Lenin
8. Imperialismo, fase superior do capitalismo
1. O imperialismo
b. Alianças entre potências capitalistas só podem ser efêmeras (a pax “ultra-imperialista” que Kautsky antevia é uma ilusão)
"O capital financeiro não quer a liberdade, mas a dominação."
Rudolf Hilferding, O Capital Financeiro, cap. XXII
1. O imperialismo
O imperialismo não é invenção de Lenin nem do
marxismo. No começo do século XX, havia um amplo consenso a respeito do aspecto
agressivo que tinha assumido a política externa de alguns países como a França, a Alemanha, o Reino Unido, a Rússia, a Bélgica, o Japão e, em alguns
aspectos, os Estados Unidos. Essa agressividade se manifestava no crescimento
dos orçamentos militares, no expansionismo colonial na África e na Ásia, na
constituição de blocos militares de defesa mútua em caso de agressão (a
Tríplice Aliança e a Tríplice Entente), no fortalecimento dos ultranacionalismos
(ufanismo, chauvinismo, jingoísmo), na elaboração de teorias que procuravam
legitimar as práticas colonialistas em termos de “conquista de espaço vital”,
“missão civilizatória”, “fardo do homem branco” ou “direitos da raça superior”.
Diante dessa situação histórica, impunham-se
certas questões gerais:
- essas mudanças teriam acontecido apenas no
plano das relações internacionais (por exemplo, como resultado da decomposição
das práticas diplomáticas que vigoravam desde o Congresso de Viena) ou seriam
reflexo de mudanças na política interna das nações?
- essas mudanças eram de caráter conjuntural
ou estrutural?
- essas mudanças tinham relação com a recente
ascensão dos cartéis e do relativo declínio da livre concorrência na formação
dos preços?
No caso dos socialistas, havia ainda uma outra
questão:
- o imperialismo mudava a prática dos partidos
que defendiam os trabalhadores?
2. Kautsky: imperialismo e ultra-imperialismo
Em várias ocasiões, Kaustky discutiu a questão
do imperialismo, mas, ao contrário de Rudolf Hilferding (O Capital Financeiro,
1910) e Rosa Luxemburg (A Acumulação de Capital, 1913), nunca chegou a
desenvolver uma teoria logicamente coesa sobre o tema:
"Karl Kautsky's ideas on imperialism
never attained a similar coherence. Fruitful but profoundly contradictory,
Kautsky's writings contain the germ of every significant view expresses by
anti-revisionists theorists before 1914, as well as anticipating the
non-Marxist model of imperialism advanced by Joseph Schumpeter"
(M.C. Howard & J.E. King, A History of
Marxian Economics, vol. 1 1883-1929, p. 92)
Kautsky voltou ao assunto no artigo
Ultra-imperialismo, publicado no periódico Die Neue Zeit, de setembro de
1914. Sua premissa era a de que, até meados do século XIX, a Inglaterra era a
única nação industrializada e o restante do mundo lhe fornecia alimentos e
matérias-primas. O livre-comércio era o meio mais importante de expansão das
áreas agrárias de acordo com as necessidades da indústria inglesa.
No entanto, essa relativa harmonia terminou quando os
Estados Unidos e os países da Europa Ocidental se industrializaram e impuseram
tarifas protecionista contra os produtos ingleses. Ao invés de uma divisão
mundial de trabalho entre a indústria inglesa e a produção agrícola do restante
do globo, passou a haver uma competição entre os Estados industriais, que
tentavam dividir as áreas agrárias ainda livres. A reação da Inglaterra contra
essa situação deu origem ao imperialismo:
“O
imperialismo é um produto do capitalismo industrial altamente desenvolvido.
Consiste em cada nação capitalista industrial ter o impulso de conquistar e
anexar zonas agrárias cada vez maiores, sem nenhuma consideração pelas nações
que vivem ali.”
O imperialismo foi estimulado pelo sistema de
exportação de capitais para as zonas agrárias que surgiu na mesma época. O
crescimento da indústria nos Estados capitalistas se tornara tão rápido que a
expansão do mercado pelos métodos empregados até 1870 já não era suficiente. Nos países agrários, a construção de ferrovias para escoamento da produção agrícola e para permitir a chegada dos produtos industrializados aos novos consumidores exigia capitais, mas, para que essas ferrovias
fossem lucrativas, era preciso que os interesses dos
investidores fossem protegidos por Estados fortes e militarizados. Portanto, à medida que aumentava a exportação
de capitais, aumentava a tendência de subjugar as zonas agrárias do planeta, inclusive para
impedi-las de desenvolver suas próprias
indústrias.
Dada essa descrição do imperialismo, a questão era saber se se tratava da forma final da política capitalista mundial ou se ainda seria possível uma outra.
A exploração dos recursos minerais e
agrícolas, assim como a construção de ferrovias eram necessidades intrínsecas
do capitalismo, por isso as zonas agrárias somente deixariam de ser subjugadas
quando o proletariado ou a população dos países industrializados fosse forte o
suficiente para sacudir o jugo do capital. Isso não significa, porém, que o
imperialismo fosse uma necessidade do capitalismo. Na verdade, a própria economia capitalista era ameaçada pela rivalidade entre os países. A melhor maneira de o capital
realizar a sua tendência para a expansão seria por meio da democracia pacífica e não pelos métodos violentos
do imperialismo.
