terça-feira, 27 de outubro de 2015

A claraboia e o holofote #29 (XIV)










Uma leitura do Manifesto do Partido Comunista






Rosa Luxemburg


Uma entrevista com Rosa:
o argumento de ponta a ponta




As regras eram claras. Em respeito à Primeira Diretriz Temporal, eu não estava autorizado a fazer nenhuma alusão aos fatos que viriam a ocorrer a partir da data da entrevista –sexta-feira, 3 de janeiro de 1919- logo após o congresso de fundação do KPD. 
A entrevistada dispunha de pouco tempo, pois estava às voltas com a redação de mais um número da Rote Fahne e tentava telefonar – sem sucesso - para sua amiga Marta Rosenbaum. À noite, finalmente Rosa pôde falar comigo, o que a manteve ocupada até altas horas. Embora minhas perguntas se dirigissem especificamente à sua interpretação do Manifesto Comunista, ela não poderia – como era fácil prever –deixar de citar a situação da Rússia bolchevique nem os entreveros com a social-democracia alemã. Apesar do cansaço, Rosa não perdeu a clareza aguda e manteve até o final da conversa aquela combinação de entusiasmo e impaciência que tanto exasperava os burocratas do SPD.
No dia seguinte, o governo socialista majoritário demitiu o chefe de polícia Emil Eichorn, do USPD, que apoiava a esquerda radical. No domingo, começou o Levante Espartaquista. Tive a sorte de pegar o último trem na Lehrter Banhof antes de a estação ser invadida por uma multidão de estudantes e trabalhadores. Na segunda-feira, as matilhas de Frei Korps  foram atiçadas contra os manifestantes. 


*****

O sobrinho de Enesidemo: No seu discurso de dia 31 de dezembro no congresso de fundação do Partido Comunista, a senhora anunciou a retomada da “trama urdida pelo Manifesto Comunista há exatamente setenta anos”. Por que é preciso retomar o comunismo de Marx em 1919?

Rosa Luxemburg: Após as decepções da revolução de 1848, em que Marx e Engels abandonaram o ponto de vista segundo o qual o proletariado se encontrava na situação de poder imediata e diretamente realizar o socialismo, nasceram em todos os países partidos socialistas - social-democratas - que adotaram um ponto de vista inteiramente diferente.

O sobrinho de Enesidemo: Diferente de que maneira?

Rosa Luxemburg: Proclamou-se como tarefa imediata a luta cotidiana no plano econômico e político para, pouco a pouco, formar os exércitos do proletariado, que seriam chamados a realizar o socialismo quando o desenvolvimento socialista tivesse alcançado a maturidade. No caso da Alemanha, até o colapso de 4 de agosto, predominava o Programa de Erfurt em que as chamadas tarefas mínimas urgentes, isto é, aquelas que diziam respeito à conquista de cadeiras no parlamento e às melhorias das condições de trabalho, ficavam em primeiro plano e a instauração do socialismo era transformado, como objetivo final, numa longínqua estrela brilhante.

O sobrinho de Enesidemo: No prefácio a Lutas de Classes na França, Engels disse que, graças à utilização eficaz do sufrágio universal, a ação legal do partido operário passou a ser mais temida que a ação ilegal, ou, em outras palavras, que os êxitos do partido operário nas eleições se tornaram mais ameaçadores do que a rebelião. Isso não é um endosso importante à tática adotada pela social-democracia alemã? 

Rosa Luxemburg: Com o fim das leis antissocialistas no início dos anos 1890, surgiu uma corrente radical de esquerda no seio do movimento operário. Para derrotar esses elementos radicais, Bebel e seus camaradas da fração parlamentar forçaram Engels, que vivia no exterior, a redigir esse prefácio, uma vez que segundo os membros do SPD era absolutamente necessário salvar o movimento operário dos desvios anarquistas. Desde então essa concepção dominou a conduta da social-democracia alemã. Foi a proclamação do parlamentarismo puro e simples.

O sobrinho de Enesidemo: No entanto, o SPD teve um crescimento excepcional.

Rosa Luxemburg: Na Alemanha, durante quatro décadas, tivemos gritantes vitórias parlamentares, caminhávamos literalmente de vitória em vitória. E o resultado na grande prova histórica de 4 de agosto de 1914 foi uma esmagadora derrota política e moral, um colapso inaudito, uma bancarrota sem precedentes.

O sobrinho de Enesidemo: Vamos considerar algumas das objeções que normalmente se fazem à atividade revolucionária. A primeira é a necessidade de conquistar a maioria para uma empreitada tão arriscada; a segunda é aquela mencionada por Engels no Prefácio: a era das barricadas passou e os combates diante de exércitos profissionais e bem-equipados são lutas suicidas.  O que a senhora pensa a respeito?

Rosa Luxemburg: Quanto à questão da maioria, parece-me claro que não se deve esperar pela maioria para fazer a revolução. A maioria deve ser alcançada pela adoção da tática revolucionária e não o inverso. Esse foi o mérito dos bolcheviques na Rússia.
A respeito do exército, é bom lembrar que se trata de uma massa de proletários uniformizados que não está imune à influência socialista. Mas é verdade que, no momento atual, o ponto fraco da causa revolucionária alemã consiste na imaturidade política da massa de soldados, que continuam a deixar-se utilizar por seus oficiais em função de objetivos contrarrevolucionários. O meio rural, de onde provém uma grande porcentagem da massa dos soldados, quase não foi tocado, nem antes nem depois da revolução de novembro.
O mais importante, porém, é entender que a revolução é algo diferente e algo mais do que derramamento de sangue. A forma incipiente das revoluções burguesas, a batalha de barricadas, o encontro aberto com os poderes armados do Estado, é na revolução atual apenas um evento externo, apenas um momento de todo processo de luta proletária de massas. Diferentemente da concepção policial, que apreende a revolução exclusivamente do ponto de vista das manifestações de rua e dos tumultos, isto é, do ponto de vista da “desordem”, o socialismo científico concebe a revolução como uma transformação profunda nas relações sociais de classes.

O sobrinho de Enesidemo: A senhora poderia explicar como vê o processo revolucionário?

Rosa Luxemburg: A revolução é algo magnífico, todo o resto é bobagem. Somente no período revolucionário, em que os fundamentos sociais e os muros da sociedade de classe são sacudidos e se encontram em constante mudança, é que a ação política de classe do proletariado é capaz, em poucas horas, de arrancar da imobilidade camadas do operariado até então inatingidas, o que logo se expressa em uma luta econômica tormentosa. Mas, a revolução, até mesmo quando o proletariado desempenha o seu papel de liderança com o partido operário na direção, não é uma manobra do proletariado em campo aberto, mas uma luta em plena quebra, fragmentação e alteração de todos os fundamentos sociais. Como se viu nas greves de massas na Rússia e 1905, se o elemento espontâneo desempenha um papel tão importante, não é porque o proletariado “não é instruído”, mas porque a revolução não admite instrutores.

O sobrinho de Enesidemo: Se é assim, como se pode liderar um processo revolucionário?

Rosa Luxemburg: Durante uma revolução é bastante difícil para qualquer órgão dirigente do movimento operário prever e calcular qual motivo e quais momentos poderão levar a explosões e quais não. A direção não consiste em comandar voluntariamente, mas em adaptar-se à situação o mais habilmente possível, mantendo o mais estreito contato com o moral das massas.

