segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

domingo, 23 de junho de 2019

Fotojornal: a máscara do Grande Inquisidor






Por uma fonte secreta, 

o Sobrinho de Enesidemo 

obteve a primeira foto da 

máscara mortuária do 

Grande Inquisidor de Curitiba.




Para todos os entusiastas do nosso Harvey Dent, lembramos  as palavras do Prêmio Nobel de Literatura de 2016:



False-hearted judges dying in the webs that they spin,

Only a matter of time 'til night comes steppin' in




* * * * *















domingo, 19 de maio de 2019

Fotojornal: o bolsonarismo em seu estado atual





Para não ser reconhecido, o humorista Olavo de Carvalho disfarçou-se de cidadão respeitável em sua visita a Paris. 
O criador do olavo-bolsonarismo foi visto ao sair de uma agência funerária. 
Segundo o depoimento dos funcionários, ele veio solicitar a sua própria cremação. 
A data não foi ainda decidida.






Em Brasília, o forte odor exalado pelo Capo se tornou indisfarçável. 
A Câmara comunicou que tomará providências.




O Primogênito do Capitão já prepara um lugar para chamar de seu.


Os nossos mais sinceros votos de que, 
em breve, 
venham os outros Zeros 
que cercam o Grande Zero.














domingo, 21 de abril de 2019

Fotojornal: os valores bolsonaristas








A preocupação com o bem-estar social 






Coerência e racionalidade






Uma nova visão da cidadania







A importância das redes sociais






O projeto para um novo Brasil


















sábado, 13 de abril de 2019

Fotojornal: os cem dias de Salò










Agora que o regime de Saló chega aos seus três meses, a má vontade da imprensa e dos estudiosos em relação às declarações dos bolsonaristas e olavistas se manifesta de maneira estridente. Impacientes com a insistência do capitão em celebrar o 31 de março de 64, os membros da confraria intelectual explodiram em protestos contra a tese de que o Nazismo seria uma posição de esquerda.

É preciso sermos pacientes e aplicarmos aqui o princípio da caridade. Esquerda e Direita são referências puramente relacionais e historicamente voláteis. Quando eu e outros como eu olhamos para o espectro político, vemos o Nazismo à direita de onde estamos. Pela mesma razão, quando Bolsonaro e Olavo olham para o Nazismo, eles o vêem à sua esquerda. 


Para ajudar nossos leitores a entender onde eles se encontram para que tal visão seja possível, o Sobrinho de Enesidemo, vezeiro no esforço didático, elaborou um breve guia visual do olavo-bolsonarismo. 

Pensei em denominá-lo "Bolsonarismo for Dummies", mas o título me pareceu algo redundante.

Bom proveito a todos!




O olavo-bolsonarismo em imagens:

suas ideias e valores fundamentais



O tradicionalismo de René Guénon






O civismo inabalável do Coronel Ustra




A conspiração globalista-comunista-islâmica-maçônica-papista-gayzista




A onipresença do marxismo cultural.







Volk da República de Curitiba celebra os valores da família cristã Blut und Boden







Senhor,

Que não nos falte o pão.

O circo já o temos. 







Obras: Wolfgang Mattheuer (Erschrecken), Georg Günther (Erntepause)

domingo, 31 de março de 2019

Fotojornal: os últimos acontecimentos






O jantar na Embaixada do Brasil em Washington






Os olavistas 







O segredo de Araújo






A situação do MEC








A relação entre o Executivo e o Legislativo










As propostas da esquerda até agora









Patriotas! 

O Brasil nunca foi uma ditadura.

(Houve apenas democracias um tanto enérgicas)












Obras de Gottfried Helnwein, Franz Sedlacek, Wolinski, Joseph Beuys e alguns achados casuais do Sobrinho de Enesidemo.









quinta-feira, 14 de março de 2019

Luto










Um dia depois da chacina na escola de Suzano.



Dois meses depois do rompimento da barragem de Brumadinho.



Um ano depois do assassinato ainda não resolvido de Marielle Franco e Anderson Gomes.











quinta-feira, 7 de março de 2019

Dos livros (parte II)








Dos livros (parte II)



Primeira questão: “Você já os leu todos?”