"Os capitalistas que enxergam mais longe
deveriam clamar aos seus colegas: Capitalistas do mundo todo, uni-vos!”
O imperialismo estava cavando a própria cova, tornando-se um obstáculo ao capitalismo. A corrida armamentista e o
custo da expansão colonial alcançavam níveis que ameaçavam a acumulação de capital e, portanto, da exportação de capital. Os Estados
europeus já tinham dificuldade de cobrir seus empréstimos em tempos de paz. Com
a guerra, isso iria piorar. Contudo, o
capitalismo não estava necessariamente no fim da linha. Do ponto de vista
econômico, ele poderia ainda expandir-se à medida que o crescimento dos países
industriais induzisse um crescimento correspondente da produção agrícola. Certamente a oposição do proletariado cresceria também,
mas havia uma saída possível para impedir o colapso do sistema.
Da mesma maneira como as indústrias se uniram em cartéis,
depois da guerra as nações imperialistas poderiam formar uma federação. Do ponto
de vista puramente econômico, nada impediria que a guerra conduzisse a uma santa aliança de países imperialistas. Nesse
caso, o capitalismo atingira outra fase, a da “cartelização” da política
internacional, que exerceria seu controle sobre o mundo sem apelar para a força das armas. Essa seria a fase do ultra-imperialismo.
Na sua descrição da dinâmica do capitalismo
pós-concorrencial, o artigo estava bastante próximo de Hilferding, mas chegava
a algumas conclusões próprias que se mostraram bastante clarividentes no plano
internacional pós-1945. Mas, em que pese o interesse intrínseco de certas
observações e previsões, Kautsky era uma figura cada vez
mais questionada.
Ele se esforçava por manter a ortodoxia internacionalista, usando expressões como “sacudir o jugo do capital” ou “proletariado (ou das populações) dos países industrializados”, mas afastava qualquer compromisso revolucionário imediato. Seu objetivo era duplo: (a) criticar o imperialismo e a guerra (no que ele tomava distância do social-chauvinismo); (b) preparar o proletariado para o ultra-imperialismo que poderia emergir depois da guerra. Devido a esse aspecto procrastinatório e evasivo, talvez fosse o caso de afirmar:
Ele se esforçava por manter a ortodoxia internacionalista, usando expressões como “sacudir o jugo do capital” ou “proletariado (ou das populações) dos países industrializados”, mas afastava qualquer compromisso revolucionário imediato. Seu objetivo era duplo: (a) criticar o imperialismo e a guerra (no que ele tomava distância do social-chauvinismo); (b) preparar o proletariado para o ultra-imperialismo que poderia emergir depois da guerra. Devido a esse aspecto procrastinatório e evasivo, talvez fosse o caso de afirmar:
“(...) the new definition of imperialism which
Kautsky deduced from his theoretical argument about industry-agriculture proportions
fitted in all too well with the sort of political stance that he had been
settling into as he got older —a bland, middling, centrist stance, carefully
equidistant both from the crassness of the Social Democracy’s more and more
unashamedly short-sighted reformists and from the high-tension rigour of
revolutionaries like Luxemburg and Lenin. Kautsky could rebuff the
Social-Democratic right wing who argued that imperialism was just a further
inevitable (...) Kautsky could also maintain his opposition to colonialism,
arguing that it inhibited capitalist development in the colonies. But his scorn
for those who would “widen” the concept of imperialism so much that “all the
manifestations of modern capitalism are included in it, cartels, protective
tariffs, the domination of finance, as well as colonial policy” — his
dismissive comment that it was then the “flattest tautology” to say that
imperialism should be fought by fighting capitalism — was directed against the
left wing.”
(Martin Thomas, introdução ao artigo“Ultra-imperialism”, de Kaustky)
3. A resposta de Lenin
Ao longo de 1916, Lenin se dedicou a escrever uma resposta a Kautsky, que veio a ser publicada em Petrogrado em meados do ano seguinte, com o título de Imperialismo, fase superior do capitalismo.
Já comentei noutro lugar (A claraboia e oholofote Para ler Lenin), que é preciso nos precavermos contra a tentação de
ver em Lenin um teórico, isto é, um homem que formula modelos explicativos
gerais. Essa tentação é especialmente forte no caso dessa obra famosa, uma vez que tudo indica que dessa vez estamos diante
de um ensaio explicativo de amplo alcance. Acredito, contudo, que o próprio
Lenin deu indicações suficientes e precisas de que a forma “teórica” assumida
pela obra era mero resultado das circunstâncias:
“A brochura foi escrita tendo em conta a
censura czarista. Por isso não só me vi forçado a limitar-me estritamente a uma
análise exclusivamente teórica – sobretudo econômica – como também tive de
formular as indispensáveis e pouco numerosas observações políticas com a maior
prudência.”
(Imperialismo, fase superior do capitalismo,
Obras Escolhidas, tomo 1, Prefácio da 1ª edição russa de 1917, p. 579)
Além disso, Lenin estava consciente de que a
obra carecia da elaboração e do rigor necessários a uma exposição científica ou
erudita, razão pela qual decidiu apresenta-la como um “ensaio popular”, como
diz o seu subtítulo.
De fato, o livro não se pretendia uma nova
teoria sobre o imperialismo. Lenin se apoiava declaradamente em dois trabalhos
bastante conhecidos - O Imperialismo, de J. A. Hobson e O Capital Financeiro,
de Rudolf Hilferding -, que já haviam servido de base para várias resoluções
tomadas nos congressos social-democratas:
“No
fundo, o que se disse acerca do imperialismo durante estes últimos anos –
sobretudo no imenso número de artigos publicados em jornais e revistas, assim
como nas resoluções tomadas nos Congressos de Chemnitz e de Basileia que se
realizaram no outono de 1912 – nunca saiu do círculo das ideias expostas, ou
melhor dizendo, resumidas nos dois trabalhos mencionados ...”.
(Prefácio às edições francesas e inglesas de
1920, p. 586)
Lenin partiu de uma base teórica bem conhecida
no meios social-democratas, mas tratou de enriquecê-la e ilustrá-la com uma
documentação vasta, recente, variada e de alcance mais amplo do que aquela
apresentada por Hobson ou Hilferding.
(Para o leitor brasileiro, por exemplo, é
surpreendente encontrar um fragmento do relatório do cônsul austro-húngaro em
São Paulo dando conta do papel dos capitais franceses, belgas, britânicos e
alemães na construção de ferrovias no Brasil. Cf. Capítulo IV, A Exportação de
Capital, final).
Portanto, se é preciso cuidado para não
atribuir a Lenin uma fundamentação teórica que não é dele, também é preciso
evitar a ideia de que o seu ensaio sobre o imperialismo fosse uma simples
derivação de obras de outros autores.
“Uma objeção à teoria da “derivação” do livro
de Lenin é que se ele fosse simplesmente seguir trabalhos anteriores, porque
ele teria elaborado quase 800 páginas de notas em grande parte na sua
preparação, sobretudo de fontes originais, e gasto um ano inteiro preparando
seu estudo?”
(Kevin Anderson, Lenin, Hegel, and Western
Marxism: a critical study, University of Illinois Press, Chicago. 1995 p. 124)
Na verdade, o debate a respeito dos méritos
teóricos do ensaio de Lenin não pode chegar a parte alguma quando se resume a
discutir as teses apresentadas na obra, deixando de lado seu papel
prático-político imediato. Desse ponto de vista, seria mais correto
afirmar que, a partir de premissas aceitas pelos próprios social-democratas,
Lenin formulou uma visão do imperialismo que pretendia:
- assinalar o oportunismo de Kautsky e de sua
teoria do ultra-imperialismo (o que legitimaria no plano teórico a ruptura
política com os social-democratas):
“O movimento proletário revolucionário em
geral e o movimento comunista em particular, que crescem em todo o mundo, não
podem dispensar a análise e o desmascaramento dos erros teóricos do ‘kautskismo’. Isso é tanto mais necessário quanto o
pacifismo e a ‘democracia’ em geral – que não têm as mínimas pretensões de
marxismo, mas que, exatamente como Kautsky e Cia. dissimulam a profundidade das
contradições do imperialismo e a inelutabilidade da crise revolucionária que
este engendra – são correntes que se encontram extraordinariamente espalhadas
pelo mundo todo. A luta contra tais tendências é obrigatória para om partido do
proletariado, que deve arrancar à burguesia os pequenos proprietários que ela engana
e os milhões de trabalhadores cujas condições de vida são mais ou menos
pequeno-burguesas.”
(Prefácio às edições francesas e inglesas de
1920, p. 585)
- explicar as posições reformistas assumidas
por parte do proletariado, demonstrando que os
limites da consciência de classe do proletariado eram limites objetivos,
ligados às mudanças que a fase imperialista trouxe à dinâmica da luta de
classes:
“A cisão internacional de todo o movimento
operário mostra-se agora com inteira nitidez (II e III Internacionais). (...)
Onde está a base econômica desse fenômeno histórico mundial?
Encontra-se precisamente no parasitismo e na
decomposição do capitalismo, inerentes à sua fase histórica superior, quer
dizer, ao imperialismo.”
(Prefácio às edições francesas e inglesas de
1920, p. 584)
- justificar a visão de que o capitalismo
entrava num período revolucionário (isto é, um período em que o partido bolchevique exerceria plenamente seu papel de vanguarda do proletariado)
“O imperialismo é a véspera da revolução
social do proletariado. Isto foi confirmado à escala mundial desde 1917.”
(Prefácio às edições francesas e inglesas de
1920, p. 585)
O que era importante para Lenin não era,
portanto, apresentar uma nova teoria sobre o imperialismo, mas expor suas
consequências prático-políticas: a alteração da classe operária (surgimento de
uma aristocracia operária), a penetração do social-chauvinismo no movimento
operário, a divisão no campo operário (revolucionários versus reformistas), o
aguçamento das contradições do capitalismo e a necessidade política de promover
a revolução.
Ou seja, a importância do trabalho de Lenin
estava justamente em consumar a ruptura com o legado da 2ª Internacional. O
próximo passo seria dado em abril de 1917, quando Lenin propôs que os
bolcheviques adotassem o nome de Partido Comunista. A ligação fundamental do comunismo (isto é, o
marxismo-leninismo) com a teoria do imperialismo sempre foi amplamente
reconhecida pelos Partido Comunistas e pelos anti-comunistas mais renhidos, mas
ficou obscurecida aos olhos das correntes de esquerda que rejeitam ou, mais
frequentemente ignoram, a obra de Lenin.
