Rosa Luxemburg
1. A
crise no partido: Rosa rompe com Kautsky
A
corrida armamentista da primeira década do século XX exerceu uma grande pressão
sobre a estrutura fiscal dos Estados europeus. Na Inglaterra, na França, na
Áustria, na Itália houve crises no financiamento estatal.
Em
1909, com os aumentos substanciais no orçamento do exército e na marinha de
1908, a divida do Império alemão aumentou para 5 bilhões de marcos. O valor dos
títulos imperiais caía constantemente com o aumento da dívida. Uma larga camada
de investidores afetados estava assim inclinada a uma reforma fundamental nas
finanças do Estado. O governo propôs um aumento de impostos indiretos junto com
a introdução de um imposto sobre heranças para fazer frente às crescentes
despesas com armamento. No debate parlamentar que se seguiu, os
liberais aceitaram a proposta de introduzir taxação direta que afetaria os
grandes industriais e os grandes proprietários de terra, porém os conservadores eram contrários a isso, pois viam na proposta de reforma fiscal uma ameaça ao seu poder político. Assim, no final de 1909, a coalização liberal-conservadora que o
chanceler Bülow articulara para fazer frente aos social-democratas começou a se
desfazer.
Ao mesmo tempo, crescia a oposição ao sistema eleitoral de voto em três classes vigente
na Prússia, que impedia que os social-democratas tivessem representação
parlamentar proporcional ao grande número de seus eleitores da classe operária,
ao mesmo tempo que garantia grande número de cadeiras aos Junkers.
Na
verdade, os dois problemas – o da reforma fiscal e o da reforma eleitoral –
estavam ligados. O chefe do grupo parlamentar conservador no Reichstag declarou
que seu partido votaria contra a reforma financeira uma vez que não estava
disposto a "entregar o poder de taxar a propriedade em tal medida a um
organismo parlamentar eleito pelo sufrágio universal".
A
ruptura do bloco Bülow reabriu assim algumas questões fundamentais na linha da
política socialista; a questão fiscal era apenas um aspecto parcial. O problema
era se o partido deveria colaborar com os potenciais aliados burgueses e, em
geral, se deveria empenhar-se em ‘política’. Admitindo que uma colaboração
fosse possível, seria possível realizar por esse meio outros velhos objetivos
socialistas, como a reforma eleitoral prussiana?
Atendo-se
ao espírito de colaboração com os liberais que tinha caracterizado o congresso
do partido de 1909, Bernstein e seus amigos cuidadosamente tentaram conduzir o congresso regional prussiano na mesma direção, mas
inesperadamente o estado de ânimo dos delegados prussianos se revelou muito
mais combativo. A ideia de uma colaboração com os liberais foi repelida sem rodeios. Ao invés disso, o congresso lançou um apelo a que se desencadeasse
uma ‘tempestade pelo direito eleitoral’. Como se poderia, perguntavam os
radicais, lançar uma campanha vitoriosa ao parlamento quando a representação
parlamentar do SPD não era proporcional ao peso real da classe operária?
Os
liberais se assustaram diante do avanço dos radicais e recuaram. A esperança de uma frente
popular nascida logo depois do desmanche do bloco Bülow se dissolveu rapidamente. Mais uma vez, a burguesia ficou à direita e o SPD se colocou à
esquerda.
As
manifestações começaram em Berlim. Grevistas e desempregados apoiavam o
movimento. Rosa Luxemburg viu o aspecto revolucionário da situação e
participou vigorosamente do movimento. Para incentivar o apoio às greves, ela escreveu um artigo que foi - previsivelmente - rejeitado pelo
Vorwärts, periódico mantido pela direção do SPD. Ela se dirigiu então ao Neue Zeit, dirigido pelo amigo Kautsky, que elogiu o artigo, mas resolveu não o publicar. Rosa não esperava por isso: sua reação foi agressiva e pessoal, seja nas declarações particulares que fez na época, seja no escrito polêmico A Teoria e a Prática em que atacou Kautsky publicamente. A ligação com o "Papa da Segunda Internacional" estava
rompida. No
congresso de Magdeburg em setembro de 1910, ficou evidente a divisão do SPD em
três facções: os reformistas, os radicais e os centristas (entre os quais
estava Kautsky). A precariedade da situação do partido foi assim descrita por
Schorske:
“Em
que confusão miserável o partido tinha se metido! À direita e à esquerda havia
duas facções dinâmicas cujas posições divergentes tinham sido fortalecidas,
respectivamente, pela esperança de reforma em 1909 e pelo seu colapso em 1910.