O sobrinho de Enesidemo: A senhora insiste bastante nas palavras de ordem dirigidas às massas, no entanto, no mesmo ano em que Engels escreveu o Prefácio à Luta de Classes na França, declarando obsoleta as revoluções à moda de 48, Gustave Lebon publicou o seu conhecido livro sobre a Psicologia das Multidões, denunciando o caráter primitivo, sugestionável e irresponsável das massas. A senhora não é excessivamente otimista em relação às massas?

Rosa Luxemburg: È preciso não cair no pessimismo confortável a respeito das massas. Na revolução, onde a massa propriamente dita aparece na praça pública, a consciência de classe se torna prática, ativa. Por isso, um ano de revolução deu ao proletariado russo aquela instrução que trinta anos de luta sindical e parlamentar não puderam dar artificialmente ao proletariado alemão.

O sobrinho de Enesidemo: O que significa, do ponto de vista político, retomar o Manifesto Comunista em 1919?

Rosa Luxemburg: Retomar o Manifesto Comunista é considerar a realização prática do objetivo socialista a tarefa imediata da revolução proletária. Precisamos nos opor à separação entre as reivindicações mínimas imediatas no plano econômico e político e o objetivo final socialista. A finada social-democracia alemã – que Deus a tenha! – precisava avançar entre dois obstáculos: entre a perda de seu caráter de massa e o abandono de seu objetivo final, entre a recaída no estado de seita e a queda do movimento no reformismo burguês. Essa era sua contradição dialética. Retomar o Manifesto Comunista significa unificar a luta cotidiana com a transformação revolucionária, unificar a grande massa do povo com um objetivo que vai além de toda a ordem estabelecida.

O sobrinho de Enesidemo: O que é o socialismo ou objetivo socialista que a senhora mencionou?

Rosa Luxemburg: O socialismo consiste em que a grande massa trabalhadora passa a viver a vida política e econômica na sua totalidade, orientada por uma autodeterminação consciente e livre.

O sobrinho de Enesidemo:  Por qual razão precisamos do socialismo?

Rosa Luxemburg: Porque a alternativa é a barbárie.  Como ficou provado na última guerra, nada seria mais funesto para o próprio proletariado de que alimentar qualquer ilusão, qualquer esperança na possibilidade de um desenvolvimento pacífico e idílico do capitalismo. O ímpeto da expansão imperialista do capitalismo, como expressão de sua maturidade máxima, de seu último período de vida, tem, no plano econômico, a tendência de transformar o mundo inteiro num mundo de produção capitalista, a varrer todas as formas de produção e de sociedades pré-capitalistas, a transformar em capital todas as riquezas e todos os meios de produção, e as massas trabalhadores do povo em todas as zonas em escravos assalariados. Essa brutal marcha triunfal através do mundo, em que o capital abre caminho acompanhado pelo uso da violência, do roubo e da infâmia, teve um lado luminoso: criou as precondições para o seu desaparecimento definitivo, produziu a domesticação mundial capitalista, à qual só pode seguir-se a revolução socialista mundial. Esse foi o único aspecto civilizador e progressista da assim chamada grande obra civilizadora dos países primitivos.
O mundo civilizado havia assistido indiferente ao imperialismo consagrar-se à mais cruel aniquilação de dez mil Harares, quando os gritos enlouquecidos dos que morriam de sede e os estertores dos moribundos encheram o deserto do Kalahari; quando em Putumayo, no espaço de dez anos, quarenta mil homens foram torturados até a morte por um bando de capitães da indústria europeus, e o resto do povo transformado em estropiados... A novidade da última guerra é que, pela primeira vez, as bestas ferozes que a Europa capitalista soltava no resto do mundo irromperam de uma só vez no coração da Europa. Mais uma guerra mundial como essa e as perspectivas do socialismo ficarão enterrada sob as ruínas empilhadas da barbárie imperialista. Aqui o capitalismo mostra sua caveira, aqui ele revela que seu direito histórico à existência acabou, que a continuidade de sua dominação não é mais reconciliável com o progresso da humanidade. O socialismo é a tábua de salvação da humanidade.

O sobrinho de Enesidemo: Durante o congresso do KPD, numerosos militantes, sobretudo os jovens, pareciam convictos de que chegou hora de pegar em armas e, com o apoio da população, fazer um novo governo em catorze dias. É nisso que consiste a prática dos comunistas?

Rosa Luxemburg: Esses jovens pensam: ou metralhadoras ou parlamentarismo. Nós queremos um radicalismo um pouco mais refinado, não apenas este grosseiro “uma coisa ou outra”. Nossa próxima tarefa consiste em formar as massas, pois o que vemos até agora na Alemanha é ainda a imaturidade das massas. Digo ao senhor que foi justamente em virtude da imaturidade das massas, que até agora não souberam levar à vitória o sistema dos conselhos de operários e soldados, que a contrarrevolução erigiu contra nós a Assembleia Nacional como bastião. Agora o nosso caminho passa por esse bastião. As eleições representam um novo instrumento da luta revolucionária, mas os jovens radicais permanecem presos a velhos modelos e não conseguem imaginar a utilização desse meio em sentido revolucionário. A tática deles especula sobre a precipitação dos acontecimentos nas próximas semanas; a nossa encara o caminho ainda longo da educação das massas. Neste momento, o importante é ver qual é o método mais adequado para o objetivo comum de esclarecer as massas.

O sobrinho de Enesidemo: A social-democracia alemã também queria esclarecer as massas...

Rosa Luxemburg: Para os marxistas da escola de Kautsky, educar as massas proletárias de maneira socialista significava fazer-lhes conferências, distribuir panfletos e brochuras. Felizmente foi-se o tempo em que se tratava de ensinar o socialismo ao proletariado. As massas proletárias não precisam de nada disso. Elas são educadas quando passam à ação. A nossa divisa é: no princípio, era a ação.

O sobrinho de Enesidemo: A senhora acaba de participar da fundação de um novo partido político. Parece-me que essa decisão não era consensual entre os espartaquistas. O sr. Leo Jogiches era contrário a isso, mas foi voto vencido na questão. Por que razão é necessário haver um partido comunista? Não seria suficiente a existência dos conselhos de operários e soldados?

Rosa Luxemburg: O proletariado moderno criou a social-democracia para que fosse a portadora da consciência dos objetivos e concatenasse os diferentes fragmentos locais e temporais da luta de classes. Dar palavras de ordem, uma direção à luta, estabelecer a tática da luta política de modo que em cada fase e em cada momento da luta toda a soma do poder existente do proletariado já mobilizado se realize e se expresse na posição de luta do partido, que a tática do partido, pela sua determinação e pelo seu rigor nunca esteja abaixo do nível da verdadeira correlação de forças, mas antecipe essa correlação, eis a tarefa mais importante da direção.
A direção deve a ser bússola, o vetor e o fermento revolucionário do proletariado. A grande revolução alemã unificada deve ser preparada mediante a maturidade política e social das massas proletárias de toda a Alemanha, mediante o avanço do movimento além de seus limites e acasos locais em direção a um objetivo comum, a uma frente de luta comum. Eis a razão pela qual é necessário um partido. Quanto ao Conselho de Trabalhadores e Soldados, é preciso que ele se torne a couraça de bronze que garante ao proletariado todo poder político da sociedade. Isso só acontecerá se no lugar da disposição revolucionária, houver convicção revolucionário, se no lugar do espontâneo, colocar-se o sistemático.

