sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A claraboia e o holofote #29 (X)







Uma leitura do Manifesto do Partido Comunista






Rosa Luxemburg


A conferência nacional da Liga Spartakus (1918)



texto integral



Amanhã reúnem-se representantes da mais odiada, da mais caluniada, da mais perseguida tendência política de toda a Alemanha – a Liga Spartakus. Com orgulho e confiança reúnem-se sob a bandeira posta à prova na tempestade para, numa breve reunião cercada pelo sopro quente da revolução, deliberar sobre os objetivos e os caminhos a seguir.

Como outrora em Flandres o nome ‘Geusen’, mendigos, o nome dos ‘spartakistas’ tornou-se hoje na Alemanha símbolo da luta revolucionária intensa, da energia proletária inquebrantável, do apego firme aos objetivos do socialismo, símbolo de tudo aquilo que as classes dominantes, a que a sociedade capitalista tem horror e que odeia até a morte.

A Liga olha retrospectivamente para seu breve, porém movimentado passado. O colapso da social-democracia alemã em 4 de agosto de 1914 foi a hora do nascimento de Spartakus. A bancarrota ruidosa da tática partidária tradicional, sua traição vergonhosa às tarefas e deveres de honra mais sagrados do socialismo na hora da grande decisão trouxe imediatamente à tona a rebelião aberta e enérgica dos spartakistas. Deles saiu, já em agosto de 1914, o primeiro protesto público contra o vexame do partido oficial, publicado na imprensa italiana, inglesa, holandesa e que alto bradava: tenham esperança e animem-se! Ainda existem socialistas na Alemanha!

Quando as massas trabalhadoras, na hipnose paralisante do delírio bélico, ainda assistiam indiferentes ou mesmo exultantes ao assalto vitorioso do imperialismo, quando o partido jazia numa plúmbea tranquilidade de cemitério depois do suicídio de 4 de agosto, desses mesmos spartakistas saíram as primeiras reuniões na periferia de Berlim – Steglitz, Mariendorf, Charlottenburg, NeuKöllm -, as primeiras conferências em Stuttgart, Frankfurt am Main, Leipzig, os primeiros sinais de união contra o partido oficial, os primeiros enfrentamentos, olhos nos olhos, com os traidores do socialismo e da Internacional.

Da tribuna do Reichstag, no jornal Internationale, na brochura de Junius, em panfletos, o pequeno grupo lutou incansavelmente, sob o estado de sítio e a ditadura da espada, para salvar a honra do proletariado alemão, para sacudir as massas, para atiçar a faísca sagrada do idealismo revolucionário.

As perseguições caíram compactamente sobre os desmancha-prazeres. Sumiram durante anos um atrás do outro, mandados para prisões e penitenciárias repletas ou mandados das fábricas para as trincheiras. Contudo, quando algum continuava em liberdade, logo o grupo se reunia de novo, logo recomeçava o trabalho subterrâneo, o tenaz trabalho de toupeira que devia solapar o edifício rígido do imperialismo.

E os vínculos com a massa proletária continuaram a tecer-se cada vez mais fortemente. Enquanto os independentes [os militantes do USPD], depois de dois anos de paciente colaboração com os Judas do movimento operário, de modo hesitante e irresoluto deles se separaram, a fim de teimosamente levar adiante as tradições viciadas e fraudulentas da velha social-democracia e de sua ilusória existência parlamentar, os spartakistas abriram caminho para um tática nova e revolucionária, a da ação de massas extraparlamentar, exortaram e chamaram incansavelmente à greve de massas até conseguirem fortalecer e elevar a autoconfiança, a coragem do operariado para a luta.

Depois de cada arranque, as ondas de luta, que quase não se moviam, diminuíam e se acalmavam; uma calmaria mortal, plúmbea, parecia reapoderar-se do espírito das massas. Era preciso uma vontade férrea e uma fé que remove montanhas para nesses quatro anos e três meses não afrouxar nem um dia, não abandonar o incansável trabalho de mineiro, não cair no pessimismo confortável a respeito das ‘massas alemãs’, que servia de pretexto barato à própria indolência dos independentes.

