terça-feira, 28 de novembro de 2017

A claraboia e o holofote #31 (XVII)








Cenas da Revolução de 17



O índice de sinistralidade

- O comunismo já pode ser visto no horizonte -, declara Kruthchev em um discurso.
Aparte de um ouvinte:
- Camarada Khrutchev, o que é horizonte?
- Procure no dicionário -, responde Nikita Sergeievitch.
Desejoso de esclarecimento, o ouvinte, ao chegar em casa, encontra em uma enciclopédia a seguinte explicação: "Horizonte, linha imaginária que separa o céu e a terra, e que se torna mais distante quando dela nos aproximamos".

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"Os prognósticos também são determinados pela necessidade de se esperar alguma coisa. Voltada para um campo mais amplo ou mais estreito, a previsão libera expectativas, a que se misturam também temor e esperança. (...) Assim, um prognóstico abre expectativas que não decorrem apenas da experiência. Noutras palavras: o espaço da experiência anterior nunca chega a determinar o horizonte de expectativa".  

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"Quanto menor o conteúdo da experiência, maior a expectativa que se extrai dele. Quanto menor a experiência, maior a expectativa – eis a fórmula para a estrutura temporal da modernidade, conceptualizada como “progresso”. Isso foi plausível enquanto as experiências anteriores não eram suficientes para fundamentar as expectativas geradas por um mundo que se transformava tecnicamente. Mas, depois de haverem nascido de uma revolução, quando os projetos políticos correspondentes se transformam em realidades, as antigas expectativas se desgastam tornando-se experiências recentes. Isso vale para o republicanismo, o democratismo e o liberalismo, na medida em que a história permite atualmente emitir um juízo. Pode-se presumir que continuará válido para o socialismo e também para o comunismo, se este chegar a ser declarado introduzido na história.

Pode assim acontecer que uma antiga determinação relacional venha a readquirir seus direitos: quanto maior a experiência, tanto mais cautelosa, mas também tanto mais aberta a expectativa. Para além de qualquer ênfase, ter-se-á alcançado o final da ‘modernidade’, no sentido de [expectativa de] progresso otimizante".

(Reinhart Koselleck, “Espaço de experiência e horizonte de expectativa: duas categorias históricas” in Futuro Passado: Contribuição à semântica dos tempos históricos, Contraponto/ Editora PUC Rio, Rio de Janeiro, 2006 pp. 311, 313, 326-7)










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abertura: Sol Lewitt, Red Square, White Letters, 1962, Museu Ludwig, Colônia

fechamento: Martin Kippenberger, Sympathische Kommunistin, 1983, Museu Ludwig, Colônia






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