De um lado, os revisionistas faziam pressão por reformas social e políticas que
só poderiam ser alcançadas por uma revolução social, devido à vitalidade dos
Junkers e à fraqueza política da classe média. Do outro lado, a esquerda
radical exigia uma tática para preparar as massas para uma revolução social
que, se viesse, traria apenas as reformas políticas almejadas pelos
reformistas.
Entre
essas duas forças centrífugas estava a liderança e o centro, tentando manter um
equilíbrio precário. Eles não podiam abandonar a tradição revolucionária que a
ausência de reformas reforçava em parte da massa de militantes. Nem podiam
preparar seus seguidores para a revolução porque eram prisioneiros dos
sindicatos que representavam os interesses dos trabalhadores na ordem vigente.
Eles seguiram então o único curso aberto: explorar a grande válvula de escape
que Bismarck havia criado para manter o Estado coeso: as eleições para um
Reichstag virtualmente impotente”.
(cf. Nettl, pp. 344-350; Schorske, pp. 146-151;
191-196)
A
teoria e a prática (1910)
excertos
excertos
"Em
Revolução Social [de Kautsky] lemos
a respeito de um período bastante longo de lutas revolucionárias que
adentraremos e nas quais a greve política de massas ‘certamente terá um papel
importante’. Toda a brochura O Caminho do Poder é dedicada à
descrição das mesmas perspectivas. Sim, aqui já entramos no período
revolucionário. Aqui o companheiro Kautsky revisa o ‘testamento político’ de
Friedrich Engels e afirma que a época da ‘estratégia do cansaço’, que
consistiria no aproveitamento legal dos fundamentos estatais dados, já teria
passado:
'No ínicio dos anos 1890 reconheci que um
desenvolvimento tranquilo da organização proletária e da luta de classes
proletária sobre os fundamentos estatais dados faria avançar o proletariado na
situação daquela época. Assim, não será possível jogar-me na cara a necessidade
de intoxicar-me com revolução e com radicalismo quando a observação da situação
atual me leva ao entendimento de que as condições se alteraram fundamentalmente
desde o início dos anos noventa, que todos nós temos motivos para pressupor que
agora teríamos adentrado um período de lutas pelas instituições estatais e pelo
poder central, lutas que, sob variegadas condições alternativas, poderiam
estender-se por décadas, cujas formas e duração ainda são imprevisíveis, mas
que muito provavelmente num curto espaço de tempo já provocarão deslocamentos
substanciais de poder em benefício do proletariado, quando não seu domínio
irrestrito na Europa Ocidental.'
E
mais:
'Nessa insegurança geral, porém, as próximas
tarefas do proletariado estão claramente dadas. Já as desenvolvemos. Ele não
mais avança sem a mudança dos fundamentos estatais, sobre os quais conduz a sua
luta. Perseguir de maneira mais enérgica a democracia no Reich, mas também em
seus Estados individuais, nomeadamente na Prússia e na Saxônia, é a sua próxima
tarefa na Alemanha; sua próxima tarefa internacional é a luta contra a política
mundial e o militarismo.
Tão claros quanto essas tarefas políticas também
estão presentes os meios à nossa disposição para solucioná-los. Àqueles já
empregados até o momento juntou-se, ainda, a greve de massas, que já aceitamos
teoricamente no início dos anos noventa, cujo emprego sob condições favoráveis
foi repetidamente colocado à prova desde então'.
