Rosa Luxemburg
A Acumulação do Capital (1913)
Anticrítica (1915)
O imperialismo segundo Rosa Luxemburg
"No final de 1911, enquanto estava mergulhada na composição da sua Introdução à Economia
Política, subitamente Rosa Luxemburg se
deparou com um problema específico que a absorveu completamente: a natureza da
acumulação capitalista. Tudo teve início com a dificuldade que encontrou de fazer
concordar suas próprias observações com a análise matemática incompleta que
Marx havia feito da reprodução ampliada do capital. A tentativa de aplainar
essa divergência a conduziu a uma reflexão de grande fôlego que – como ela
mesma expressou modestamente – levava a uma ‘nova explicação, rigorosamente
científica, do imperialismo e de suas contradições’. Por volta do meio de 1912,
a obra estava completa e na mão do editor. Na ocasião em que foi publicada, A
Acumulação do Capital não causou uma
impressão favorável. Com poucas exceções, os resenhistas não se interessaram
pelo modelo teórico da acumulação e do imperialismo graças aos quais o livro
exerceu sua influência depois, mas sim pelas provas que a obra fornecia do
caráter pouco ortodoxo das opiniões políticas de Rosa. De muitos pontos de
vista, ela sentia que não fora compreendida, razão pela qual, mais tarde, durante a guerra,
aproveitou o tempo livre de que dispunha na prisão [onde cumpria pena por
incitar os trabalhadores alemães a não pegarem em armas contra os franceses] para
responder aos seus críticos, voltando ao mesmo tema com uma
linguagem mais simples e exemplos de compreensão mais fácil. [Essa resposta foi publicada com o título de A
Acumulação do Capital ou o que os epígonos fizeram da teoria marxista: uma
anticrítica].
(Nettl,
Rosa Luxemburg, Il Saggiatore, p.
387)
Excertos da Anticrítica
[1. A premissa: a acumulação do capital está ligada ao aumento da demanda social]
“O
modo de produção capitalista é regido pelo interesse na obtenção de lucros.
Para o capitalista, seja ele quem for, a produção só tem sentido e utilidade
quando o leva, ano após ano, a encher os bolsos de ‘renda líquida’, ou seja, de
lucros sobre o investimento de seu capital. Ao contrário do que sucede com
qualquer outra forma de economia fundada na exploração, não é apenas o lucro em
ouro, mas o lucro crescente e contínuo que constitui a lei básica do modo de
produção capitalista. Diferindo de outros tipos históricos de explorador, com
essa finalidade o capitalista não se utiliza exclusiva ou principalmente do
fruto de sua exploração para o luxo pessoal; usa-o cada vez mais para aumentar
a própria exploração. A maior parte do lucro alcançado reverte de novo para o
capital, visando à ampliação da produção. O capital assim se avoluma, ou, para
utilizar a expressão de Marx, se ‘acumula’, e a produção capitalista cada vez
mais se expande em função e decorrência da acumulação.
Para
que isso se realize não basta, no entanto, apenas a boa vontade do capitalista.
Prende-se o processo a condições objetivas, de ordem social, que se resume nas
seguintes.
Para
que a exploração seja possível é necessário que, antes de mais nada, haja força
de trabalho suficiente. O capital vai incumbir-se desse detalhe, uma vez que,
historicamente, o modo de produção capitalista venha consolidar-se, até certo
ponto, por meio do próprio mecanismo desse tipo de produção: (1) permitindo que
os assalariados, bem ou mal, recebam um salário capaz de mantê-los com vistos à
subsequente exploração dos mesmos, além de facultar a multiplicação natural da
força de trabalho (e nada mais); (2) proletarizando constantemente a faixa
média da população e estabelecendo, na grande indústria, a concorrência entre o
assalariado e a máquina, a fim de formar-se um exército de reserva sempre
disponível, constituído pelo proletariado industrial.
Preenchida
essa condição, ou seja, garantida a existência do material de exploração
constantemente disponível, que assume a forma de proletariado assalariado, e
garantido o funcionamento regular do mecanismo de exploração por meio do
próprio sistema de remuneração, outra condição básica da acumulação se nos
apresenta ainda. É necessário atentar para as possibilidades de venda
progressiva das mercadorias produzidas pelos assalariados, bem como para as de
receber de volta, em dinheiro, as despesas pessoais do capitalista e a
mais-valia extorquida da força de trabalho.
A
fim de que a acumulação ocorra como processo ininterrupto, é indispensável que
o capital conte com a possibilidade de haver uma venda crescente da mercadoria.