O sobrinho de Enesidemo: Há vinte anos, Bernstein escreveu que havia um dualismo na obra de Marx, “um dualismo que consiste em que a obra pretende ser uma investigação científica, porém procura provar uma tese que está acabada muito antes de sua concepção, ou seja, subjaz a ela um esquema em que o resultado ao qual o desenvolvimento deveria levá-lo estava posto de antemão”. Para Bernstein, a obra de Marx se pretende científica, mas é ideológica, uma vez que suas premissas são carregadas de interesses tendenciosos que diminuem ou invalidam seu valor de verdade.
No mundo de onde venho, essa visão se tornou bastante difundida até mesmo nos meios que ainda se dizem marxistas, razão pela qual boa parte da esquerda passou a buscar uma fundamentação ética à sua posição política, que se expressa geralmente na forma de crítica aos abusos do consumo ou de indignação diante da pobreza e da distribuição injusta de renda.

Rosa Luxemburgo: Naquela época, Bernstein acreditava que o socialismo era apenas um imperativo ético e que a democracia, em seu avanço contínuo, tornava supérflua a luta pelo socialismo. O problema de Bernstein e, em geral, dos dirigentes do SPD, é que lhes falta a visão da totalidade. Eles compreendem os fenômenos da vida econômica não em sua ligação orgânica com o desenvolvimento capitalista como um conjunto e em seu nexo com todo o mecanismo econômico, mas, arrancados desse nexo, em sua existência autônoma, como disjecta membra de uma máquina sem vida. No que esse modo de entendimento, em sua expressão teórica, difere da economia vulgar burguesa?

O sobrinho de Enesidemo: Podemos, portanto, afirmar que, sem o ponto de vista da totalidade, abre-se uma cisão entre o domínio dos fatos, que seria o campo da investigação científica, e o domínio dos valores e dos imperativos morais , como o ideal do socialismo, e que - na visão burguesa de Bernstein - esses domínios deveriam ser mantidos afastados para não comprometer os resultados da ciência nem a pureza dos ideais?

Rosa Luxemburg: Certamente!

O sobrinho de Enesidemo: E estamos autorizados a concluir que essa cisão - típica do pensamento burguês – deve ser superada para que se possa apreender o processo econômico e político como movimento histórico, isto é, como algo determinado pelas posições assumidas pelos sujeitos – os burgueses e os proletários – na luta de classes? É essa dialética histórica que constitui o ponto de vista da totalidade a que a senhora se refere?

Rosa Luxemburg: Essa foi a conquista de Marx. A chave mágica que lhe abriu justamente os segredos mais íntimos de todos os fenômenos capitalistas foi o entendimento de toda a economia capitalista como um fenômeno histórico, e não apenas para trás, como, no melhor dos casos, a economia política clássica o entendia, mas também para a frente, não apenas com vistas ao passado econômico-natural, mas, sobretudo, também com vistas ao futuro socialista. O segredo da teoria de valor de Marx, de sua análise do dinheiro, de sua teoria do capital e, assim, de todo o sistema econômico é a transitoriedade da economia capitalista, o seu colapso, ou seja – e isso é apenas o outro lado – o objetivo final socialista. Justamente e apenas em virtude de Marx, desde o início, ter observado a economia capitalista como socialista, isto é, do ponto de vista histórico foi que ele pôde decifrar os seus hieróglifos; e por fazer da posição socialista o ponto de partida da análise científica da sociedade burguesa é que ele pôde, inversamente, fundamentar cientificamente o socialismo. 

O sobrinho de Enesidemo: Então, do ponto de vista da totalidade, não haveria nenhuma contradição no Manifesto Comunista entre o processo aparentemente automático pelo qual a burguesia engendra seus próprios coveiros, tal como é descrito com tanta vivacidade na seção I, e a necessidade da ação consciente de um partido comunista para orientar o proletariado, tal como é apresentada no início da seção II?

Rosa Luxemburg: De modo algum! O desenvolvimento dialético vivo leva à organização como produto da luta. Por sua vez, a organização deve influir sobre a luta. O partido operário é a vanguarda mais esclarecida, mais consciente do proletariado. Ele não pode esperar, de modo fatalista e de braços cruzados, pela chegada da situação revolucionária, esperar que o movimento popular espontâneo caia do céu. Pelo contrário, ela precisa, como sempre, preceder  o desenvolvimento das coisas, procurar acelerá-las. Não o conseguirá lançando de repente a torto e a direito a palavra de ordem de greve de massas, mas antes explicando às mais amplas camadas do proletariado a irremediável chegada deste período revolucionário, os fatores sociais que a ele conduzem, e suas consequências políticas.

O sobrinho de Enesidemo: A minha época tem uma atitude contraditória no que concerne à vida democrática. Por um lado, a democracia é tida como um valor a ser salvaguardado, mas por outro lado,  a democracia é vista como propensa a excessos, seja o do clamor pela participação popular na discussão de todos os negócios públicos, seja o da busca de autogratificação individual, que culmina com a rejeição da vida pública e da participação política. Por isso, há um número crescente de pessoas que desconfiam do regime democrático.  A senhora, que é reconhecida como defensora da democracia, poderia expor o que pensa a respeito?

Rosa Luxemburg: Já no final do século passado era possível perceber que, uma vez consumada a ascensão da burguesia, a democracia se tornara parcialmente supérflua e um obstáculo à dominação burguesa, embora continuasse e continue necessária e indispensável à classe trabalhadora. As formas democráticas da vida pública em todos os países constituem o mais precioso e indispensável fundamento da política socialista, razão pela qual foi um terrível erro da liderança bolchevique abolir a assembleia constituinte e desprezar a relevância do sufrágio universal. Trotsky chegou a escrever que “o pesado mecanismo das instituições democráticas segue tanto mais dificilmente esse desenvolvimento, quanto maior for o país e mais imperfeito seu aparato técnico.” A verdade, porém, é que o “pesado mecanismo das instituições democráticas” encontra um corretivo poderoso exatamente no movimento vivo e na pressão constante das massas. E quanto mais democrática a instituição, quanto mais viva e forte a pulsação da vida política da massa, tanto mais imediata e precisa é a influência que ela exerce – apesar das etiquetas partidárias rígidas, das listas eleitorais obsoletas etc.
As massas devem conquistar o poder político para preencher o invólucro das liberdades formais com conteúdo social novo. A tarefa histórica do proletariado é instaurar a democracia e não suprimir a democracia.

O sobrinho de Enesidemo: A senhora poderia explicitar seus pontos de desacordo com a liderança bolchevique a respeito do papel da vida democrática?