Em
sua Revolução Social e
em O Caminho do Poder, na Neue Zeit, o companheiro
Kautsky pregava a greve política’ como a ‘nova tática’ para os sindicatos
alemães, que seria cada vez mais imperativa diante do fato de que a greve
puramente sindical estaria condenada cada vez mais ao insucesso pelas
associações empresariais.
Agora
o companheiro Kautsky quer separar rigidamente todas as greves econômicas da
ação política, agora explica que todas as greves na Europa Ocidental [precisam]
incondicionalmente atingir ‘sucessos determinados’, senão terão ‘errado o seu fim’,
e entre os meios que ‘organizam o proletariado, elevam sua visão e seu
sentimento de forças, e aumentam a confiança da massa popular em sua
organização’ ele apenas conta com ‘movimentos salariais levados a cabo a
contento’. Agora não precisamos de nada mais urgentemente do que de ‘sucessos
visíveis’ para impressionarmos as massas. ‘Há, porém, poucos sucessos que podem
documentar a nossa força crescente para a massa de maneira tão ilustrativa
quanto a conquista de novos mandatos’. Ou seja, as eleições para o Reichstag e
os mandatos – esses são o Moisés e os profetas!
Agora
ouvimos que o trabalhador alemão só estaria à disposição para manifestações
‘sem risco’, que ‘uma mera greve de protesto seque é a forma mais
impressionante’ de protesto político, que ‘uma eleição vitoriosa para o
Reichstag impressiona muito mais’! E, finalmente, ‘uma verdadeira manifestação
de massas', que deve valer para algo, ‘que não exija defesa imediata, mas
apenas consinta em afirmar um mero protesto contra a injustiça, que já vige há
mais de meio século’, uma tal greve de protesto na Alemanha dificilmente seria
possível ‘sem um forte pretexto’. O companheiro Kaustsky só não notou que com
essa argumentação ele já havia, de passagem, fornecido a mais bela
fundamentação teoria para – a abolição da festa de Primeiro de Maio.
Cheio
de razão o companheiro Kaustsky remete ao seu artigo Tudo que é revolucionário, escrito
‘já antes da Revolução Russa [de 1905]’, em que havia dado uma descrição exata
dos efeitos de uma greve política de massas. Porém, parece-me que o importante
não é apenas descrever lutas revolucionárias e seu desenvolvimento exterior em
uma abstração teórica, por assim dizer em lugar nenhum, desenhar seu esquema
geral, porém se trata, igualmente de oferecer na prática aquelas palavras de
ordem que geram o máximo de energia revolucionária do proletariado, que possam
fazer a situação avançar em maior medida e mais rapidamente. De fato, o
companheiro Kaustsky havia oferecido em seus inúmeros artigos e brochuras , a
imagem das lutas revolucionárias do futuro com clareza imperiosa, contando, por
exemplo, em 1904, ao descrever a greve de massas, como ‘cada casa senhorial,
cada celeiro, cada fábrica, cada linha telegráfica, cada linha de trem seria
militarmente supervisionada’, como os soldados seriam enviados em todo lugar
contra a multidão e, ainda assim, jamais se chegaria a uma batalha, ‘pois aonde
eles chegam a multidão se pulveriza, para juntar-se por todo lado aonde eles
ainda não chegaram ou acabaram de estar’; como primeiramente ‘as companhias de
gás e de eletricidade param de funcionar, os bondes deixam de trafegar e, por
fim, até mesmo o correio e a ferrovia são tomados pela febre grevista; de
início os trabalhadores das oficinas entram em greve, em seguida também os mais
jovens servidores públicos’ – em suma, tudo com uma plástica, vivacidade e um
realismo, que tanto mais admirável é por tratar-se de episódios tirados do
nada. Mas quando pela primeira vez a questão deixou essa enorme altura onde a
teoria voa tranquilamente em círculos como a águia, e chegou à terra plana da
campanha prussiana pelo direito do voto, então repentinamente o governo
prussiano aturdido e desnorteado transformou-se num rochedo de bronze; as
condições alemãs prontas para a revolução social (Viva! Marchem, marchem!) como
O Caminho do Poder narra, transformaram-se em um país imóvel, onde
‘sequer se poderia pensar’ que os trabalhadores das oficinas estatais e os
funcionários públicos, sejam eles mais jovens ou mais antigos, participem de
uma manifestação, e a ‘era revolucionária, que tem início’ transforma-se numa
preparação diligente para as eleições do Reichstag, pois ‘há poucos sucessos
que documentam de maneira tão ilustrativa nossa força perante as massas’ como –
os mandatos do Reichstag.