4. A estrutura do argumento de Lenin
Etapa I
Construção do conceito
leninista de Imperialismo
1. No
começo do século XX houve uma transformação do capitalismo: a livre
concorrência deu lugar aos monopólios (ou melhor, oligopólios: cartéis e
trusts).
“Assim, o resumo da história dos monopólios é
o seguinte: 1) Décadas de 1860 e 1870, o grau superior, culminante, do
desenvolvimento da livre concorrência. Os monopólios não constituem mais do que
germes quase imperceptíveis. 2) Depois da crise de 1873, longo período de
desenvolvimento dos cartéis, os quais constituem ainda apenas uma exceção, não
são sólidos, representando ainda um fenômeno passageiro. 3) Ascenso de fins do
século XIX e crise de 1900 a 1903: os cartéis passam a ser uma das bases de
toda a vida econômica. O capitalismo transformou-se em imperialismo.”
(Cap. 1 A concentração da produção e os
monopólios, p. 591)
2. A
fase monopolista aguça as contradições sistêmicas do capitalismo. Se, por um
lado, a concentração de capital permite uma integração ampla da produção e uma
exploração sistemática dos recursos, por outro lado, aumenta a desigualdade
entre os que possuem e os que não possuem. Em outras palavras, a socialização
cada vez maior da produção caminha ao lado da apropriação privada do lucro por
parte de um número cada vez menor de indivíduos (especialmente os
especuladores).
“Isso
já não tem nada a ver com a antiga livre concorrência entre patrões dispersos,
que não se conheciam e que produziam para um mercado ignorado. A concentração
chegou a tal ponto que se pode fazer um inventário aproximado de todas as
fontes de matérias-primas (por exemplo, jazidas de minério de ferro) de um
país, e ainda, como veremos, de vários países de todo o mundo. Não só se
realiza ente inventário, mas também associações monopolistas gigantescas se
apoderam das referidas fontes. Efetua-se o cálculo aproximado da capacidade do
mercado, que estes grupos ‘partilham’ entre si por contrato. Monopoliza-se a
mão-de-obra qualificada, contratam-se os melhores engenheiros; as vias de
comunicação – as linhas férreas na América e as companhias de navegação na
Europa e na América – vão parar nas mãos dos monopólios. O capitalismo, na sua
fase imperialista, conduz à socialização integral da produção nos seus mais
variados aspectos; arrasta, por assim dizer, os capitalistas contra a sua
vontade e sem que disso tenham consciência, para um novo regime social, de
transição entre a absoluta liberdade de concorrência e a socialização completa.
A produção passa a ser social, mas a
apropriação continua a ser privada. Os meios sociais de produção continuam a
ser propriedade privada de um reduzido número de indivíduos, Mantém-se o quadro
geral da livre concorrência, formalmente reconhecida, e o jugo de uns quantos
monopolistas sobre o resto da população se torna cem vezes mais duro, mais
sensível, mais insuportável.”
(Cap. 1
A concentração da produção e os monopólios, p. 593)
“O desenvolvimento do capitalismo chegou a um
ponto tal que, ainda que a produção mercantil continue ‘reinando’ como antes, e
seja considerada a base de toda a economia, na realidade encontra-se já minada
e os lucros principais vão parar nos ‘gênios’ das maquinações financeiras.
Essas maquinações e essas trapaças tem a sua base na socialização da produção,
mas o imenso progresso da humanidade, que chegou a essa socialização,
beneficia... os especuladores.”
(Cap. 1
A concentração da produção e os monopólios, p. 595)
2.1. Por
aguçar as contradições sistêmicas, a formação de monopólios (oligopólios) não é
capaz de evitar crises. Na verdade, os monopólios (oligopólios) agravam as
crises.
“A supressão das crises pelos cartéis é uma
fábula dos economistas burgueses, que põem todo o seu empenho em embelezar o
capitalismo. Pelo contrário, o monopólio que se cria em certos ramos da
indústria aumenta e agrava o caos de todo o sistema da produção capitalista.
Acentua-se ainda mais a desproporção entre o desenvolvimento da agricultura e o
da indústria, desproporção que é característica do capitalismo em geral.”
(Cap. 1 A concentração da produção e os
monopólios, p. 596)
3. Na
fase monopolista do capitalismo, há uma aproximação entre o sistema financeiro
bancário e o sistema produtivo industrial concentrado em cartéis.
“A ‘união pessoal’ dos bancos com a indústria
completa-se com a ‘união pessoal’ de umas e outras sociedades com o governo.”
(Cap. 2 Os bancos e o seu novo papel, p. 606)
3.1. Os
cartéis têm o poder de manter os preços elevados e de sobreviver às crises, por
isso, os bancos que estão ligado a eles podem acumular uma grande quantidade de
capital financeiro, que passa a ser exportado.
“O que caracterizava o velho capitalismo, no
qual dominava plenamente a livre concorrência, era a exportação de mercadorias.
O que caracteriza o capitalismo moderno, no qual impera o monopólio, é a
exportação de capital.”
(Cap. 4 A exportação de capital, p.621)
4. O
desenvolvimento desigual dos países é inevitável sob o capitalismo.
“O desenvolvimento desigual, por saltos, das
diferentes empresas e ramos da indústria e dos diferentes países é inevitável
sob o capitalismo."