Rosa Luxemburg: O pressuposto tácito da teoria da ditadura de Lenin-Trotsky é que a transformação socialista seria uma coisa para a qual o partido revolucionário tem no bolso uma receita pronta, que só precisa de energia para ser realizada. Infelizmente não é assim.  O socialismo não vem por decreto. É preciso conquistar o poder por baixo e não por cima. A emancipação da classe trabalhadora deve ser obra da própria classe trabalhadora. A vantagem do socialismo científico sobre o socialismo utópico é mostrar que o sistema social socialista somente pode ser um produto histórico, nascido da própria escola da experiência. Somente uma vida fervilhante e sem entraves chega a mil formas novas, improvisações, mantém a força criadora, corrige ela mesma todos os seus erros. Se a vida pública dos Estados de liberdade limitada é tão medíocre, tão miserável, tão esquemática, tão infecunda, é justamente porque, excluindo a democracia, ela obstrui a fonte viva de toda riqueza e de todo progresso intelectual.

O sobrinho de Enesidemo: Diante dessa concepção vitalista que a senhora assume, seria correto dizer que a política de Lenin seria mecanicista?

Rosa Luxemburg: Essa concepção mecânica de Lenin vem de longe. Quando discuti as ideias dele sobre a organização partidária em 1904, chocava-me sua declaração de que as fábricas preparavam o proletariado para a disciplina e a organização. Ora, essa disciplina e organização, que é a mesma das casernas e dos escritórios da burocracia, é a do Estado burguês centralizado; ela nada tem a ver com a luta emancipatória! É apenas a disciplina de uma massa de braços e pernas sem vontade própria que executa movimentos mecânicos de acordo com a batuta dos mestres.
Hoje Lenin diz que o Estado burguês é um instrumento para oprimir o povo, enquanto o Estado socialista é um instrumento para oprimir a burguesia. Ou seja, o Estado capitalistas de cabeça para baixo. Essa concepção simplista negligencia o essencial: a dominação de classe da burguesia não requer a formação nem a educação política de toda a massa do povo, pelo menos não além de certos limites estreitamente traçados. Para a ditadura proletária, porém, essa educação é o elemento vital, o ar sem o qual ela não pode viver.  
O erro fundamental da teoria de Lenin-Trotsky consiste em opor, exatamente como Kaustsky, a ditadura à democracia. Kaustsky decide naturalmente pela democracia, isto é, pela democracia burguesa, que é a alternativa que propõe à transformação socialista. Em contrapartida, Lenin-Trotsky se decidem pela ditadura em oposição à democracia e, assim, pela ditadura de um punhado de pessoas, isto é, pela ditadura burguesa. São dois polos opostos, ambos igualmente muito afastados da verdadeira política socialista.
Abafando a vida política em todo o país, a vida dos sovietes ficará cada vez mais paralisada. Sem eleições gerais, sem liberdade ilimitada de imprensa e de reunião, sem livre debate de opiniões, a vida em qualquer instituição pública torna-se uma vida aparente em que só a burocracia subsiste como o único elemento ativo.
As tarefas gigantescas que os bolcheviques enfrentam atualmente, com coragem e determinação, exigiriam a mais intensiva formação política das massas e acúmulo de experiências. Liberdade somente para os partidários do governo, somente para os membros do partido, por mais numerosos que sejam, não é liberdade. Liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de modo diferente.


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Nota do entrevistador

As respostas de Rosa Luxemburg são textuais e podem ser encontradas nos seguintes escritos:

Reforma social ou revolução (1899) | Questões de organização da social-democracia russa (1904) | Greve de Massas, partidos e sindicatos (1906) | A crise da social-democracia - brochura Junius (1916) | A Revolução Russa (1918) | O que quer a Liga Spartakus (1918) | Congresso de Fundação do KPD (1919) | O primeiro Congresso (1919) in Rosa Luxemburg, Textos Escolhidos 3 volumes, organizado por Isabel Maria Loureiro, Editora da Unesp, São Paulo, 2011.











sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A claraboia e o holofote #29 (XIII)







Uma leitura do Manifesto do Partido Comunista






Rosa Luxemburg



Rosa na palavra dos outros: antologia 



Vladimir Ilitch Lenin


"Ocorre às vezes que as águias voem mais baixo que as galinhas, mas jamais as galinhas voam na altura das águias. Rosa Luxemburg errou na questão da independência da Polônia; errou, em 1903, na avaliação do menchevismo; errou a sua teoria da acumulação do capital; errou quando, em julho de 1914, ao lado de Plekhanov, Vandervelde, Kautsky, etc., defendeu a unificação de bolcheviques e mencheviques; errou nos seus escritos de prisão de 1918 (por outro lado, ela própria ao sair da prisão no final de 1918 e início de 1919,  corrigiu grande parte de seus erros). Mas, apesar dos seus erros, ela foi e continua a ser uma águia."

(Vladimir Ilitch Lenin, Notes of a Publicist, 1922) 




György Lukács



Fatalismo econômico e nova fundação ética do socialismo estão estreitamente ligados. Não é por acaso que os encontramos igualmente em Bernstein, Tugan-Baranovski e Otto Bauer. E não é apenas pela necessidade de encontrar um substituto subjetivo para a via objetivo da revolução, via que eles mesmo barraram; é também uma consequência do seu individualismo metodológico. A nova fundação “ética” do socialismo é o aspecto subjetivo da ausência da categoria de totalidade, a única capaz de trazer a coesão. Ao Indivíduo - seja capitalista ou proletário - o mundo circundante, o meio social (e a natureza que é seu reflexo ou projeção teórica) aparecem necessariamente como que submetidos a um destino brutal e absurdo, como algo que lhe é por essência eternamente estranho.  Este mundo não pode ser compreendido por ele a não ser que, na teoria, adquira a forma de ‘leis eternas da natureza’, isto é, adquira uma racionalidade estranha ao homem, incapaz de ser influenciada ou penetrada pelas possibilidades de ação do indivíduo, de maneira que o indivíduo adota a esse respeito uma atitude  puramente contemplativa. Um mundo assim só oferece duas vias possíveis de ação, de transformação do mundo. A primeira é a utilização para certas finalidades humanas (a técnica por exemplo) de ‘leis’ imutáveis, aceitas com fatalismo e conhecidas pelo modo já indicado. A segunda é a ação dirigida puramente para o interior, a tentativa de realizar a transformação do mundo pelo único ponto do mundo que permanece livre, pelo homem (a ética). Mas como a mecanização o mundo mecaniza necessariamente também seu sujeito - o homem -, esta ética permanece igualmente abstrata, exclusivamente normativa, e não realmente ativa e criadora de objetos, mesmo em relação à totalidade do homem isolado do mundo. Ela permanece um simples dever-ser: ela tem apenas o caráter de um imperativo. A ligação metodológica entre a Crítica da Razão Pura e a Crítica da Razão Prática de Kant é uma ligação obrigatória e inelutável. E todo ‘marxista’ que abandonou a consideração da totalidade do processo histórico, o método de Hegel-Marx, no estudo da realidade econômica e social, para se aproximar de uma maneira ou de outra da consideração ‘crítica’ [na acepção kantiana] do método não-histórico de uma ciência particular em busca de ‘leis’, deve – uma vez que se dedique ao problema da ação – voltar necessariamente à ética abstrata da escola kantiana.

