quarta-feira, 1 de junho de 2016

Aviso aos navegantes








Aviso aos navegantes




No último capítulo da nosso folhetim, depois da tensa entrevista em que Lenin se esquivou dialeticamente a qualquer compromisso definitivo com a democracia, o Sobrinho de Enesidemo leu o comunicado célebre que anunciava a queda de Kerenski:


Aos cidadãos da Rússia!

O Governo Provisório foi deposto. O poder de Estado passou para as mãos dos órgãos do Soviete de deputados operários e soldados de Petrogrado – o Comitê Militar Revolucionário -, que se encontra à frente do proletariado e da guarnição de Petrogrado.
A causa pela qual o povo lutou – a procura imediata de uma paz democrática, a supressão da propriedade privada latifundiária da terra, o controle operário sobre a produção, a criação de um Governo Soviético – esta causa está assegurada.
Viva a revolução dos operários, soldados e camponeses!
25 de outubro de 1917, 10 da manhã

Com o privilégio garantido aos pósteros de saltar à vontade pelo tempo pretérito, pretendo retornar mais adiante ao curso da revolução. Por ora, suspendo meu folhetim marxista para juntar forçar pois o centenário se aproxima.

Infortunadamente, o Sobrinho de Enesidemo vive num mundo em que o populacho inquieto e ruidoso acalenta a ilusão de que a tolice crassa, a instrução lacunar e a hidrofobia pertinaz se tornem virtudes quando batizadas de "anticomunismo", o penúltimo refúgio dos patriotas de Samuel Johnson. E pensar que é essa cainçalha que escancara as fauces para defender o valor da pessoa, da justiça e da ordem moral! O sábio Burke e o discreto Voegelin, cujos nomes foram tantas vezes invocados em vão, de certo envergonhar-se-iam da estridência dos Reinaldos e Olavos, tão dados à filáucia quão vezeiros na chulice. 

Não obstante o uivo da matilha, A claraboia e o holofote voltará em 2017 para acompanhar os lances dramáticos da revolução sob o governo bolchevique. Até lá, O Sobrinho de Enesidemo tratará de outros assuntos, todos eles extemporâneos, todos eles bem afastados do fartum que emana do ajuntamento de bestas.







Um comentário:

  1. Oi.
    Professor o senhor diz que a "nova direita" é contraditória por que ao passo que discursa sobre os Altos Valores é burra demais. Só que se a Inteligência fosse o pressuposto para uma ação política então nenhuma mudança se realizaria. Nesse sentido, seu desprezo por essa direita parece mais um desejo de engessar a ascensão de uma nova corrente política inconveniente. Tudo bem que sejam desprezíveis, mas o contrário deles não é grande coisa. Então eu pergunto o "Fora Dilma" é pior que o "Fora Collor"? A invocação de Voeglin é pior que a de Marx? Olavo é pior que Marilena? As mesóclises do interino são piores que as elucubrações da afastada? Em outras palavras, o que diabos tem de tão ruim nesse fenômeno aí e por que Olavo é tão desprezível?

    Escrevo temeroso de que nenhuma substância exalada tenha atingido a pituitária!
    Abç!!

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