Teoria
avassaladora – e ‘cansaço’ na prática, perspectivas revolucionárias nas nuvens
– e mandatos do Reichstag como a única perspectiva na realidade. O companheiro
Kaustsky justificou sua campanha contra mim com a necessidade urgente de salvar
a ideia da greve de massas de um comprometimento. Quase temo dizê-lo, teria
sido melhor, tanto para a ideia de greve de massas quanto para o companheiro
Kaustsky, se essa ação de salvamento não tivesse existido".
(Rosa Luxemburg, Textos Escolhidos volume 1, pp.
392-5)
2.
A questão do imperialismo e a ameaça crescente da guerra:
a segunda crise do Marrocos
a segunda crise do Marrocos
“Novas
complicações internacionais surgiram quando em abril de 1911 o governo francês
mandou tropas para Fez, então capital do Marrocos. O governo alemão ameaçou
Paris avisando que não objetaria necessariamente a novos avanços franceses no
Marrocos desde que não interferissem com os interesses alemães no Marrocos
Ocidental e que a França cedesse partes do Congo Francês à Alemanha. Para
forçar o cumprimento de suas exigências, Kiderlen-Wächter [secretário do
Exterior alemão] mandou uma canhoneira – a Pantera – para o Marrocos Ocidental.
Ela ancorou em 1º de julho em Agadir para proteger os interesses alemães. O
assim chamado “salto da Pantera em Agadir” alarmou o mundo, particularmente o
governo britânico, que viu nisso uma ameaça direta de guerra. O gabinete
britânico autorizou o chefe do estado maior, General Henry Wilson, a ir a Paris
e concluir acordos para o transporte e preparação de uma força expedicionária
de 170.000 homens que seriam mobilizados simultaneamente com o exército francês
sob o comando francês. Lloyd George anunciou que a Grã-Bretanha tinha interesse
vital nessa questão e que não toleraria desconsideração pela sua posição nas
reuniões de cúpula da Europa. As palavras finais de seu discurso, segundo as
quais a Grã-Bretanha não aceitaria ‘paz a qualquer preço’ uma vez que ‘seria
uma humilhação intolerável para um grande país como o nosso suportar’, soavam
como um clarim de guerra.
A
posição de Kiderlen-Wächter na negociação com a França enfraqueceu e ele só foi
capaz de assegurar umas poucas concessões úteis em benefício das empresas
alemãs no Marrocos e a cessão de uma faixa do território colonial francês que
deu ao Camarões alemão um pequeno corredor até o Congo. O público alemão, que
sonhava com a conquista do Marrocos Ocidental depois de Agadir, ficou
profundamente desapontado por esses resultados extremamente magros, e
Kiderlen-Wächter se tornou alvo de ataques venenosos e acrimoniosos.
(...)
Por
meio dos acordos navais e militares de 1911-1912, a Entente Anglo-Francesa
assumiu potencialmente o caráter de uma aliança".
(Hajo Holborn, A History of Modern Germany 1840-1945, pp.337-9)
Na ocasião da crise marroquina, Rosa publicou um breve artigo que antecipava as linhas gerais da teoria do imperialismo que ela apresentaria, dois anos depois, em A Acumulação do Capital.
Na ocasião da crise marroquina, Rosa publicou um breve artigo que antecipava as linhas gerais da teoria do imperialismo que ela apresentaria, dois anos depois, em A Acumulação do Capital.