Ora, quando se desloca o ponto de vista da totalidade, desloca-se a unidade da teoria e da prática. Porque a ação, a práxis, nas quais Marx fez culminar as Teses sobre Feuerbach, implicam essencialmente uma penetração, uma transformação da realidade. Mas a realidade não pode ser apreendida e penetrada a não ser como totalidade, e somente um sujeito que seja ele mesmo uma totalidade é capaz desta penetração. Não é por outra razão que o jovem Hegel coloca como primeira exigência de sua filosofia o princípio segundo o qual ‘o verdadeiro deve ser apreendido e expresso não apenas como substância mas igualmente como sujeito’. Ele desmascarou assim a falta mais grave, o limite derradeiro da filosofia clássica alemã, embora o cumprimento real desta exigência tenha sido recusado à sua própria filosofia; esta permaneceu prisioneira em vários aspectos dos mesmos limites que a dos seus predecessores. Foi somente a Marx que coube descobrir concretamente este ‘verdadeiro como sujeito’ e de estabelecer assim a unidade da teoria e da prática, centrando em e limitando à realidade do processo histórico a efetivação da totalidade assim reconhecida e determinando a totalidade cognoscente e aquela a ser conhecida. A superioridade metodológica e científica do ponto de vista da classe (por oposição àquela do indivíduo) foi esclarecida no que precede.  Agora é o fundamento desta superioridade que também se torna claro: somente a classe pode, por sua ação, penetrar na realidade social e transformá-la em sua totalidade.  Eis porque, considerando a totalidade, a ‘crítica’ que se exerce a partir deste ponto de vista é a unidade dialética da teoria e da práxis. Ela é, numa unidade indissolúvel, ao mesmo tempo o fundamento e a consequência, o reflexo e o motor do processo histórico dialético. O proletariado, sujeito do pensamento da sociedade, desloca com um só golpe o dilema da impotência, isto é, o dilema entre o fatalismo das leis puras e a ética das intenções puras.

Logo, se para o marxismo o conhecimento do caráter historicamente limitado do capitalismo (o problema da acumulação) se torna uma questão vital, é porque apenas essa ligação, a unidade da teoria e da prática, tem o poder de manifestar como fundamentada a necessidade da revolução social, da transformação total da totalidade da sociedade.
(...)
A consciência de classe do proletariado, que é a verdade do proletariado como ‘sujeito’, não é, porém, de nenhuma maneira estável, sempre semelhante a si mesma nem está em movimento segundo leis mecânicas. Ela é a consciência do processo dialético mesmo: ele é igualmente um conceito dialético. Porque o aspecto prático, ativo, da consciência de classe, sua essência verdadeira, somente pode se tornar visível na sua forma autêntica quando o processo histórico exige imperiosamente sua entrada em vigor, quando uma crise aguda da economia a conduz à ação. Caso contrário ela permanece, de maneira correspondente à crise permanente e latente do capitalismo, teórica e latente: ela coloca suas exigências às questões e lutas particulares cotidianas como ‘simples’ consciência, como ‘soma ideal’, segundo a expressão de Rosa Luxembourg.

Contudo, na unidade dialética da teoria e da práxis, que Marx reconheceu e tornou consciente na luta emancipatória do proletariado, não pode haver simples consciência, nem como ‘pura’ teoria nem como simples exigência, dever ou simples norma de ação. A exigência tem também a sua realidade. Quer dizer que o nível do processo histórico que imprime à consciência de classe do proletariado um caráter de exigência, um caráter ‘latente e teórico’, deve se fazer realidade de modo correspondente e intervir como agente na totalidade do processo. Esta forma da consciência da luta proletária é o partido. Não é por acaso que Rosa Luxemburg, que reconheceu mais cedo e mais claramente que muitos outros o caráter essencialmente espontâneo das ações revolucionárias da massa (sublinhando assim um outro aspecto desta constatação anterior, segundo a qual as ações são produtos necessários de um processo econômico necessário), viu de maneira clara, igualmente antes de muito outros, o papel do partido na revolução. Para os vulgarizadores mecanicistas, o partido era uma simples forma de organização, e o movimento das massas, inclusive a revolução, era somente um problema de organização. Rosa Luxemburg reconheceu cedo que a organização é muito mais uma consequência do que uma condição prévia do processo revolucionário, da mesma maneira que o próprio proletariado somente pode se constituir como classe no e pelo processo. Neste processo, que o partido não pode nem provocar nem evitar, cabe-lhe o papel de ser o portador da consciência de classe do proletariado, a consciência de sua missão histórica. Enquanto a atitude aparentemente mais ativa e em todo caso mais realista para um observador superficial, que atribui ao partido, antes de tudo ou exclusivamente, tarefas de organização, fica encurralada, diante do fato da revolução, a uma posição de fatalismo inconsistente, a concepção de Rosa Luxemburg é a fonte da verdade atividade revolucionária. Se o partido tem por preocupação ‘que cada fase e em cada momento da luta a soma total da potência presente e já engajada, ativa, do proletariado se efetive e se exprima em uma posição de combate do partido; que a tática da social-democracia não esteja jamais, em resolução e perspicácia, abaixo do nível efetivo das relações de forças, mas vá adiante dessa relação’, enquanto o partido transforma, no momento agudo da revolução, seu caráter de exigência em realidade que age, porque ele faz penetrar no movimento de massas espontâneo a verdade que lhe é imanente. Ele eleva a necessidade econômica de sua origem à liberdade da ação consciente. Esta passagem da exigência à realidade se torna o fermento da organização verdadeiramente revolucionária, verdadeiramente conforme à classe do proletariado. O conhecimento se torna ação, a teoria se torna palavra de ordem, a massa que age segundo a palavra de ordem se incorpora cada vez mais fortemente, conscientemente e firmemente às fileiras da vanguarda organizada. As palavras de ordem corretas dão nascimento de maneira orgânica às condições e possibilidades de organização do proletariado em luta.
(...)
A unidade da vitória e da derrota, do destino individual e do processo conjunto constituíram o fio diretor da teoria de Rosa Luxemburg e de sua conduta: é o sinal da unidade da teoria com a prática em sua obra e em sua vida. (...)  Sua morte, obra de seus adversários mais profundos e encarniçados, Scheidemann e Noske, é o coroamento lógico de seu pensamento e de sua vida. Ela ficou perto das massas no momento de sua derrota na insurreição de Janeiro (claramente prevista no domínio da teoria há muito tempo e, no domínio da prática, no instante da ação) e ela partilhou sua sorte; trata-se de uma consequência tão lógica da unidade da teoria e da práxis na sua ação quanto o ódio mortal que, de maneira igualmente coerente, lhe votavam seus assassinos, os oportunistas social-democratas”.

(György Lukács, Rosa Luxembourg, marxiste [1921] in Histoire et Conscience de Classe, 1976)






J. P. Nettl


"A história da longa controvérsia pela herança espiritual e política de Rosa Luxemburg é ela mesma uma história feita de distorções. A verdade é bastante simples. Marx legou duas grandes alternativas, uma primária, outra derivada. A primária dizia respeito ao caráter da revolução: era formal ou real, objetiva ou subjetiva, um acontecimento que se produzia ou, ao invés, um que deveria ser feito? (Essas eram as posições extremas, com infinitas variações possíveis entre uma e outra). A ruptura irreparável, que transformou a possibilidade em alternativas inconciliáveis, se produziu em 1910: Kautsky e Rosa Luxemburg sustentaram duas posições contrapostas. (A controvérsia revisionista dizia respeito ao “como”, não a “o quê”; um pequeno presente, não um grande futuro; era uma batalha de segunda ordem). Desta primeira ruptura derivava a segunda alternativa: os socialistas faziam a revolução ou a guiavam? A Revolução de Outubro impediu o surgimento de posições intermediárias e conduziu imediatamente a uma nova ruptura. A morte impediu Rosa Luxemburg de colocar-se como dirigente de uma alternativa marxista revolucionária. No entanto, este papel pertencia a ela por direito – não a Trotsky ou algum dos outros que mais tarde saíram da coletividade bolchevista, mas a ela, a mulher impetuosa, a eterna estrangeira, que pertencia a tantos socialismos e a nenhum.  Somente Rosa Luxemburg participou ativamente nas duas grandes cisões do marxismo moderno e contribuiu para realizá-las. Este é o lugar que ela ocupa na história e o motivo deste livro".

