Hubo un día tan rico el año passado...!
que ya ni sé qué hacer con él.
César
Vallejo, Trilce, LXXIV
21
de janeiro de 2017
Depois
de Ludmila comprar papéis e tintas na Géant des Beaux-Arts da rua Vergniaud,
iríamos visitar o poeta Cesar Vallejo.
Me
moriré em París con aguacero,
un
día del cual tengo ya recuerdo.
Me
moriré em París – y no me corro –
talvez
un jueves, como es hoy, de otoño. (1)
Eis
o que tínhamos combinado e nem os quatro graus abaixo de zero, nem a
caminhada aborrecida pelo boulevard Auguste Blanqui, nem a lembrança daquela manhã
gelada em que, muitos anos antes, com os lábios azuis de frio, havíamos
tiritado junto à tumba de Baudelaire, nada disso nos impediria de
regressar ao campo santo do 14e.
Todavia, fosse pelo feitio gauche e arredio do poeta ou, mais simplesmente, pela minha inépcia em lidar com o mapa, não topamos com a sepultura que esperávamos coberta de bandeiras
alvirrubras do Peru. Aborrecido comigo mesmo e cheio do spleen de
Paris, passamos indiferentes e neutros ao lado do túmulo de Samuel Beckett, saímos do cemitério e fomos almoçar numa brasserie da Edgar Quinet.
Yo
no sufro este dolor como César Vallejo. Yo no me duelo ahora como artista, como
hombre ni como simple ser vivo siquiera. Yo no sufro este dolor como católico,
como mahometano ni como ateo. Hoy sufro solamente. Si no me llamase César
Vallejo, también sufriría este mismo dolor. (2)
Foi
preciso voltar ao hotel à noite e verificar as datas para confirmar que, num outro 21 de janeiro, exatamente um ano antes, chegávamos a Trujillo depois de uma longa viagem
noturna pela Panamericana Norte. Mas não era ainda Vallejo que buscávamos e sim as ruínas de Chan Chan e da Huaca de la Luna. Contudo, ao passarmos diante da universidade,
o guia local nos disse, cheio do ufanismo que só se perdoa na província, que
aquela era a alma mater do mais célebre poeta peruano, César
Vallejo. Ao que eu respondi: Seguramente, el más grande poeta de
Latinoamérica. Não era mentira nem exagero.
Mas
sólo tú demuestras, descendiendo
o
subiendo del pecho, bolchevique,
tus
trazos inconfundibles. (3)
É
essa viagem pelo vasto continente tecido de fibras, pedras e palavras, de Vargas Llosa, Argüedas, Mariátegui e Vallejo, de incas, moches e paracas, que o Sobrinho de Enesidemo vai agora começar.
Lúgubre
isla me alumbrará continental
mientras
el capitolio se apoye en mi íntimo derrumbre
y
la assemblea en lanzas clausure mi desfile. (4)
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(1) Piedra
Negra sobre una Piedra Blanca, Poemas Póstumos
(2) Voy
a hablar de la esperanza, Poemas Póstumos
(3) Salutación
Angélica, Poemas Póstumos
(4) Epístola
a los transeúntes, Poemas Póstumos
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