A condição básica da exploração, esta o próprio capital se incumbe de criar,
como já vimos. O volume I de Das
Kapital de Marx analisa e descreve pormenorizadamente esse processo. Em
que condições são realizáveis os frutos dessa exploração? Como encontram saída?
De que dependem? – O capital tem o poder de aumentar, ou é da própria natureza
do mecanismo de produção ampliar as vendas segundo as suas necessidades deste,
de maneira a adaptar a força de trabalho a suas necessidades? – De modo algum! É
neste ponto que a dependência do capital em relação às condições sociais
encontra a sua expressão. Apesar de a forma capitalista de produção
distinguir-se basicamente das outras formas históricas de produção e de ser
subjetivamente apenas orientada pela lei do interesse, pelo lucro, ela tem de
satisfazer objetivamente às necessidades materiais da sociedade, de modo que a
referida meta subjetiva só seja atingida na medida em que essa produção atenda
à meta objetiva. As mercadorias oriundas da produção capitalista só podem ser
vendidas quando ou contanto que o lucro nelas existente possa ser convertido em
dinheiro e essa transformação se processe em vista das referidas mercadorias
satisfazerem à demanda social. A expansão constante da produção
capitalista, ou seja, a acumulação constante do capital, encontra-se ligada,
pois, a uma expansão igualmente constante da demanda social.
Em
que consiste essa demanda social? É possível defini-la de uma forma um pouco
mais exata? Ela é mensurável de alguma forma, ou nós aqui nos encontramos na
dependência de um conceito apenas vago?"
[2. A demanda social: os dois departamentos e o seu excedente]
"Quando
a produção capitalista é vista como um todo, a demanda social logo se apresenta
como grandeza tangível e articulada, de forma perfeitamente compreensível.
Imaginemos
então que as mercadorias produzidas pela sociedade capitalista se encontrem
reunidas todas, anualmente, formando uma pilha enorme, a fim de serem
utilizadas pela sociedade em bloco. Descobriremos logo, no entanto, que essa
massa informe terá grande número de destinos diferentes.
(...)
Vamos
encontrar ali, naquele depósito geral capitalista de mercadorias, grande
quantidade de mercadorias representando os produtos substitutivos dos meios de
produção utilizados nos últimos anos. Trata-se, no caso de matérias-primas,
máquinas, construções etc (ou seja, daquilo que Marx chama de ‘capital
constante’), que os diversos capitalistas produzem uns para os outros, em suas
empresas, de produtos que são obrigados a trocar entre si a fim de que a
produção possa voltar novamente ao volume anterior em todas as empresas. Como
(segundo nossa hipótese até agora admitida) são os próprios estabelecimentos
capitalistas que fornecem todos os meios de produção necessários para o
desenvolvimento do processo de trabalho da sociedade, a troca das respectivas
mercadorias ocorrente no mercado também se caracteriza como assunto por assim
dizer interno, doméstico, que só afeta os capitalistas entre si. O respectivo
dinheiro necessário para a intermediação dessa troca universal de mercadorias
provém, naturalmente, do bolso da própria classe capitalista – visto que todo e
qualquer empresário deve dispor, previamente, do capital-dinheiro exigido por
sua empresa – e volta da mesma forma, naturalmente, para o bolso da classe
capitalista depois de realizada a troca do mercado.
(...)
Outro
grande departamento da massa capitalista de mercadorias deve conter os meios de
subsistência da população, a exemplo do que se observa em qualquer tipo de
sociedade. (...) Assim, distinguiríamos inicialmente na massa social total de
mercadorias, duas grandes partes: a parte dos meios de produção que se destinam
à renovação do processo de trabalho, e a parte dos meios de consumo para o
sustento da população, ou seja, a classe operária e a classe capitalista.
(...)
As
duas grandes porções da massa social de mercadorias às quais há pouco nos
referimos não nos parecem suficientes, no entanto. Se a exploração dos
trabalhadores apenas tivesse a função de permitir que os exploradores levassem
uma vida de fartura, não nos encontraríamos sob o moderno regime do capital.
Teríamos, ao contrário, uma espécie de moderna sociedade de escravos, ou
encontrar-nos-íamos sob um regime feudal do tipo medieval. Essa sociedade
capitalista persegue um só grande objetivo: o lucro em forma de dinheiro, a
acumulação de capital-dinheiro. O sentido histórico propriamente dito da
produção só começa, pois, quando a exploração transcende esses limites. A
mais-valia não deve ser apenas suficiente e capaz de garantir uma existência
compatível com o status da classe capitalista; deve conter, além disso, um
excedente destino à acumulação. Essa finalidade principal é tão importante que
só se empregam os trabalhadores, ou seja, que estes apenas se encontram em
situação de obter meios de subsistência para si mesmos na medida em que produzam
esse lucro destinado à acumulação e na medida em que exista a possibilidade de
realmente acumular-se esse lucro sob a forma de dinheiro.