(J. P. Nettl, Rosa Luxemburg [1966], 1978)





Hannah Arent



Será que o fracasso de todos os seus esforços, no que se refere ao reconhecimento oficial está de algum modo ligado ao fracasso da revolução em nosso século?

Embora a revolução fosse para ela tão próxima e real como para Lenin, não a colocava como um artigo de fé, como tampouco o marxismo.

Isso evidentemente significa admitir que ela não era uma marxista ortodoxa e, de fato tão pouco ortodoxa que até se pode perguntar se, afinal era marxista.

O ponto principal é que ela aprendera com os conselhos operários revolucionários que ‘a boa organização não precede a ação, mas é seu produto’, que ‘a organização da ação revolucionária pode e deve ser aprendida na própria revolução, assim como só se pode aprender a nadar na água’, que as revoluções não são ‘feitas’ por ninguém, mas irrompem ‘espontaneamente’ e que a ‘pressão para a ação’ sempre vem de baixo.

Além disso, seria contra seu feitio encarar a revolução como beneficiária da guerra e do massacre – coisa que não incomodava minimamente Lenin. E quanto à questão da organização, ela não acreditava numa vitória onde o povo em geral não tomasse parte ou não tivesse voz; na verdade, acreditava tão pouco em tomar o poder a qualquer preço que ‘tinha muito mais medo de uma revolução deformada do que de uma fracassada’ – esta era, de fato, ‘a grande diferença entre ela’ e os bolcheviques.

(Hannah Arendt, “Rosa Luxemburg 1871-1919 [1966] in Homens em Tempos Sombrios, 1987)




Gilbert Badia

De qualquer maneira, não se deve rejeitar a hipótese de que o fracasso parcial da revolução de novembro [de 1918], e as condições do esmagamento do Spartakismo (a aliança dos socialistas majoritários com o Estado-Maior) tornaram possíveis, a longo prazo, o nascimento do Nacional-Socialismo e pesaram muito na orientação da futura república de Weimar, o que explica em parte o fim deste regime”.

(Gilbert Badia, Le Spartakisme et as problématique in Annales Économies, Sociétés, Civilizations, 1966)



Lelio Basso



A obra de Rosa Luxemburg consiste propriamente no esforço de introduzir o método dialético de Marx na vida da luta de classes, de fazer dele não somente um método para a interpretação da história e a análise da sociedade presente, mas um método aplicado também para fazer a história, isto é, aplicado às ações das grandes massas e à construção consciente do futuro. Como poucos outros marxistas, ela sentia a realidade e a história de um modo dialético e, como viria ela mesma a escrever, concebia a dialética histórica como ‘a rocha sobre a qual se apoiava toda a doutrina do socialismo marxista’ ou também como ‘o modo específico de pensar do proletariado consciente’, ‘ a arma intelectual com a qual o proletariado, ainda subjugado materialmente, vence a burguesia dando-lhe a demonstração da sua transitoriedade histórica, mostrando a inevitabilidade de sua própria vitória, atuando até a hora da revolução no reino do espírito’. Em outras palavras, era graças ao pensamento dialético que Rosa Luxemburgo via o futuro socialista já no presente capitalista; isto significava reunir os aspectos contraditórios mas indissolúveis da realidade de hoje, ver o processo histórico, que surgia daquela contraditoriedade e dar-se conta de que a verdadeira essência de cada momento aparece apenas se consideramos aquele momento inserido na continuidade histórica. (...)

O ponto de vista da totalidade é o ponto de vista no qual Rosa Luxemburg sempre se coloca na consideração de qualquer fenômeno e de qualquer acontecimento, precisamente aquele ponto de vista que Lukács, de resto sob a influência luxemburguiana, considera o essencial do método marxista. Uso naturalmente a palavra totalidade no sentido lukácsiano, ou, para ser mais exato, marxista-luxemburguiano, de totalidade concreta, de um complexo orgânico de relações, no qual cada coisa é referida ao todo e o todo predomina sobre a parte, mas, naturalmente, não um todo fixo, estático e imutável, mas antes um todo que está ele mesmo em transformação contínua. Por isso toda separação entre política, economia, direito, moral, etc. é arbitrária na medida em que se trata de faces diversas do mesmo processo unitário (faces que se podem distinguir como tais, mas que não podem ser separadas de maneira abstrata), assim como é arbitrária toda separação nítida de período e de fases diversas no processo histórico na medida que cada uma compreende em si a raiz dos desenvolvimentos sucessivos e a razão da sua própria superação, como é arbitrária a interpretação de mão única de fatos avulsos, isolados da totalidade do real, como se cada fato, cada ação, cada movimento, cada fenômeno não fosse um elo de uma corrente infinita de ações e reações recíprocas.”

(Lelio Basso, Introduzione a ‘Scritti Politici di Rosa Luxemburg’, 1967)







Norman Geras


A tentação do (ou propensão para o) fatalismo econômico, se é que existe, não se pode confinar aos escritos anteriores à Guerra, tal como não pode ficar limitada à Acumulação do Capital. A ruptura entre essa tentação, por um lado, e a política revolucionária ativista, por outro, essa ruptura, se é que existe de todo, atravessa toda a vida e toda a obra de Rosa Luxemburg duma ponta à outra, sob a forma de uma contradição lógica. Contudo, o ponto da questão é que tanto um como a outra não existem, e esse ponto salta à vista se, na fórmula ‘socialismo ou barbárie’, atendemos no conteúdo da alternativa ao socialismo mais do que ao princípio formal de haver uma alternativa, pois o que então se torna patente é que a ideia do colapso inevitável do capitalismo e a ideia do socialismo ou barbárie, as duas ideias que Nettl e Lowy – e mais geralmente a literatura sobre Rosa Luxemburg – consideram contraditórias, contrapondo-as uma à outra como representantes, respectivamente, do fatalismo e do ativismo – é que estas duas ideias, muito ao contrário de serem contraditórias, não são sequer diferentes. São uma e a mesma ideia. Para Luxemburg, a ‘barbárie’ significa nem mais nem menos do que o colapso do capitalismo.