Inúmeras vezes alguém que passeava os olhos pelos títulos e lombadas da minha biblioteca me fez essa pergunta. Um certo invejoso despeitado, querendo ser original, advertiu-me que possuir tantos livros equivaleria a fugir da obrigação de lê-los. Nem sempre a verdade está com os invejosos despeitados. Acredito que, quando se tem uma biblioteca, os livros ainda não lidos clamam contra a nossa negligência. Eles nos exortam a vencer a selva de papel e palavras. Eruditos, ratos de sebo, quixotes e leitores míopes temos todos nós epopeias secretas. Conhecemos os riscos das estantes abarrotadas, travamos batalhas épicas nos in-folio alcantilados e disputamos escaramuças rápidas nas brochuras sem relevo. Do picaresco ao heroico, em Garamond, Bodoni ou Helvética, nada nos é estranho na galáxia de Gutenberg. Nenhum tigre de papel nos põe medo. A beleza das extensas fileiras de livros que ainda não conhecemos é a promessa de que o prazer da descoberta, que vivíamos tão intensamente quanto os amores adolescentes, será mantido mesmo quando já avançarmos muito nos anos.

Segunda questão: “Qual o seu livro preferido?”

Essa pergunta vem de gente feliz, que associa a leitura apenas ao prazer e não àquilo que ela é amiúde: um suplício de Tântalo muito familiar aos naturalistas que se põem a catalogar a infinita natureza. Para a gente feliz que faz listas de "livros preferidos", explico que os livros são incomensuráveis porque inseparáveis das circunstâncias de leitura. Uma obra lida de uma sentada, movida pelo prazer e pela curiosidade, não pode ser medida pela régua das obras lida de maneira reflexiva e lenta, às vezes, ao longo de quase toda uma vida, ou de obras estudadas de maneira técnica e com anotações, ou das que se prestam apenas a consultas breves. Há os livros de cabeceira e os que viajam na mochila, há livros de mesa e os há de escrivaninha, de rede e de banheiro.

No sentimento que temos por um livro, os meios de aquisição não são indiferentes, seja o furto, o empréstimo nunca devolvido, a compra impulsiva, a aquisição longamente acalentada ou o achado surpreendente. Há livros que entraram em minha casa menos pela importância intrínseca da obra do que pela alegria de conhecer certa livraria em certa cidade.

Enfim, importa a hora e o momento em que lemos. Há livros solares, que nos acordam da modorra dogmática. Outros exigem a solidão da madrugada. Há obras para se ler na juventude, como O Apanhador no Campo de Centeio, que me dói ter lido tão tarde, trintão e professor; outras, pelo contrário, li antes do tempo, sem poder entendê-las.  Verdes que fossem ou serôdias, dessas leituras saí triste ou perplexo, mas nunca de mãos abanando. 



PS - Houve um ruído excessivo, à direita e à esquerda, em torno do vídeo tuitado por Bolsonaro. Por que essa surpresa e consternação? O capo é fiel a si mesmo na forma, no conteúdo e nos meios. Na falta de outras virtudes, elogiemos ao menos a sua coerência e obstinação no picadeiro.









quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Dos livros (parte I)








Dos livros (parte I)