Marrocos (1911)
excertos
excertos
"Uma
tempestade imperialista avançou pelo mundo capitalista. Quatro potências da
Europa – França, Alemanha, Inglaterra e Espanha – estão diretamente envolvidas
em uma negociação que trata, primeiro, do destino do Marrocos e, em seguida, de
diversos grandes domínios da ‘parte negra da terra’, que volta e meia foi
considerada como ‘compensações’. Cada dia traz novidades sobre a situação dessa
negociação –e, com elas, esperanças e preocupações surgem e desaparecem aos
saltos. Será que a tempestade vai produzir o raio de uma guerra homicida entre
dois continentes? Ou será que o temporal iminente vai se recolher, revelando-se
‘apenas’ como a pacífica barganha que transmite alguns retalhos do mundo de um
punho blindado do militarismo ao outro? Essa é a pergunta que, agora, movimenta
milhões de pessoas".
(...)
"Esperar
quaisquer tendências pacifistas dessa sociedade capitalista e apoiar-se
seriamente sobre elas seria, para o proletariado, a autoenganação mais ingênua
à qual ele poderia sucumbir.
Além
disso, na questão marroquina expressam-se nitidamente, outra vez, o nexo íntimo
entre a política mundial e as condições políticas internas dos Estados. (...) O
mais elevado representante eleito do povo alemão, o Parlamento Imperial
[Reichstag], está completamente desligado dos acontecimentos e das decisões
mais importantes e significativas. (...) A monarquia e sua principal
sustentação, a fidalguia conservadora que incita à guerra, são os mais nobres
culpados na aventura marroquina".
(...)
"Não
por menos, porém, ganha espaço, na intervenção audaciosa da diplomacia alemã
nessa negociação marroquina, a força propulsora armamentista e descabida dos
militares e da Marinha. Isso nada mais é do que a insistência brutal sobre os
canhões e navios blindados acumulados há uma década, que supostamente eram
necessários como protetores da paz, e que agora tornam os dirigentes da
política externa alemã tão valentes e belicosos. Esse ‘salto de pantera’ na
política mundial, que, em suas consequências ulteriores para o povo alemão, talvez
tenha algumas consequências mais comprometedoras, devemo-los sobretudo àqueles
partidos burgueses que, por meio de seu apoio, contribuíram diretamente para o
armamento incessante do imperialismo alemão. À frente de todos marcha, com essa
marca sangrenta na testa, o hipócrita Partido de Centro, que, em 1900 utilizou
a questionável duplicação da frota alemã de combate marítimo para tomar as
rédeas como partido governista. Não menos, porém, essa responsabilidade recai
sobre o lamentável liberalismo, cuja derrocada política gradual há um quarto de
século pode ser imediatamente medida pelos enormes empreendimentos militares. A
falha total diante do militarismo ascendente, que pisoteia e pulveriza a
democracia, o parlamentarismo e a reforma social, é o último e lastimável fim
do liberalismo burguês.
No
entanto, justamente pelo fato de a mais recente tomada de curso da política
mundial, assim como sua atual aventura, ser apenas uma consequência lógica de
desenvolvimentos políticos e econômicos internos da sociedade burguesa de
classes, esse curso, como todo o desenvolvimento, tem um lado revolucionário,
que leva para além das lástimas imediatas e de seu fluxo momentâneo condenável.