A equivalência da barbárie e do colapso do capitalismo arrasta consigo que tanto a primeira como o segundo são produtos necessários e inevitáveis das contradições econômicas e que o que é necessário não é o socialismo, mas a barbárie, conclusão que pode parecer paradoxal num marxista revolucionário se a utilizarmos para sugerir a impossibilidade do socialismo. Contudo, o paradoxo desaparece se concebermos o colapso do capitalismo como um processo cuja forma e cujo resultado final são, como tanto um como a outra, uma espécie de barbárie, que era como Rosa concebia esse colapso. Nessas circunstâncias, embora o processo seja realmente inevitável, permanece em aberto a questão de se saber se se deixará que ele siga o seu curso até às últimas e bárbaras consequências ou se, por outro lado, tal processo será detido nos seus estágios iniciais pela intervenção política consciente da classe operária, que impedirá a catástrofe iminente, abolindo as contradições que a ela conduzem e criando uma sociedade socialista. Para Rosa, contudo, o que a inevitabilidade do colapso capitalista prova é, não a redundância, mas a indispensabilidade urgente da luta revolucionária consciente por parte da classe operária. É por força dessa inevitabilidade, e não apesar dela, que tal luta é necessária. É também por causa dessa inevitabilidade que Rosa pode falar com propriedade de haver uma alternativa para o socialismo. Pois que outra coisa pode ser essa alternativa, que não seja a catástrofe?  A indefinida sobrevivência do capitalismo? Alguma nova forma de dominação de classe? Não há uma única linha na sua obra que indique que ela aceitasse em tais possibilidades.

Se é verdade que ela aderia a uma teoria do colapso do capitalismo que, em última análise, se baseava na postulação de desequilíbrios puramente econômicos e que, nesse sentido era economicista, também é verdade que que tal não servia de trampolim para o que vulgarmente se considera ser o ‘economicismo’: o menosprezo ou a subestimação da teoria e da luta ideológica da organização e da direção políticas, a fé acrítica no poder da ‘espontaneidade’, etc. E não servia de trampolim porque não podia servir, pois o colapso do capitalismo e a construção do socialismo não se identificavam um com a outra no espírito de Rosa. ‘Deixado a si próprio’, o capitalismo em colapso não poderia tornar-se uma autêntica sociedade socialista com mais facilidade do que um pedaço de terra abandonado e desprezado poderia se tornar um campo de trigo. O capitalismo não pode tornar-se socialismo apenas pela dinâmica das leis econômicas. Apenas propiciava algumas condições prévias e uma ameaça e seria necessária uma iniciativa concertada por parte do agente histórico para utilizar corretamente as primeiras e evitar a segunda.

(Norman Geras, A Barbárie e o Colapso do Capitalismo [1973] in A Actualidade de Rosa Luxemburgo, 1978)




Oskar Negt


"Espontaneidade e organização não estão em uma relação exterior entre si, mas contém uma dialética imanente própria; quando se tenta isolar uma da outra, ou estabelecer entre elas uma identidade superficial, o resultado é que, em seu movimento histórico, elas podem se transformar no seu contrário. Se a organização proletária se afasta das massas (o que não equivale ao fato de perder membros ou votos), quase inevitavelmente isso dá margem a ações espontâneas dos operários, que podem também se voltar contra ela; se a espontaneidade se afasta da força organizativa da classe operária, recai no fetichismo organizativo de grupos sectários ou no mecanismo das posições de protesto, que irrompem e logo se apagam, dos grupos que não estão dispostos e não são capazes de assumir os esforços de um trabalho teórico de longa duração, nem os esforços de um trabalho prático-organizativo. Durante sua vida, Rosa Luxemburg conduziu uma luta decidida em duas direções: contra o oportunismo burocrático e contra as estratégias sectárias que levam ao isolamento das massas. Não obstante, é-lhe inteiramente estranha a mentalidade de aparelho e o medo próprio às organizações constituídas segundo o modelo da estrutura hierárquica da associação burguesa, que vê uma ameaça em toda ação não controlada ou não empreendida pelo partido; sua confiança na capacidade de experiência das massas implica a convicção de que as massas estão em condições de corrigir seus próprios erros. ‘Os passos falsos que realiza o movimento operário revolucionário real são, no plano histórico, incomensuravelmente mais fecundos e mais preciosos que o melhor comitê central’.
(...)
Rosa Luxemburg concebe o partido não como uma instituição rígida, único centro ativo do processo revolucionário, mas como um processo em que são preservadas, tornadas conscientes e desenvolvidas as experiências coletivas e as múltiplas tentativas de organização da classe operária, e, com a ajuda da dialética materialista, orientadas para o objetivo final. ‘Organizaçao, clarificação e luta não são aqui momentos divididos, mecanicamente e temporalmente separados como um movimento blanquista’, elas formam antes uma unidade contraditória, aspectos diversos do mesmo processo de dialético, Não se pode transformar Rosa Luxemburg, como muitos tentaram fazer, numa iluminista idealista que acha possível superar a sociedade classista com a simples convicção; todavia, o páthos do iluminismo imprime um caráter tão forte ao seu pensamento que é perceptível até mesmo nas questões de organização: assim, para ela, a luta contra o oportunismo no partido proletário e nos sindicatos é essencialmente uma luta intelectual, que não pode ser decidida com medidas organizativas.
(...)
O fundamento da visão da totalidade, em Rosa Luxemburg, não é nem uma imaginária substância de classe (por exemplo, o proletariado como sujeito histórico), nem uma organização, mas a própria classe operária ou, mais exatamente, uma esfera pública proletária, diante da qual se deve demonstrar, antes de mais nada, qual a teoria e qual organização é ou não adequada às experiências que nela tomam forma. Nos escritos de Rosa Luxemburg há muitas referências ao fato de que ela concebe a esfera pública proletária – embora, ao que me conste, não use explicitamente tal conceito – como uma categoria da experiência política e da formação da consciência de classe. Essa esfera pública proletária – apenas no interior da qual as derrotas, as deformações e os erros podem se transformar em juízos construtivos e em experiência que faz avançar – caracteriza-se pelo fato de que não conhece o mecanismo de exclusão, típico da esfera pública burguesa, mediante o qual se excluem dos interesses públicos, enquanto privadas, tanto algumas esferas essenciais da vida quanto esferas como a da produção e da socialização (da educação). (...) A esfera pública proletária, que não pode ser apreendida precisamente no sentido empírico, que não indica um simples quadro das opiniões do proletariado, mas tampouco representa a mais alta instância organizativa, designando antes o centro de um processo dirigido à produção de experiências, parece ter sido a única real instância decisória que Rosa reconheceu: ela não pode ser definida, mas determina o conteúdo da realidade da luta de classes do proletariado. A teoria de Rosa Luxemburg, que se propõe penetrar toda as esferas substanciais da vida da sociedade, não deixa espaço que não seja ocupado pela vontade de mudança do proletariado.
(...)
A classe burguesa pode manipular a espontaneidade, pode criar pretextos para mobilizar as massas, pode levar o novo ao mercado para fazer propaganda dos produtos; mas, no interior de uma opinião pública proletária, este momento significa algo qualitativamente diverso. Quando Rosa Luxemburg afirma que ‘a liberdade é sempre e somente a liberdade de quem pensa de modo diferente’, sua asserção não é um retorno ao liberalismo, mas um elemento, uma parte constitutiva vital de uma opinião pública proletária, que não pode se limitar a reproduzir e a aclamar decisões, programas dados, orientações de pensamento estabelecidas. Não se pode eliminar do mundo o ‘outro’ com a simples violência; ele indica antes as resistências, a gravidade das relações materiais, com as quais toda teoria marxista deve se confrontar, se não quiser cair em uma ontologia inteiramente abstraída dessas relações, ou em uma correção idealista do sistema, no qual se possa subsumir somente o homônimo, no qual predomine o princípio da unificação”.