Os livros vieram todos abaixo, alguns cobertos pela espessa poeira que se acumulou desde o verão passado, quando fiz faxina na biblioteca pela última vez. Um país se faz com homens e livros e ambos, por razões não apenas de higiene, precisam de alguma limpeza. Nas vezes em que estive em Milão, passava diante do prédio em que morava Umberto Eco, ainda vivo naquele tempo, e pensava nos muitos milhares de livros que ele tinha. E ali, de costas para o castelo Sforzesco, na névoa gelada que desce dos Alpes quando o dia termina, eu imaginava com inveja e horror o trabalho que dá limpar todo aquele armazém erudito que se acumulou durante uma vida de colecionador entregue ao amor pela página impressa ou manuscrita. É claro que o mandarim Umberto Eco não se rebaixaria à tarefa servil de sentar-se com uns trapos para remover o pó dos alfarrábios, mas um tipo como eu, anônimo e sem prestígio, não pode se furtar à obrigação de descer os volumes, espaná-los um a um, escoimá-los das traças e, antes de devolvê-los ao nicho, abrir as folhas de guarda à procura de uma data, de uma dedicatória, da assinatura do falecido dono, de um autógrafo, de um antigo bilhete de metrô que foi usado como marca-página. Depois, vadiar um pouco pelas páginas, pescar uma frase e fechar abruptamente o livro para retomar a faina interrompida pela digressão. O livro volta à estante, alinhado como um índice, mas a frase recém-pescada ressoa na memória como se buscasse a contra-senha escondida noutro livro. A faxina é interrompida mais uma vez. É urgente caçar, na massa nunca bem ordenada da biblioteca, o verbete, a nota-de-rodapé, o colofão ou o posfácio que completa o circuito da ideia que, encolhida e tremebunda, faz sinais de que quer dizer algo importante. Mas ela é excessivamente tímida e não desembucha logo. Na confusão dos livros que esperam sua vez espalhados no chão, outras ideiazinhas se levantam, murmuram e agitam as mãozinhas, mas nenhuma se impõe. Em dias de faxina da biblioteca, conceitos e versos querem saltar das páginas e têm ganas de ver a luz, todos ao mesmo tempo. Nessas ocasiões, o fundo lodoso do pensamento se agita com o tumulto das formas conhecidas e com o sentimento de culpa pelos livros não lidos. Nesses dias, ao invés de arquitetura e harmonia, há apenas dissonância e desconcerto. A lógica perde o norte e o gume, e a cabeça, atordoada pelo ruído das vozes roucas, fica imprestável como o piano quebrado que o vizinho abandonou no pátio.





terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Até agora











Passado o choque da derrota, e já habituados aos personagens, podemos agora começar a avaliar o novo governo. Os seus defensores garantem que ele “tem tudo para dar certo” e sempre destacam a sua maciça base de apoio, os quase 58 milhões de votos recebidos. Os ministros e o próprio presidente costumam falar das medidas “robustas” que serão adotadas para isso ou aquilo. No entanto, as propostas mal foram ventiladas durante a campanha e a equipe ministerial mostra pouca coesão. As falas do chefe de Estado embora pareçam duras, firmes e peremptórios, são inseguras, incertas e oscilantes. Sempre na defensiva e um tanto frágil, o homem parece mais enérgico em apontar inimigos do que em indicar soluções. Os seus apoiadores dizem que isso ainda é efeito do atentado sofrido em Juiz de Fora. Verdade ou não, o espetáculo do vai-e-vem das decisões, as falas bisonhas deste ou daquele ministro e a inexperiência ou inadequação do elenco têm suscitado comentários jocosos e talvez já decepcione alguns de seus eleitores.

É que, por parte dos bolsonaristas, as expectativas eram muito altas. No dia da vitória, um motoboy que entrega pizzas festejava na minha rua. Ele se definiu como “um microempresário do setor de distribuição de alimentos” e sabia que agora o Brasil iria sair da crise em que a corrupção do PT mergulhou o país. Naquela mesma semana, um eleitor reagiu ao comentário crítico de um jornalista da Folha de São Paulo, dizendo: “Bolsonaro não foi eleito para fazer reformas, mas para o restabelecimento de princípios e valores morais”.

É compreensível que exista uma grande dose de auto-engano e de ilusão em épocas de eleição, mas é preciso levar em conta de que tipo de ilusão se trata. Os anos de conflito político e polarização que acompanharam as investigações da Operação Lava-Jato alimentaram um diagnóstico sobre a crise brasileira que ganhou ares de lugar-comum na imprensa, nas redes sociais e na conversa de esquina. De acordo com esse diagnóstico, estaríamos vivendo uma crise de gravidade sem precedentes no plano político e econômico, que levou o Brasil a um retrocesso em todos os setores. Uma crise tão profunda que levará uns vinte anos para superada (por que vinte anos? ninguém sabe). Tal crise teria sido causada pelo alto custo de um Estado inchado, corrupto e ineficiente, pois dominado pelo patrimonialismo da elite política, pelos males do presidencialismo de coalizão, com seu toma-lá-dá-cá promíscuo, e, enfim, pelo aparelhamento ideológico do Estado por esquerdistas, comunistas, terroristas ou bandidos ligados a Lula e ao PT.

