Cenas da Revolução de 17
O índice de sinistralidade
- O comunismo já pode ser visto no horizonte -, declara Kruthchev em um discurso.
Aparte
de um ouvinte:
-
Camarada Khrutchev, o que é horizonte?
-
Procure no dicionário -, responde Nikita Sergeievitch.
Desejoso
de esclarecimento, o ouvinte, ao chegar em casa, encontra em uma enciclopédia a
seguinte explicação: "Horizonte, linha imaginária que separa o céu e a terra, e
que se torna mais distante quando dela nos aproximamos".
*
* * * *
"Os
prognósticos também são determinados pela necessidade de se esperar alguma
coisa. Voltada para um campo mais amplo ou mais estreito, a previsão libera
expectativas, a que se misturam também temor e esperança. (...) Assim, um
prognóstico abre expectativas que não decorrem apenas da experiência. Noutras
palavras: o espaço da experiência anterior nunca chega a determinar o horizonte
de expectativa".
* * * * *
"Quanto
menor o conteúdo da experiência, maior a expectativa que se extrai dele. Quanto
menor a experiência, maior a expectativa – eis a fórmula para a estrutura
temporal da modernidade, conceptualizada como “progresso”. Isso foi plausível
enquanto as experiências anteriores não eram suficientes para fundamentar as
expectativas geradas por um mundo que se transformava tecnicamente. Mas, depois
de haverem nascido de uma revolução, quando os projetos políticos
correspondentes se transformam em realidades, as antigas expectativas se
desgastam tornando-se experiências recentes. Isso vale para o republicanismo, o
democratismo e o liberalismo, na medida em que a história permite atualmente
emitir um juízo. Pode-se presumir que continuará válido para o socialismo e
também para o comunismo, se este chegar a ser declarado introduzido na
história.
Pode
assim acontecer que uma antiga determinação relacional venha a readquirir seus
direitos: quanto maior a experiência, tanto mais cautelosa, mas também tanto
mais aberta a expectativa. Para além de qualquer ênfase, ter-se-á alcançado o
final da ‘modernidade’, no sentido de [expectativa de] progresso otimizante".
(Reinhart
Koselleck, “Espaço de experiência e horizonte de expectativa: duas categorias
históricas” in Futuro Passado: Contribuição à semântica dos tempos
históricos, Contraponto/ Editora PUC Rio, Rio de Janeiro, 2006 pp.
311, 313, 326-7)
----------------------
abertura: Sol Lewitt, Red Square, White Letters, 1962, Museu Ludwig, Colônia
fechamento: Martin Kippenberger, Sympathische Kommunistin, 1983, Museu Ludwig, Colônia
Nenhum comentário:
Postar um comentário