L I M A
Breves
notas do caderno de turista
Buenos
para el malo -
assim define os peruanos um taxista que nos leva ao hotel, sem perceber que
descreve toda a espécie humana. Eu lhe respondo que todos os povos dão um sólido contributo ao ridículo das nações.
Uma
névoa pesada, cinzenta e morna cobre a cidade. Estamos em Lima.
*
* *
Ao
longo da Calle Berlin, ficamos indecisos entre a comida chifa, os piqueos, os
sanguches, os tequeños, os anticuchos, os ceviches, os tacu-tacus, os adobos,
as causas, os choclos, os rocotos rellenos, os chicharrones, os lomos saltados,
os ají de gallina.
Num
hipermercado da avenida José Pardo, tunas, saucos, paltas, lúcumas,
granadillas, chirimoyas, aguajes e aguaymantos são as frutas que colho, entre
assonâncias e aliterações.
No
Museu Nacional de Arqueologia, Antropologia e História, no Museu de Arte de
Lima, no Amano e no Larco, passeamos entre chavíns, cupisniques,
pucarás, vicús, moches, casmas, nascas, paracas, waris, sicáns, chimús,
chancays, chiribayas, chachapoyas e incas.
Com
a gula dos que viajam para verificar se os cartógrafos não mentiram o endereço
dos deuses, vamos arrancando a esta terra peruana sua crosta mais fina até que
a polpa nos conceda, senão a carne, ao menos o sumo farto das cores e nomes das
criaturas.
*
* *
Depois
de compridas caminhadas pelo malecón até Barranco, de onde víamos o sol
indolente afundar no Pacífico para alumbrar outras lúgubres ilhas continentais,
passávamos muito tempo aspirando o perfume do café e das páginas impressas da
livraria Virrey - em mais uma rua que homenageia o coronel Bolognesi-,
esquecidos, Ludmila e eu, dos avisos de terremoto e dos alertas de tsunami.
*
* *
Numa
noite em que a aragem do oceano refrescava o bairro de Miraflores e a polícia
velava discretamente pela segurança de turistas e proprietários, abri a
esmo o livro de Cesar Vallejo e li:
Cual
mi explicación
Esto
me lacera de tempranía
Esa
manera de caminar por los trapecios
Esos
corajosos brutos como postizos
Esa
goma que pega el azogue al adentro
Esas
posaderas sentadas para arriba
Eso
no puede ser, sido.
Absurdo.
Demencia.
Pero
he venido de Trujillo a Lima.
Pero
ganho un sueldo de cinco soles.
(Trilce,
XIV)
* * *
A respeito do poeta de Trilce,
escreveu o amauta Mariátegui:
“Hay
em Vallejo un americanismo genuíno y essencial: no un americanismo descriptivo
e localista.
Su
poesia y su lenguage emanan de su carne y su ánima. Su mensaje está
en él. El sentimiento indígena obra en su arte quizá sin que él lo sepa no lo
quiera.
Uno
de los rasgos más netos y claros del indigenismo de Vallejo me parece su
frecuente actitud de nostalgia.
Su
nostalgia es una protesta sentimental o una protesta metafísica. Nostalgia de
exílio; nostalgia de ausencia.
Este
arte señala el nacimiento de una nueva sensibilidade. Es un arte nuevo, un arte
rebelde, que rompe con la tradición cortesana de una literatura de bufones y
lacayos. Este linguaje es el de un poeta y un hombre. El gran poeta de Los Heraldos Negros y de Trilce –
ese gran poeta que ha passado ignorado y desconocido por las calles de Lima tan
propicias y rendidas a los laureles de los juglares de feria – se presenta em
su arte, como un precursor del nuevo espíritu, de la nueva conciencia”.
(Siete
Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana, Editorial Gorla,
Buenos Aires, 2004, pp. 336-335)
A Catedral e a Plaza Mayor num domingo de festa. |
Jirón Carabaya, à direita o Palácio do Governo |
Jirón Conde de Superunda |
Jirón de la Unión num domingo de festa |
Distante e esfumada ao fundo, a cordilheira |
A praça do MALI (Museu de Arte de Lima) |
Museu Larco Herrera |
Fragmento de fardo funerário da cultura Paracas (800-100 a.C.) |
O encontro dos Libertadores: Bolívar e San Martín, na Casa do LIbertador Museu de Arqueologia, Antropologia e História do Peru |
foto: Ludmila Ciuffi |
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