(Cap. 4 A exportação de capital, p. 621)
4.1. Os
países desenvolvidos, em que o capital não encontra mais oportunidade de
investimento, passam a exportar seu capital para países “atrasados”, em que o
lucro é elevado.
"A necessidade da exportação de capitais
obedece ao fato de que em alguns países o capitalismo ‘amadureceu
excessivamente’ e o capital (dado o insuficiente desenvolvimento da agricultura
e a miséria das massas) carece de campo para a sua colocação ‘lucrativa’.”
(Cap. 4 A exportação de capital, p. 622)
“Nos países atrasados o lucro é em geral
elevado, pois os capitais são escassos, o preço da terra e os salários baixos,
e as matérias-primas baratas. A possibilidade da exportação de capitais é
determinada pelo fato de uma série de países atrasados terem sido já
incorporados na circulação do capitalismo mundial, terem sido construídas as
principais vias férreas ou iniciada a sua construção, terem sido asseguradas as
condições elementares para o desenvolvimento da indústria etc.“
(Cap. 4 A exportação de capital, p. 622)
5. Os
países que exportam capitais passam a dividir o mundo em áreas de influência,
propiciando o surgimento de cartéis internacionais.
“Os países exportadores de capitais dividiram
o mundo entre si, no sentido figurado do termo. Mas o capital financeiro também
conduziu à partilha direta do mundo.”
(Cap. 4 A exportação de capital, p. 625)
“As associações de monopolistas capitalistas
–carteis, sindicatos, trusts, partilham entre si, em primeiro lugar, o mercado
interno, apoderando-se mais ou menos completamente da produção de um país. Mas
sob o capitalismo o mercado interno está inevitavelmente entrelaçado com o
externo. Há já muito que o capitalismo criou um mercado mundial. E à medida que
foi aumentando a exportação de capitais e se foram alargando, sob todas as
formas, as relações com o estrangeiro e com as colônias e as ‘esferas de
influência’ das maiores associações monopolistas, a marcha ‘natural’ das coisas
levou a um acordo universal entre elas, à constituição de carteis
internacionais.”
(Cap. 5 A partilha do mundo entre as
associações de capitalistas, p. 625)
6. A
concorrência por matérias-primas leva os países capitalistas desenvolvidos à
disputa por colônias.
“Quanto mais desenvolvido está o capitalismo,
quanto mais sensível se torna a insuficiência de matérias-primas, quanto mais
dura é a concorrência e a procura de fontes de matérias-primas em todo o mundo,
tanto mais encarniçada é a luta pela aquisição de colônias.”
(Cap. 6 A partilha do mundo entre as grandes
potências, p. 637)
Conclusão 1
O imperialismo é
caracterizado por “cinco traços fundamentais”:
“(1) a concentração da produção e do capital
leva da a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os
quais desempenham papel decisivo na vida econômica; (2) a fusão do capital
bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse ‘capital
financeiro’, da oligarquia financeira; (3) a exportação de capitais,
diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância
particularmente grande ; (4) a formação de associações internacionais monopolistas
de capitalistas, que partilham o mundo entre si; (5) o termo da partilha
territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes. O
imperialismo é o capitalismo na fase de desenvolvimento em que ganhou corpo a
dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu marcada importância
a exportação de capitais, começou a partilha do mundo pelos trusts
internacionais e terminou a partilha de toda a terra entre os países
capitalistas mais importantes.”
(Cap. 7 O imperialismo, fase particular do
capitalismo, p. 641-2)
Conclusão 2
O imperialismo é uma época de transição
para uma estrutura social e econômica mais elevada.
“O imperialismo surgiu como desenvolvimento e
continuação direta das características fundamentais do capitalismo em geral.
Mas o capitalismo só se transformou em imperialismo capitalista quando chegou a
um determinado grau muito elevado do seu desenvolvimento, quando algumas das
características fundamentais do capitalismo começaram a transformar-se na sua
antítese, quando ganharam corpo e se manifestaram em toda a linha os traços da
época de transição do capitalismo para uma estrutura econômica e social mais
elevada. O que há de fundamental neste processo, do ponto de vista econômico, é
a substituição da livre concorrência capitalista pelos monopólios capitalistas.
A livre concorrência é a característica fundamental do capitalismo e da
produção mercantil em geral; o monopólio é precisamente o contrário da livre
concorrência, mas esta começou a transformar-se diante dos nossos olhos em
monopólio, criando a grande produção, eliminando a pequena, substituindo a
grande produção por outra ainda maior, e concentrando a produção e o capital a
tal ponto que do seu seio surgiu e surge o monopólio: os cartéis, os
sindicatos, os trusts e fundindo-se com eles, o capital de uma escassa dezena
de bancos que manipulam bilhões. Ao mesmo tempo, os monopólios, que derivam da
livre concorrência, não a eliminam, mas existem acima e ao lado dela,
engendrando assim contradições, fricções e conflitos particularmente agudos e
intensos. O monopólio é a transição do capitalismo para um regime superior.”