O sentido histórico do conflito marroquino, remetido à sua expressão mais simples
e tosca, é a luta concorrencial pela decisão sobre qual dos representantes do
capitalismo europeu será o primeiro a poder jogar-se sobre o canto noroeste do
continente africano, para engoli-lo ao modo capitalista – o que, afinal, é o
sentido de cada fragmento do desenvolvimento da política mundial. Mas a Nêmesis
do capitalismo exige que quanto mais ela engula do mundo para prolongar sua
vida, tanto mais ela enterre a sua raiz vital. No momento em que se digna a
introduzir a ‘ordem’ capitalista nas relações primitivas das tribos de pastores
dos lugares mais remotos e nas vilas de pescadores do Marrocos, a ordem por ela
criada já está ruindo em todas as esquinas e pontas de outras partes do mundo,
e as labaredas da revolução incendeiam-se na Turquia, na Pérsia, no México, no
Haiti; silenciosamente, avançam em Portugal, na Espanha, na Rússia. Em todos os
lugares há anarquia, em todo lugar os interesses vitais do povo, as forças do
progresso e do desenvolvimento se rebelam contra a enganação mais desordenada da
ordem capitalista. E, assim, também o mais recente ataque do capital por novas
conquistas torna-se apenas um avanço rumo ao domínio em que o próprio capital
será alcançado pela morte. Por fim, a aventura marroquina será, como qualquer
avanço da política mundial, apenas um passo rumo à aceleração do colapso
capitalista".
(Rosa Luxemburgo, Textos Escolhidos volume 1, pp. 411; 413-415)
*******
Hannah Arendt, Homens em tempos sombrios, Companhia das Letras, São Paulo, 1987 | Gilbert Badia, Le Spartakisme et sa problématique, Annales. Histoire, Sciences Sociales, 21e Année, No. 3 (May - Jun., 1966), pp. 654-667 | Riccardo Bellofiore, Rosa Luxemburg and the Critique of Political Economy, Routledge, Abindgon, New York, 2009 | George Castellan, A propos de Rosa Luxemburg, Revue d'histoire moderne et contemporaine (1954) T.23e, No. 4 (Oct. - Dec,. 1976), pp. 573-582 | Charles F. Elliott, Lenin, Rosa Luxemburg and the dilemma of non-revolutionary proletariat, Midwest Journal of Political Science, vol. IX number 4 november 1965 | Paul Frölich, Rosa Luxemburgo: vida y obra, Editorial Fundamentos, Madrid, 1976 | Norman Geras, A Actualidade de Rosa Luxemburgo, Antídoto, Lisboa, 1978 | J. W. von Goethe, Fausto, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1987 | Daniel Guérin, Rosa Luxemburgo e a espontaneidade revolucionária, Editora Perspectiva, São Paulo, 1982 | Eric J. Hobsbawn (org), História do Marxismo, O Marxismo na época da Segunda Internacional (3 volumes), Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1982, 1984 | Hajo Holborn, A History of Modern Germany 1840-1945, Princeton University Press, Princeton, 1982 | M.C. Howard and J. E. King, A History of Marxian Economics, volume 1 1883-1929, Princeton University Press, New Jersey, 1989 | Leszek Kolakowski, Main Currents of Marxism (3 vol.), Clarendon Press, Oxford, 1978 | Gérard Bensussan, George Labica, Dictionnaire Critique du Marxisme, Quadrige/PUF, Paris, 1999 | Isabel Maria Loureiro, Rosa Luxemburg: os dilemas da ação revolucionária, Editora Unesp, Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2004 | Georg Lukács, Histoire et Conscience de Classe, Les Éditions de Minuit, Paris, Paris, 1976 | Ralph Haswell Lutz, The German Revolution 1918-1919, Cambridge University Press, 1967 | Rosa Luxemburgo, Textos Escolhidos, 3 volumes, Isabel Loureiro (org.), Editora Unesp, São Paulo, 2011 | Rosa Luxemburg, A Acumulação do Capital e Anticrítica, 2 volumes, coleção "Os Economistas", Nova Cultural, São Paulo, 1988 | Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto Comunista, Boitempo, São Paulo, 1998 | J. P. Nettl, Rosa Luxemburgo, Ediciones Era, México, 1974; Rosa Luxemburg, Il Saggiatore, Milano, 1978 | Carl E. Schorske, German Social Democracy 1905-1917, Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts, 2014 | H. Schurer, The Russian Revolution of 1905 and the Origins of German Communism, The Slavonic and East European Review, Vol. 39. N. 93 (Jun. 1961) pp. 459-471
Dois destinos
10 de julho de 2012
A primeira edição
Nenhum comentário:
Postar um comentário