quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Lúgubre isla me alumbrará continental #5








L I M A



Breves notas do caderno de turista


Buenos para el malo - assim define os peruanos um taxista que nos leva ao hotel, sem perceber que descreve toda a espécie humana. Eu lhe respondo que todos os povos dão um sólido contributo ao ridículo das nações. 
Uma névoa pesada, cinzenta e morna cobre a cidade. Estamos em Lima.

* * *

Ao longo da Calle Berlin, ficamos indecisos entre a comida chifa, os piqueos, os sanguches, os tequeños, os anticuchos, os ceviches, os tacu-tacus, os adobos, as causas, os choclos, os rocotos rellenos, os chicharrones, os lomos saltados, os ají de gallina.
Num hipermercado da avenida José Pardo, tunas, saucos, paltas, lúcumas, granadillas, chirimoyas, aguajes e aguaymantos são as frutas que colho, entre assonâncias e aliterações.
No Museu Nacional de Arqueologia, Antropologia e História, no Museu de Arte de Lima, no Amano  e no Larco, passeamos entre chavíns, cupisniques, pucarás, vicús, moches, casmas, nascas, paracas, waris, sicáns, chimús, chancays, chiribayas, chachapoyas e incas.
Com a gula dos que viajam para verificar se os cartógrafos não mentiram o endereço dos deuses, vamos arrancando a esta terra peruana sua crosta mais fina até que a polpa nos conceda, senão a carne, ao menos o sumo farto das cores e nomes das criaturas.

* * *
Depois de compridas caminhadas pelo malecón até Barranco, de onde víamos o sol indolente afundar no Pacífico para alumbrar outras lúgubres ilhas continentais, passávamos muito tempo aspirando o perfume do café e das páginas impressas da livraria Virrey - em mais uma rua que homenageia o coronel Bolognesi-, esquecidos, Ludmila e eu, dos avisos de terremoto e dos alertas de tsunami.

* * *
Numa noite em que a aragem do oceano refrescava o bairro de Miraflores e a polícia velava discretamente pela segurança de turistas e proprietários, abri a esmo o livro de Cesar Vallejo e li:

Cual mi explicación

Esto me lacera de tempranía

Esa manera de caminar por los trapecios

Esos corajosos brutos como postizos

Esa goma que pega el azogue al adentro

Esas posaderas sentadas para arriba

Eso no puede ser, sido.

Absurdo.

Demencia.

Pero he venido de Trujillo a Lima.

Pero ganho un sueldo de cinco soles. 

(Trilce, XIV)


* * *
A respeito do poeta de Trilce, escreveu o amauta Mariátegui:
“Hay em Vallejo un americanismo genuíno y essencial: no un americanismo descriptivo e localista.
Su poesia y su lenguage emanan de su carne y su ánima.  Su mensaje está en él. El sentimiento indígena obra en su arte quizá sin que él lo sepa no lo quiera.
Uno de los rasgos más netos y claros del indigenismo de Vallejo me parece su frecuente actitud de nostalgia.
Su nostalgia es una protesta sentimental o una protesta metafísica. Nostalgia de exílio; nostalgia de ausencia.
Este arte señala el nacimiento de una nueva sensibilidade. Es un arte nuevo, un arte rebelde, que rompe con la tradición cortesana de una literatura de bufones y lacayos. Este linguaje es el de un poeta y un hombre. El gran poeta de Los Heraldos Negros y de Trilce – ese gran poeta que ha passado ignorado y desconocido por las calles de Lima tan propicias y rendidas a los laureles de los juglares de feria – se presenta em su arte, como un precursor del nuevo espíritu, de la nueva conciencia”.
(Siete Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana, Editorial Gorla, Buenos Aires, 2004, pp. 336-335)




A Catedral e a Plaza Mayor num domingo de festa.


Jirón Carabaya, à direita o Palácio do Governo



Jirón Conde de Superunda





Jirón de la Unión num domingo de festa






Distante e esfumada ao fundo, a cordilheira

A praça do MALI (Museu de Arte de Lima)





Shopping Larcomar junto ao malecón de la Reserva






Museu Larco Herrera



Fragmento de  fardo funerário da cultura Paracas (800-100 a.C.)



Os huacos mochicas na área de reserva técnica do museu 



"A imolação de Alfonso Ugarte" na tela  de Agustin Marazzani,1905
Para evitar que a bandeira peruana fosse desonrada pelos inimigos chilenos, o militar se precipita da falésia com seu cavalo
Museu Arqueológico, Antropológico e Histórico do Peru


O encontro dos Libertadores: Bolívar e San Martín, na Casa do LIbertador
Museu de Arqueologia, Antropologia e História do Peru




A casa de Mariátegui


De algum ponto do malecón





foto: Ludmila Ciuffi













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