Devemos
encontrar, portanto, naquele depósito geral imaginário de mercadorias da
sociedade capitalista, uma terceira porção, ainda não destinada nem à renovação
dos meios utilizados na produção, nem à conservação dos trabalhadores e dos
capitalistas. Tratar-se-á de uma partida de mercadorias contendo aquela parte
inestimável de mais-valia que foi extorquida dos trabalhadores, parte que assim
representa a razão de ser propriamente dita do capital: o lucro que se destina
à capitalização ou à acumulação".
[3. O problema da acumulação do capital: para onde se dirige a parte excedente?]
"Chegamos
dessa maneira ao cerne do problema da acumulação e teremos de envidar todos os
esforços na verificação de todas as tentativas já feitas visando ao encontro da
solução. (...)
Para
que a acumulação se verifique é necessário encontrar outros compradores que
adquiram essa partida de mercadorias em que se encontra o lucro destinado à
referida acumulação. Os compradores necessários devem ter meios próprios de
compra, meios que sejam fornecidos por fontes próprias e perfeitamente
autônomas, que nada tenham a ver com o bolso do capitalista, tais como as de
que dispõem os trabalhadores, ou os colaboradores do capital – os órgãos
estatais, o exército, o clero, as profissões liberais. Os compradores devem ser
pessoas cujos meios de compra tenham por origem a troca mercantil e, meios que
também existem, pois, em função da produção mercantil que ocorre fora da
produção mercantil capitalista; devem ser produtores cujos meios de produção
não se incluam na categoria do capital e não pertençam a nenhuma das categorias
gerais (dos capitalistas e dos trabalhadores), mas assim mesmo ou de qualquer
forma tenham necessidade de mercadorias capitalistas.
Onde
encontrar esse tipo de comprador?"
[4. A resposta: as trocas com as regiões não-capitalistas]
"Como
todo mundo sabe e o próprio Marx insiste em realçar em Das Kapital, a produção
capitalista não é, na verdade, a única forma existente de produção. Em
todos os países capitalistas e mesmo nos altamente industrializados existem,
além dos empreendimentos industriais e agrícolas capitalistas, numerosos
estabelecimentos congêneres que mantém uma linha mais simples de produção
mercantil. Na realidade existem, ao lado das nações capitalistas da
Europa, outros países em que ainda predominam a produção artesanal e a pequena
lavoura, fato que se observa principalmente na Rússia, nos Balcãs, na
Escandinávia e na Espanha. Para finalizar, existem, além da Europa capitalista
e dos Estados Unidos, enormes continentes em que produção capitalista apenas
acaba de criar raízes em pontos esparsos, enquanto nos demais as populações
desses continentes apresentam as mais diversas formas de economia paralelas,
desde as comunistas primitivas até as feudais, agrícolas ou artesanais. Essas
formas todas de sociedade ou de produção não só existem ou coexistem em
perfeita harmonia com o capitalismo como também desenvolveu-se entre elas e o
capital europeu um processo intenso e sui generis de trocas desde o início da
era capitalista. Como verdadeira produção em massa, a produção capitalista
depende de compradores que integram os meios agrícolas e artesanais das nações
antigas, bem como dos consumidores de outras nações; por outro lado, e no
concernente a ela mesma, tecnicamente a produção capitalista não pode existir
sem o concurso da produção das mencionadas faixas populacionais, dos meios de
produção ou subsistência fornecidos pelos respectivos países. Teve assim de
estabelecer-se desde o início uma relação de troca e produção capitalista e o
meio não-capitalista, relação mediante a qual o capitalista encontraria a
possibilidade de transformar sua mais-valia em dinheiro necessário à
capitalização subsequente, bem como de providenciar as mercadorias necessária à
expansão da própria produção, enfim, de garantir o crescimento da força de
trabalho proletarizada pela decomposição das formas não-capitalistas de
produção".
[5. Os métodos violentos do capitalismo: destruição, crises econômicas e guerras]
"Isso
quanto ao simples conteúdo econômico da relação. Sua configuração material
constitui, na realidade, o processo histórico da evolução do capitalismo da
evolução do capitalismo no cenário universal, em toda a sua diversidade
dinâmica e multifacetada.
