Às vezes, em dias de luz
perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda
a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio
devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem
beleza?
Tem beleza acaso um
fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de
qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em
troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das
coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que
vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter
comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que
simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e
não ver senão o visível!
(Fernando
Pessoa/Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos, XXVI)
O Sobrinho de Enesidemo está de volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário