim as ruínas de Chan Chan e da Huaca de la Luna. Contudo, ao passarmos diante da universidade, o guia local nos disse, cheio do ufanismo que só se perdoa na província, que aquela era a alma mater do mais célebre poeta peruano, César Vallejo. Ao que eu respondi: Seguramente, el más grande poeta de Latinoamérica. Não era mentira nem exagero.

Mas sólo tú demuestras, descendiendo
o subiendo del pecho, bolchevique,
tus trazos inconfundibles. (3)

É essa viagem pelo vasto continente tecido de fibras, pedras e palavras, de Vargas Llosa, Argüedas, Mariátegui e Vallejo, de incas, moches e paracas, que o Sobrinho de Enesidemo vai agora começar.

Lúgubre isla me alumbrará continental
mientras el capitolio se apoye en mi íntimo derrumbre
y la assemblea en lanzas clausure mi desfile. (4)


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(1) Piedra Negra sobre una Piedra Blanca, Poemas Póstumos
(2) Voy a hablar de la esperanza, Poemas Póstumos
(3) Salutación Angélica, Poemas Póstumos
(4) Epístola a los transeúntes, Poemas Póstumos






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