Fato
é que, de imediato, a troca do capital passa a enfrentar dificuldades com
relação ao meio-ambiente, com referência à economia natural existente, às
relações sociais estabelecidas, à demanda reduzida da economia patriarcal
camponesa e ao artesanato nativo. Nessa fase o capital recorre aos ‘meios
heroicos’, à arma da violência política. (...) Nos países ultramarinos a
submissão política e a destruição das instituições comunitárias tradicionais
constituem o primeiro passo, marcando dessa forma o ato histórico do nascimento
do capital e a presença constante, a partir de então, de seu epifenômeno de
acumulação. Com a ruína das condições primitivas desses países, de sua economia
natural e de sua cultura campesino-patriarcal, ao capital europeu se abrem as
portas da troca mercantil. Transformam-se os respectivos habitantes em
compradores de mercadorias capitalistas; acelera-se, ao mesmo tempo e
vigorosamente, a própria acumulação pelo roubo maciço das riquezas naturais e
entesouradas dos povos subjugados. Desde o início do século XIX passaram a
figurar, ao lado desses métodos, a exportação de capital acumulado europeu para
outros países não-capitalistas, em outras partes do globo; aí esse capital,
então, encontrará novo campo; vai estabelecer sobre os escombros das formas
tradicionais locais de produção um novo círculo de compradores para as suas
mercadorias e encontrar, em decorrência disso, uma possibilidade de acumulação
para seu capital.
Dessa
maneira o capitalismo expande-se cada vez mais graças a suas relações
recíprocas com os círculos sociais não-capitalistas e com as nações não-capitalistas, acumulando
seu capital à custa destes; ao mesmo tempo que corrói a cada instante a outra
entidade à qual se associa, procurará desalojá-la e assumir seu lugar. E à
medida que vai crescendo o número de participantes dessa caçada em busca de
novos campos de acumulação de capital e diminuindo o número de regiões
não-capitalistas ainda abertas à expansão universal do capital, mais acirrada
se torna a luta, ou a competição, visando à conquista dessas regiões de
acumulação; tanto mais frequentes também se tornam, no cenário mundial, as
incursões do capital, as quais acabam constituindo verdadeiras cadeias de
catástrofes (de ordem econômica ou política), representadas pelas crises
mundiais, pelas guerras e pelas revoluções".
[6. A consequência: o colapso do capitalismo]
"Acontece,
porém, que por meio desse processo o capital prepara a sua própria cova.
Expandindo a expensas das demais formas de produção não-capitalistas, chega o
momento em que qualquer expansão ou acumulação subsequente do capital tornar-se
impossível, uma vez que a humanidade toda veio a transformar-se em duas classes
únicas: capitalistas e proletários assalariados. Por outro lado, na medida em
que se impõe essa tendência, o referido processo também acaba acentuando os
contrastes entre as classes e a anarquia econômica e política internacionais de
tal maneira que, muito antes de atingida a consequência última do
desenvolvimento econômico – o domínio absoluto e indiviso da produção
capitalista neste mundo –, o mesmo processo irá acarretar necessariamente a
revolta do proletariado internacional contra a existência do domínio do
capital".
[7. A importância do problema da acumulação do capital: a compreensão teórica correta do imperialismo é necessária para orientar a práxis do movimento social-democrata.]
"À
primeira vista pode parecer tratar-se de pura sutileza de ordem teórica. Mesmo
assim, no entanto, a importância prática do problema é evidente. Ele é
importante em conexão com o fenômeno importante da vida pública moderna: o
imperialismo. O período imperialista apresenta os seguintes sintomas:
competição entre os Estados capitalistas, visando à apropriação de colônias e
ao domínio de certas áreas de interesse; encontro de novas opções para a
aplicação do capital europeu; sistema de empréstimos internacionais;
militarismo; medidas protecionistas alfandegárias; supervalorização do papel
desempenhado pelo capital bancário e pelos cartéis na política mundial; sinais
que hoje são perfeitamente conhecidos como manifestações típicas do período em
consideração. As conexões que esses sintomas apresentam com a fase final do
desenvolvimento capitalista e a importância que eles têm para a acumulação do
capital são tão aparentes que tanto os defensores do imperialismo quanto os
seus inimigos claramente os reconhecem e aceitam como tais. A social-democracia
não pode, porém, dar-se por satisfeita com esse reconhecimento empírico. Sua
missão é descobrir e descrever corretamente a lei econômica que existe no bojo
dessa situação; deve pegar pela raiz o complexo variado de fenômenos por meio
dos quais esse imperialismo se manifesta. Como acontece em tais casos, apenas a
conceituação teórica exata e correta do problema (indo à raiz do
mesmo) e a concepção teórica da nossa práxis na luta contra o imperialismo,
somente elas podem conferir-nos a certeza, a finalidade clara e a energia
necessária que são indispensáveis à política do proletariado. Antes de ser
editado Das
Kapital de Marx, a espoliação, o mais-trabalho e o lucro já eram
conhecidos, mas somente a formulação precisa da teoria da mais-valia e a
explicação da formação da mesma, a formulação da lei do salário e a descrição
do contingente industrial da força de trabalho de reserva, tais como Marx os
insere em sua teoria do valor e a explicação da mesma, foram capazes de proporcionar
à práxis da luta de classes a base sólida sobre a qual pôde desenvolver-se, até
a época Guerra Mundial, o movimento operário alemão e o internacional que
seguiu sua trilha. Que a teoria não é suficiente por si mesma e que por vezes é
possível juntar a melhor das teorias com uma práxis da pior espécie, tudo isso
nos é confirmado pelo colapso sofrido pela social-democracia alemã. Esse
colapso não resultou da visão teórica marxista, mas apesar dela; ele só pode
ser superado no momento em que a práxis do movimento operário for posta em
sintonia com a respectiva teoria. E o que se aplica à luta de classes em seu
conjunto e no geral vale também para qualquer setor particular da mesma: só
teremos condições de obter uma base realmente sólida para afirmar a posição que
defendermos em qualquer setor particular importante da luta de classes se
recorrermos à teoria marxista, ou seja, aos múltiplos tesouros inexplorados das
obras fundamentais de Marx".
[8. Crítica à teoria de Marx: os esquemas de reprodução ampliada em Das Kapital partem de uma generalização teórica inadequada.]
"Não
resta dúvida que alguma que a explicação da raiz econômica do imperialismo deva
ter por base as leis de acumulação do capital, e também devam ser postas em
sintonia com essas leis, visto que, em seu conjunto o imperialismo não passa,
empiricamente, de um método específico de acumulação. Como é que se
pode admitir então, que isso seja possível e aceitar sem crítica alguma a
hipótese marxista do volume II de Das
Kapital? Como aceitá-lo admitindo a hipóteses de uma sociedade que só
conhece a forma de produção capitalista e cuja população é toda constituída
tão-somente de capitalistas e operários assalariados?
Qualquer
que seja a maneira de estabelecer as molas propulsoras intrínsecas do
imperialismo, uma coisa é clara e certa: sua natureza consiste na expansão do
domínio do capital (proveniente dos países capitalistas antigos) em novas
regiões, bem como na competição econômica e política desses países, com o
objetivo de dominar as referidas regiões. Como já vimos antes, Marx admite (no
volume II de Das
Kapital) que o mundo inteiro já constitui ‘uma só nação capitalista’ e que
as demais formas econômicas e sociais desapareceram. Como explicar então o
imperialismo dentro de uma sociedade dessas em que já não há espaço para ele?
Foi
nesse ponto que eu me vi compelida a apresentar a minha crítica. A hipótese da
existência de uma sociedade constituída apenas por capitalistas e
trabalhadores, hipótese que se justifica plenamente para fins de análise (...)
pareceu-me inoportuna e injustificada no caso da acumulação do capital social
total. Como essa acumulação representa o processo histórico real do
desenvolvimento capitalista, é impossível conhecê-la se fizermos abstração de
todas as condições dessa realidade histórica. Como processo histórico, a
acumulação do capital progride do princípio ao fim em um meio constituído por
várias formações pré-capitalistas, e em confronto político constante, mantendo
intercâmbio com as mesmas. Então, como captar corretamente esse processo e as
leis de sua dinâmica interna no âmbito de uma ficção teórica exangue que afirma
não existirem esse meio, essa luta, esses efeitos recíprocos?"
[9. Propor uma correção dos esquemas de Marx é uma maneira de preservar a teoria marxista.]
[9. Propor uma correção dos esquemas de Marx é uma maneira de preservar a teoria marxista.]
"É
especialmente nesse particular que me parece adequado ao espírito da teoria
marxista a necessidade de abandonar o pressuposto de que parte Marx no volume I
de Das Kapital e
de abordar a acumulação como processo total, partindo da base concreta da troca
material realizada entre o capital e seu ambiente histórico. Procedendo dessa
maneira, quer parecer-me que obteremos, sem maior esforço, a explicação direta
do processo, a partir das teorias básicas de Marx, em harmonia completa com as
partes restantes de sua obra principal de Economia".
(Rosa
Luxemburg, Anticrítica, pp. 104 -115)
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Ein Marxist hat nicht das Recht, Pessimist zu sein.