(Cap. 7 O imperialismo, fase particular do
capitalismo, p. 641)
“Quando uma grande empresa se transforma em
empresa gigante e organiza sistematicamente, apoiando-se num cálculo exato duma
grande massa de dados, o abastecimento de 2/3 ou ¾ das matérias-primas
necessárias a uma população de várias dezenas de milhões; quando se organiza
sistematicamente o transporte dessas matérias-primas para os pontos de produção
mais cômodos, que se encontram por vezes separados por centenas e milhares de
quilômetros; quando, a partir de um centro, se dirige a transformação sucessiva
de material, em todas as suas diversas fases, até obter as numerosas espécies
de produtos manufaturados; quando a distribuição desses produtos se efetua
segundo um plano único a dezenas e centenas de milhões de consumidores (venda
de petróleo na América e na Alemanha pelo trust do petróleo americano), então
percebe-se com evidência que nos encontramos perante uma socialização da
produção, e não perante um simples ‘entrelaçamento’, percebe-se que as relações
de economia e de propriedade privada constituem um invólucro que já não
corresponde ao conteúdo, que esse
invólucro deve inevitavelmente decompor-se se a sua supressão for adiada
artificialmente, que pode permanecer em estado de decomposição durante um
período relativamente longo (no pior dos casos, se a cura do tumor oportunista
se prolongar demasiado), mas que, de qualquer forma, será inelutavelmente
suprimida.”
(Cap. 10 O lugar do imperialismo na história,
p. 670)
Etapa II
Os efeitos sociais e políticos
do imperialismo
1. Crescimento
da camada ociosa dos rentistas
“O imperialismo é uma enorme acumulação num
pequeno número de países de um capital-dinheiro que, como vimos, atinge a soma
de 100 a 150 bilhões de francos. Daí o incremento extraordinário da classe ou,
melhor dizendo, da camada dos rentistas, ou seja, dos indivíduos que vivem do
pagamento de obrigações das ações e não participam em nada de nenhuma empresa,
e cuja profissão é a ociosidade.”
(Cap. 8 O parasitismo e a decomposição do
capitalismo, p. 650)
2. Endividamento
dos países “atrasados” em relação aos países desenvolvidos, que exportam
capitais.
“O
mundo ficou dividido num punhado de Estados usurários e numa maioria gigantesca
de Estados devedores.”
(Cap. 8 O parasitismo e a decomposição do
capitalismo, 651)
3. A
violação da independência nacional dos países “atrasados”, juntamente com o
fato de o próprio capitalismo fornecer os meios de emancipação (meios de
comunicação mais eficientes, crescimento industrial, fim do isolamento
internacional) e com o modelo de Estado livre e soberano oferecido pelos
próprios países desenvolvidos suscita a luta pela independência nacional nas
áreas que foram submetidas ao imperialismo.
“O imperialismo é a época do capital financeiro
e dos monopólios, que trazem consigo, em toda a parte, a tendência para a
dominação, e não para a liberdade. A reação em toda a linha, seja qual for o
regime político; a exacerbação extrema das contradições, também nesta esfera:
tal é o resultado dessa tendência. Intensifica-se também particularmente a
opressão nacional e a tendência para as anexações, isto é, para a violação da
independência nacional (pois a anexação não é senão a violação do direito das
nações à autodeterminação. Hilferding faz notar acertadamente a relação entre o
imperialismo e a intensificação da opressão nacional: ‘No que se refere aos
países recentemente – diz -, o capital importado intensifica as contradições e
provoca contra os intrusos uma crescente resistência dos povos, cuja consciência
nacional desperta; esta resistência pode transformar-se facilmente em medidas
perigosas contra o capital estrangeiro. Revolucionam-se completamente as velhas
relações sociais, destrói-se o isolamento agrário milenar das ‘nações à margem
da história’, que se veem arrastadas para o torvelinho capitalista. O próprio
capitalismo proporciona pouco a pouco, aos submetidos, meios e processos
adequados de emancipação. E as referidas nações formulam o objetivo que noutros
tempos foi a mais elevado das nações europeias: a criação de um Estado nacional
único como instrumento de liberdade econômica e cultural. Este movimento pela
independência ameaça o capital europeu nas suas zonas de exploração mais
preciosas, que prometem as perspectivas mais brilhantes, e o capital europeu só
pode manter a dominação aumentando continuamente suas forças militares.’
A isto há que acrescentar que, não só nos
países recentemente descobertos mas também nos velhos, o imperialismo conduz às
anexações, à intensificação da opressão nacional, e, por conseguinte,
intensifica também a resistência. (...)"
(Cap. 9 A crítica do imperialismo, p. 665-6)
4. Fortalecimento do oportunismo no movimento operário das nações imperialistas
(entenda-se por oportunismo a prática política
reformista, de abrandamento da luta de classes, limitada a objetivos de curto
prazo - como obter ganhos salariais para a classe operária - em detrimento da
emancipação e da tomada do poder pela classe operária)
“É preciso notar que, na Inglaterra, a
tendência do imperialismo para dividir os operários e para acentuar o
oportunismo entre eles, para provocar uma decomposição temporária do movimento
operário, se manifestou muito antes dos fins do século XIX e princípios do
século XX. Isto explica-se porque desde meados do século passado existiam na
Inglaterra dois importantes traços distintivos do imperialismo: imensas
possessões coloniais e situação de monopólio no mercado mundial. Durante
dezenas de anos Marx e Engels estudaram sistematicamente essa relação entre o
oportunismo no movimento operário e as particularidades imperialistas do
capitalismo inglês. Engels escrevia, por exemplo, a Marx, em 7 de outubro de
1758: ‘O proletariado inglês vai-se aburguesando de fato cada vez mais; pelo
que se vê, esta nação, a mais burguesa de todas, aspira a ter, no fim das
contas, ao lado da burguesia, uma aristocracia burguesa e um proletariado
burguês. Naturalmente, por parte de uma nação que explora o mundo inteiro, isto
é, até certo ponto, lógico.’ Quase um século depois, na sua carta de 11 de
agosto de 1881, fala das ‘piores trade-unions inglesas que permitem que a gente
vendida à burguesia, ou, pelo menos, paga por ela, as dirija.’ Em 12 de
setembro de 1882, numa carta a Kaustky, Engels escrevia: ‘Pergunta-me o que
pensam os operários ingleses acerca da política colonial. O mesmo que pensam da
política em geral. Aqui há apenas partido conservador e liberal-radical e os
operários aproveitam-se, juntamente com eles, com a maior tranquilidade do
mundo, do monopólio colonial da Inglaterra e do seu monopólio no mercado
mundial.’”