Para os spartakistas não havia desânimo nem vacilações. Assobiando alegremente nas celas gradeadas e nas fábricas, nas trincheiras e nos centros de deliberação conspirativos, farejados por espiões, cercados de agentes de polícia, eles aguçaram suas flechas, difundiram seus panfletos, instigaram fortemente a consciência moral das massas, desafiaram audaciosamente sem parar o colosso triunfante do imperialismo.

Até que em 9 de novembro, o colosso de pés de barro caiu ruidosamente ao chão, o proletariado alemão finalmente recuperou sua grandeza e a revolução começou.

Desde o primeiro dia da revolução começou uma cruzada da burguesia, da pequena burguesia, dos oficiais, do pessoal de Ebert – de todos os elementos contrarrevolucionários contra a Liga Spartakus. Esse era o recibo pelo cumprimento do dever sob a ditadura da espada do imperialismo; ao mesmo tempo, era o instinto seguro dos guardiões da ordem social capitalista sob ameaça que dirigia todas as suas flechas envenenadas para onde sentia bater o coração da revolução proletária.

Os inimigos mortais do proletariado e do socialismo não foram enganados por seu instinto. Na revolução alemã cabe à Liga Spartakus um papel especial, uma tarefa de grande responsabilidade, um alto dever.

Um abismo profundo a separa dos mercenários a serviço dos exploradores e opressores, do pessoal de Ebert-Scheidemann, manchado de sangue, a quem só tem a oferecer um punho cerrado.

Um abismo também a separa dos independentes que, nas cinco semanas de revolução, entenderam que deviam evoluir não para a frente mas para trás; que, de críticos passivos da prostituição scheidemanniana durante a guerra, transformaram-se em ativos participantes dessa prostituição; que, por cima dos golpes, intrigas e túmulos, por cima de infâmias e poças de sangue, ainda estendem a mão a Ebert-Scheidemann para um trabalho conjunto. Para esse pessoal – mesmo que amanhã, sob a pressão do desprezo geral e de seu próprio colapso moral, finalmente rompam o vínculo infame com o governo de Ebert – valem as palavras: tarde demais! Eles estão liquidados para a revolução, para o proletariado. A continuação de seu caminho, leva-os para o lamaçal da contrarrevolução à qual estenderam por muito tempo a mão auxiliadora.

Mas existe também um limite que nos separa dos elementos indecisos e pusilânimes do USPD, os quais, exasperados com a profunda queda dos Haase-Dittman e companheiros, não têm, contudo, coragem nem firmeza para levá-los ao pelourinho, para fazer o grande ajuste de conta das massas com eles, para se colocar diante da alternativa de se separarem da contrarrevolução ou se excluírem das fileiras do proletariado combativo.

Revoluções não conhecem meias medidas, não fazem compromisso, não rastejam, não se curvam. Revoluções precisam de intenções explícitas, princípios claros, corações decididos, homens completos.

A revolução atual, que está somente em seu primeiro estágio, que tem diante de si formidáveis perspectivas e que precisa superar problemas histórico-universais, deve ter uma bússola segura que imperturbavelmente aponte, em cada estágio da luta, em cada vitória e em cada derrota para o mesmo grande objetivo: a revolução socialista universal, o enérgico poder combativo do proletariado pela libertação da humanidade do jugo do capital.

Ser essa bússola que aponta a direção, essa flecha que se move para diante, o fermento proletário-socialista da revolução – eis a tarefa específica da Liga Spartakus no embate atual entre dois mundos.

A história é a única mestra verdadeira e a revolução é a melhor escola para o proletariado. Elas cuidarão de que o ‘pequeno grupo’ dos mais caluniados e perseguidos se torne pouco a pouco aquilo que sua visão de mundo o destina: ser a massa combativa e vitoriosa do proletariado socialista-revolucionário.

(A Conferência Nacional da Liga Spartakus in Textos Escolhidos, volume II, pp. 329-333)





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Ein Marxist hat nicht das Recht, Pessimist zu sein.  


Die Befreiung der Arbeiterklasse muß das Werk der Arbeiterklasse selbst sein.



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