Para sair da crise seria preciso encontrar uma alternativa consistente à direita. Essa demanda começou a se manifestar nas passeatas de Junho de 2013, nos panelaços de 2014, nos protestos de 2015 e 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff. Alguns intelectuais e jornalistas diziam representar uma Nova Direita, capaz de sanar os problemas do país pelo combater à corrupção, ao patrimonialismo e à hegemonia da esquerda. Enquanto o grosso da imprensa se limitava a fazer campanha pelas "reformas necessárias" no plano previdenciário e fiscal, a Nova Direita tinha em vista sua própria revolução: combate sem trégua à corrupção do Estado (como se a corrupção fosse vício exclusivo do Estado, repelido com horror pelo empresariado), desmantelamento do patrimonialismo pelo enxugamento da máquina administrativa, desregulamentação dos mercados, defesa da meritocracia e das soluções tecnocráticas de gerenciamento estatal. A Nova Direita, já se imaginando no poder, propunha até mesmo a criminalização das esquerdas. 

Embora bastante estridente na imprensa e na internet, essa Nova Direita era minoritária e quase não existia fora do Instituto Mises. Nas passeatas e protestos, o que se via mesmo era a velha direita: alguns integralistas, muitos saudosistas da ditadura militar e as legiões do Arcanjo Miguel, dispostas a lutar contra o aborto, o feminismo, o gayzismo e a imoralidade que aí está... A romagem dos agravados engordou com a chegada de setores da classe média irritados com os direitos recém-adquiridos pelas empregadas domésticas e com a invasão dos aeroportos e das universidades por "gente mais escurinha". Havia ainda uma massa de trabalhadores precarizados, representados pela numerosa classe dos motoristas de Uber, que se viam como "empresários" prejudicados de alguma forma pelas grandes somas desviadas pelos corruptos ligados ao governo. Por último, havia também a massa de jovens revoltados contra o establishment. Como o poder estava nas mãos de um partido de esquerda, era compreensível que esses jovens acabassem se alinhando à direita. Os mais extremados dentre eles marcavam sua insubordinação dando ouvidos à pregação de Olavo de Carvalho, um velho astrólogo esquistão, radicado nos Estados Unidos, que repete com veemência as teorias conspiratórias que circulam nos meios da alt right norte-americana, acrescidas de alguns disparates de cunho próprio. 

A vitória eleitoral só foi possível pela aliança entre a Nova Direita e as velhas direitas. Sua estratégia  de campanha consistia em obter apoio da massa de insatisfeitos fazendo acusações vagas e genéricas à classe política e exigindo punições duras e exemplares especialmente contra Lula e o PT. Uma vez castigados os culpados, o país entraria no rumo certo desde que o novo governo tivesse um sólido compromisso com a competência e a moralidade. A competência seria fornecida por um austero gerenciamento técnico da economia, atento às demandas do mercado. A moralidade viria tanto dos grupos religiosos conservadores quanto das Forças Armadas, apresentadas como reserva moral da nação e mantenedores da ordem e da soberania nacionais. Por razões que ainda devem ser estudadas pela ciência política ou pela patologia forense, a aliança entre Nova Direita e velhas direitas acabou por se firmar na figura de Jair Bolsonaro, que durante três décadas fora apenas uma  figura  pitoresca do baixo clero da Câmara dos Deputados. Ao ex-capitão, empurrado subitamente para as luzes da ribalta, cabia agora a missão de resgatar os valores perdidos e insistentemente proclamados pelos congressistas que votaram pelo afastamento de Dilma Rousseff: Deus, Pátria, Família, Moralidade. 

Com a vitória de Bolsonaro, começou a circular entre os seus apoiadores uma visão curiosa sobre a natureza da democracia e do mandato popular. De acordo com essa visão, o presidente eleito teria a chancela e a força do voto para impor suas decisões sem questionamento, de modo que aos candidatos e partidos derrotados e seus eleitores caberia apenas baixar a cabeça e apoiar o vencedor, que representaria a vontade coletiva da nação. Essa unanimidade em torno do líder é que promoveria o avanço do país pois “é preciso parar com o mimimi e a choradeira e deixar o homem trabalhar”. Fazer oposição, expressar discordância de princípios ou simplesmente formular dúvidas seriam provas de falta de patriotismo e um acinte à vontade do povo. Essa versão ingênua do Füherprinzip foi assim resumida por um eleitor bolsonarista num comentário de internet: “Democracia é isso, ou aceita ou cai fora”. 