(Oskar Negt, Rosa Luxemburg e a renovação do marxismo in História do Marxismo [1979], O marxismo na época da Segunda Internacional – Segunda Parte, 1984)




Slavoj Žižek


A grandeza de Lenin residiu em, nessa situação catastrófica, não ter medo de triunfar – em contraste com o páthos negativo discernível em Rosa Luxemburg e Adorno, para quem o ato autêntico em última instância era a admissão do fracasso que traz à luz a verdade da situação”.

(Slavoj Žižek, Entre duas revoluções [2002], Prefácio de Às Portas da Revolução – escritos de Lenin de 1917 , 2005)




Isabel Maria Loureiro



"Rosa fica continuamente enredada na mesma teia: como é possível  assegurar um futuro emancipado com um sujeito histórico alienado? Ou, em outras palavras, de que modo fazer os escravos desejarem a liberdade? Recusar as massas reais significaria cair no mais arbitrário vanguardismo, eficiente como Realpolitik, mas de resultados desastrosos como política emancipadora. Donde um pé na canoa da necessidade histórica - garantia da vitória contra ventos e marés - e outro na da atividade da massa popular, oscilante, submetida aos caprichos da fortuna. Para forçar a fortuna a favor dos revolucionários é essencial o trabalho infatigável do Aufklärer, aliado à necessidade histórica, a chamar à razão as forças emancipadoras passageiramente iludidas. (...)

Deste ponto de vista, não há oposição entre revolução como processo lento e como insurreição armada. Tanto que, nos meses de novembro-janeiro, defende simultaneamente uma tática radical quando apela às massas e outra moderada ao dirigir-se às bases esquerdistas do recém-fundado KPD.  Em outras palavras, vemos conviver a teórica marxista, para quem o momento da ruptura revolucionária está relacionado a um complexo conjunto de fatores, impossível de determinar com precisão, e a agitadora, querendo criar condições para tornar possível a ruptura. Sob esse aspecto, talvez sua tática possa ser caracterizada como ‘voluntarista’.

Tal ‘voluntarismo’, entretanto, não se fundaria, como pretendem certos autores, numa concepção fatalista da história, mesmo porque dificilmente se pode caracterizar sua concepção de história como fatalista ou mesmo determinista. Ela navegou a vida inteira entre dois escolhos, procurando insistentemente manter unidos os dois polos da teoria revolucionária ou, dito de outro modo, mostrando de que modo se dá a intervenção revolucionária no processo evolutivo da história.

Essa unidade é elaborada, já na juventude, quando explica que tanto Marx quanto Lassalle adotam a concepção materialista da história, embora com ênfases diferentes: enquanto para Marx os homens fazem a história, mas não arbitrariamente, para Lassalle, os homens não fazem arbitrariamente a história, mas fazem-na eles mesmos. Ambos têm razão. Marx, para longos períodos de tempo, em que as condições objetivas determinam fundamentalmente a ação subjetiva. Lassalle, para curtos períodos, quando é essencial instigar a vontade das massas, levando-as a agir.

A ‘ação audaz’, a ‘decisão individual’, isto é, a ‘política prática’, num espaço de tempo breve, vale mais que a consideração das leis da história. Mas, simultaneamente, elas não podem ser ignoradas, sob pena de cair no aventureirismo”.

(Isabel Maria Loureiro, Rosa Luxemburg: os dilemas da ação revolucionária [1995], 2004)





Foto: Santa Fabiola:  instalação de Francis Alÿs, Pinacoteca do Estado, São Paulo, 2013



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Hannah Arendt, Homens em tempos sombrios, Companhia das Letras, São Paulo, 1987  |  Gilbert Badia, Le Spartakisme et sa problématique, Annales. Histoire, Sciences Sociales, 21e Année, No. 3 (May - Jun., 1966), pp. 654-667  |  Lelio Basso, Scritti Politici di Rosa Luxemburg, Introduzione, 1967  |  Riccardo Bellofiore, Rosa Luxemburg and the Critique of Political Economy, Routledge, Abindgon, New York, 2009  | George Castellan, A propos de Rosa Luxemburg, Revue d'histoire moderne et contemporaine (1954) T.23e, No. 4 (Oct. - Dec,. 1976), pp. 573-582  |  Charles F. Elliott, Lenin, Rosa Luxemburg and the dilemma of non-revolutionary proletariat, Midwest Journal of Political Science, vol. IX number 4 november 1965  |  Paul Frölich, Rosa Luxemburgo: vida y obra, Editorial Fundamentos, Madrid, 1976 | Norman Geras, A Actualidade de Rosa Luxemburgo, AntídotoLisboa 1978  |  J. W. von Goethe, Fausto, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1987  |  Daniel Guérin, Rosa Luxemburgo e a espontaneidade revolucionária, Editora Perspectiva, São Paulo, 1982  | Eric J. Hobsbawn (org), História do Marxismo, O Marxismo na época da Segunda Internacional (3 volumes), Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1982, 1984  |  Hajo Holborn, A History of Modern Germany 1840-1945, Princeton University Press, Princeton, 1982 | M.C. Howard and J. E. King, A History of Marxian Economics, volume 1 1883-1929, Princeton University Press, New Jersey, 1989  |  Leszek Kolakowski, Main Currents of Marxism (3 vol.), Clarendon Press, Oxford, 1978 | Gérard Bensussan, George Labica, Dictionnaire Critique du Marxisme, Quadrige/PUF, Paris, 1999 | Vladimir Ilitch Lenin, Notes of a Publicist, 1922  |  Isabel Maria Loureiro, Rosa Luxemburg: os dilemas da ação revolucionária, Editora Unesp, Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2004  |  Georg Lukács, Histoire et Conscience de Classe, Les Éditions de Minuit, Paris, Paris, 1976  | Ralph Haswell Lutz, The German Revolution 1918-1919, Cambridge University Press, 1967  |  Rosa Luxemburgo, Textos Escolhidos, 3 volumes, Isabel Loureiro (org.), Editora Unesp, São Paulo, 2011  |  Rosa Luxemburg, A Acumulação do Capital e Anticrítica, 2 volumes, coleção "Os Economistas", Nova Cultural, São Paulo, 1988  |  Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto Comunista, Boitempo, São Paulo, 1998  |  J. P. Nettl, Rosa Luxemburgo, Ediciones Era, México, 1974; Rosa Luxemburg, Il Saggiatore, Milano, 1978 |  Carl E. Schorske, German Social Democracy 1905-1917, Harvard University Press, Cambridge, Massachusetts, 2014 | H. Schurer, The Russian Revolution of 1905 and the Origins of German CommunismThe Slavonic and East European Review, Vol. 39. N. 93 (Jun. 1961) pp. 459-471  |  Slavoj Zizek, Às Portas da Revolução - escritos de Lenin de 1917, Boitempo, São Paulo, 2005




Ein Marxist hat nicht das Recht, Pessimist zu sein.  


Die Befreiung der Arbeiterklasse muß das Werk der Arbeiterklasse selbst sein.