(Cap. 8 O parasitismo e a decomposição do
capitalismo, p. 655)
Essa quarta consequência do imperialismo merece atenção especial porque constitui a justificativa teórica do rompimento
com a social-democracia. Devido à sua urgência política, Lenin
explicitou essa questão no artigo Imperialismo e a cisão do socialismo, que
veio a público no final de 1916, portanto vários meses antes de Imperialismo,
fase superior do capitalismo. O argumento que ele formula é este:
4.1. A
exploração imperialista gera superlucros para os cartéis das grandes potências.
Uma parte desses superlucros é usada para cooptar uma parte dos trabalhadores,
que se tornam uma “aristocracia operária” ou uma “burguesia operária” que apoia
políticas nacionalistas e imperialistas. (Trata-se do social-chauvinismo que
Lenin identificava em vários líderes da 2ª Internacional e que se
consubstanciou no apoio que vários líderes socialistas deram à guerra)
“A
burguesia de uma ‘Grande’ Potência imperialista pode subornar economicamente as
camadas superiores de “seus” trabalhadores gastando nisso uns cem milhões de
francos por ano, pois seus superlucros chegam provavelmente a cerca de um
bilhão.”
(Imperialism and the split in socialism)
4.2. Essa
cooptação através de “suborno” tem limites: por causa da concorrência acirrada
entre as potências imperialistas, será possível cooptar uma camada cada vez
menor de operários; além disso, essa situação não poderá durar muito tempo,
pois a massa do proletariado e do semi-proletariado vive em condições cada vez
mais opressivas.
“(...) cada ‘Grande’ Potência imperialista
pode e vai subornar camada cada vez menores (...) da “aristocracia operária”.
Antes, o “partido da burguesia operária”, para usar a expressão notavelmente
profunda de Engels, poderia surgir apenas em um único país, porque apenas este
tinha o monopólio, mas, por outro lado, isso poderia acontecer por um longo
período. Agora o “partido da burguesia operária” é típico e inevitável em todos
os países imperialistas, porém em vista da luta desesperada que eles estão
travando pela partilha do espólio, é improvável que tal partido possa
prevalecer num grande número de países por muito tempo. Pois os trusts, a
oligarquia financeira, os preços altos, etc., ao mesmo tempo que permitem o
suborno de um punhado nas camadas altas, são cada vez mais opressivos,
esmagadores, arruinando e torturando a massa do proletariado e do
semi-proletariado."
(Imperialism and the split in socialism)
4.3. A
história do movimento operário resultará da luta entre a tendência de
apropriação da riqueza mundial por parte da burguesia de alguns países
desenvolvidos (uma burguesia que já cooptou o apoio da “aristocracia operária”
oportunista) e a tendência de as massas oprimidas se revoltarem contra a opressão.
"De um lado, existe a tendência da burguesia e
dos oportunistas em converter um punhado de nações muito ricas e privilegiadas
em “eternas” parasitas no corpo do resto da humanidade, a repousar sobre os
louros da exploração dos negros, dos indianos, etc., mantendo-os na sujeição
com a ajuda de armas excelentes de extermínio fornecidas pelo militarismo
moderno. Do outro lado, existe a tendência das massas, que estão cada vez mais
oprimidas que antes e que aguentam todo o fardo das guerras imperialistas, de
sacudir este jugo e de derrubar a burguesia. Nesta luta entre essas duas
tendências é que a história do movimento operário vai se desenvolver
inevitavelmente. Pois a primeira tendência não é acidental; ela é
“substanciada” pela economia. Em todos os países a burguesia já gerou, promoveu
e assegurou por si mesmo os “partidos operários burgueses” dos
social-chauvinistas."
(Imperialism and the split in socialism)
Conclusão 1
É
dever político dos marxistas preparar as massas para a revolução.
"A única linha marxista no movimento operário
mundial é explicar às massas a inevitabilidade e necessidade de romper com o
oportunismo, educá-las para a revolução travando uma luta sem descanso contra o
oportunismo, para utilizar a experiência da guerra para expor, não para ocultar
a completa baixeza da política operária nacional-liberal."
(Imperialism and the split in socialism)
Etapa III
Refutação das teses de Kautsky sobre o ultra-imperialismo
1. Kautsky
nega a existência de um laço estrutural entre imperialismo e capital
financeiro.
“O essencial é que Kaustsky separa a política
do imperialismo da sua economia, falando das anexações como da política
‘preferida’ pelo capital financeiro, e opondo a ela outra política burguesa
possível, segundo ele, sobre a mesma base do capital financeiro. Conclui-se que
os monopólios, na economia, são compatíveis com o modo de atuar não
monopolista, não violento, não anexionista, em política.”