Enfim, essa é a teoria e essas são as expectativas dos apoiadores do novo governo, porém nem todas as indicações ministeriais de Bolsonaro correspondem aos elevados padrões de competência e de moralidade apregoados tantas vezes. Também não são claros os limites entre as funções públicas e o papel dos membros da família do presidente e do seu vice. Além disso, faltam transparência, clareza e coerência na apresentação de metas e propostas e há um excesso de proclamações de valores a serem defendidos ou combatidos, de maneira mais ou menos quixotesca. 

As dificuldades iniciais do novo governo têm várias fontes. Algumas vêm da inexperiência administrativa ou da incompetência pura e simples de alguns dos integrantes da equipe, conforme poderemos comprovar nos próximos meses. Outras vêm do voluntarismo afoito e irrefletido tantas vezes manifestado por Bolsonaro e por alguns de seus conselheiros. Outras ainda resultam da própria incongruência dos projetos dos vários segmentos da direita representados no governo: o ativismo jurídico, o intervencionismo militar (acompanhado de revisionismo histórico), o neoliberalismo, a cruzada contra o marxismo cultural e o globalismo, as pautas morais e religiosas do conservadorismo cristão. Há, porém, uma outra dificuldade, ainda mais profunda e que desafia qualquer grupo que venha a ocupar o governo de um país. Trata-se da dificuldade inerente ao exercício do poder de Estado.

Para governar não basta sentar-se num trono que concederia ao ocupante o dom misterioso de resolver problemas pela simples proclamação da sua vontade. Nem as piores tiranias funcionam sem mediações. Primeiro é preciso que o governante assuma as rédeas do Estado, o que não é a mesma coisa que ser eleito ou tomar posse do cargo. O encaminhamento das soluções para os problemas do país depende da capacidade de governar a máquina do Estado, com seus compromissos internos e externos, com seus múltiplos órgãos, suas instâncias de consulta, seus processos de decisão, seus sistemas de pesos e contrapesos, sua burocracia. Essas dificuldades não são exclusivas do governo de Bolsonaro. É comum que eleitores e políticos que lutam para chegar ao poder cometam dois tipos de erro: o de superestimar a capacidade do governo em resolver os problemas da sociedade e o de subestimar a complexidade da máquina do Estado. 

Mesmo que fosse possível reunir um grupo perfeito de técnicos competentes com reputação ilibada, isso não garantiria o êxito do governo, pois governar não é apenas encontrar soluções técnicas para os problemas, mas sobretudo o ato político de decidir quais são as prioridades, de lidar com o descontentamento dos preteridos, de mobilizar consenso em torno das propostas e de fazer com que a máquina do Estado se mova na direção dessas propostas, o que pode requerer concessões ou alianças indigestas. As soluções políticas nunca são puras nem elegantes. Não há técnica ou ciência que possam eliminar a incerteza do processo. Quando um grupo conquista o poder de Estado sempre corre o risco de acabar sendo conquistado e transformado drasticamente pelas exigências da máquina do Estado. Por isso, diante da urgência dos problemas, da magnitude das expectativas e da impaciência dos eleitores, existe sempre a tentação de buscar atalhos, domando a máquina à força. Tentação que deve ser especialmente forte entre os membros e partidários de um governo que cultua a figura do líder como messias e mito e tem a democracia em tão baixa conta que acha que suas credenciais democráticas possam ser comprovadas simplesmente por declarações perfunctórias de respeito à Constituição. O fato de que o Führerprinzip ingênuo dos bolsonaristas receba um endosso nada ingênuo de alguns ministros heideggerianos, como o chanceler Araújo, deve ser mais do que suficiente para espantar a modorra dos verdadeiros amigos da democracia.





100 anos do assassinato de Rosa Luxemburgo


"Liberdade é sempre a liberdade 
de quem pensa de modo diferente"






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