(Cap. 7 O imperialismo, fase particular do
capitalismo, p. 644)
Refutação:
Todo o argumento exposto na etapa I pode ser aduzido para refutar essa tese de Kautsky.
Todo o argumento exposto na etapa I pode ser aduzido para refutar essa tese de Kautsky.
2. Kautsky
nega que o domínio do capital financeiro torne mais agudas as contradições da
economia mundial.
“As ocas divagações de Kaustky sobre o ultra-imperialismo
estimulam, entre outras coisas, a ideia profundamente errada, que leva a água
ao moinho dos apologistas do imperialismo, de que a dominação do capital
financeiro atenua a desigualdade e as contradições da economia mundial, quando,
na realidade, o que faz é acentuá-lo.”
(Cap. 7 O imperialismo, fase particular do
capitalismo, p. 646)
Refutação:
a. No plano do capitalismo, a guerra é a única maneira de resolver as tensões produzidas pelo capital financeiro.
a. No plano do capitalismo, a guerra é a única maneira de resolver as tensões produzidas pelo capital financeiro.
“Perante isto, é de perguntar: no terreno do
capitalismo, que outro meio poderia haver, a não ser a guerra, para eliminar a
desproporção existente entre o desenvolvimento das forças produtivas e a
acumulação de capital, por um lado, e, por outro lado, a partilha das colônias
e das ‘esferas de influência’ do capital financeiro?”
(Cap. 7 O imperialismo, fase particular do
capitalismo p. 649)
b. Alianças entre potências capitalistas só podem ser efêmeras (a pax “ultra-imperialista” que Kautsky antevia é uma ilusão)
“Por isso, as alianças ‘interimperialistas’ ou
‘ultra-imperialistas’ no mundo real capitalista (...) só podem ser,
inevitavelmente, ‘tréguas’ entre guerras. As alianças pacíficas preparam as
guerras e por sua vez surgem das guerras, conciliando-se mutuamente, gerando
uma sucessão de formas de luta pacífica e não pacífica sobre uma mesma base de
vínculos imperialistas e de relações recíprocas entre a economia e a política
mundiais.”
(Cap. 9 A crítica do imperialismo, p. 664)
Conclusão 1
As teses de Kautsky são condizentes com a
atitude oportunista assumida por uma parte do movimento operário europeu.
Assim, a linha pacifista de Kautsky prejudica a emancipação da classe operária
tanto quanto a linha dos líderes social-democratas que apoiam a guerra
imperialista em nome dos possíveis ganhos do operariado de seu próprio país.
“Tanto a análise teórica como a crítica
econômica e política que Kautsky faz do imperialismo encontram-se totalmente
impregnadas de um espírito absolutamente incompatível com o marxismo, de um
espírito que oculta e lima as contradições mais essenciais, impregnadas da
tendência para manter a todo o custo a unidade em desintegração com o
oportunismo no movimento operário europeu.”
(Cap. 9 A crítica do imperialismo, p. 666)
Conclusão 2
A linha de Kaustky rompe com o marxismo e se
funde com a oposição democrática pequeno-burguesa.
“O essencial na crítica do imperialismo
consiste em saber se é possível modificar por meio de reformas as bases do
imperialismo, se há que seguir para diante, agudizando e aprofundando ainda mais
as contradições que o imperialismo gera, ou se há que retroceder, atenuando
essas contradições. Como as particularidades políticas do imperialismo são a
reação em toda a linha e a intensificação da opressão nacional – consequência
da opressão da oligarquia financeira e da supressão da livre concorrência -, a
oposição democrática pequeno-burguesa ao imperialismo aparece em quase todos os
países imperialistas em princípios do século XX. E a ruptura com o marxismo,
por parte de Kautsky e da vasta corrente internacional do kautskismo, consiste
precisamente em que Kautsky, além de não se preocupar, de não saber enfrentar
essa oposição pequeno-burguesa, reformista, fundamentalmente reacionária do
ponto de vista econômico, se fundiu praticamente com ela.”
(Cap. 9 A crítica do imperialismo, p. 658)
Conclusão 3
A luta contra o imperialismo deve ser
inseparável da luta contra o oportunismo.
“O maior perigo são as pessoas que não querem
compreender que a luta contra o imperialismo é uma frase oca e falsa se não for
indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo.”
(Cap. 10 O lugar do imperialismo na história,
p. 669)
Conclusão 4
Uma vez que a luta contra o imperialismo e o
oportunismo são inseparáveis, e que a luta contra o oportunismo consiste em
preparar as massas para a revolução (conclusão 1 da etapa II), então é na
política revolucionária que está a verdadeira luta contra o imperialismo.
***
Lenin passou o ano de 1916 às voltas com as questões da guerra e do imperialismo. Em fevereiro do ano seguinte chegou a notícia da
queda do czar Nicolau II. O governo provisório permitiu a volta dos exilados.
Era hora de Lenin deixar Zurich e empreender a complicada viagem de volta para
a Rússia através da Alemanha em plena guerra. Era o começo de um processo revolucionário complexo, violento e surpreendente como não
se via desde 1789.
********
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Ein Marxist hat nicht das Recht, Pessimist zu sein
Ernst Bloch
Из искры возгорится пламя
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