quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Lúgubre isla me alumbrará continental #1








A R E Q U I P A





Por que eu viajo? Porque os mapas, com seus nomes esplêndidos, são artefatos maravilhosos que, como os mitos, me encantam sem que eu possa acreditar neles. Então, firmemente presos ao mastro, vamos longe experimentar o canto das sereias.

 * * *

Essa viagem ao Peru foi uma viagem à Irlanda que fracassou. Três dias antes de partir eu terminava de ler o romance de Vargas Llosa sobre Roger Casement. Iríamos a Dublin para o centenário da revolta da Páscoa de 1916, mas chegamos subitamente a Arequipa, terra de Vargas Llosa. Com a mesma inconstância e incerteza, os ventos poderiam nos ter conduzido ao coração das trevas do Congo ou ao impaludismo das selvas do Putumayo.

* * *

Em Arequipa, dois vulcões dominam a linha do horizonte: o Chachani e o Misti. É história corrente que, mais de cinquenta anos antes da chegada de Pizarro, o inca Yupanqui tentou aplacar a erupção do Misti oferecendo ao deus furibundo inúteis pelotas de barro embebidas no sangue de lhamas. Desde então aperfeiçoamos muito as técnicas de arremesso das pelotas, mas elas ainda se dissolvem contra a onda de lava e lodo que avança.

* * *

No saguão do hotel, ficamos sabendo que David Bowie morreu, certamente por causa da erupção de um vulcão invisível.

* * *

Comprei um chapéu branco que, no esplendor do meio-dia arequipeño, passou a ser um sombrero luminoso.  

* * *

A gente daqui é quieta e solícita. Ninguém gosta de parecer impositivo ou assertivo, por isso, falam todos no modo condicional. Mas é modéstia de gente orgulhosa. Na imensa Plaza de Armas e na enorme catedral, o que se vê é a vontade de grandeza.

* * * 

Por toda a parte, os casais jovens dividem os bancos de praça, aos abraços, beijos e confidências junto ao ouvido. Ainda há namoro em Arequipa e lambe-lambes nas praças onde o povo se aglomera nas horas frescas.

* * *

Arequipa foi derrubada por muitos terremotos e reergueu-se todas as vezes, ganhando formas novas. A Arequipa de outrora se queria neoclássica. O sillar, pedra vulcânica que serve de material básico de construção na região, era talhado em frisos com folhas de acanto e pilastras coríntias cobertas de fino gesso. Mais tarde, decidiu-se que Arequipa seria neocolonial: em verdade, a mais espanhola das cidades peruanas. Então o gesso foi retirado e a porosidade do sillar deixada à mostra como índice da rudeza dos tempos do vice-reinado, naquelas casas refeitas a partir da década de 1950. No entanto, neoclássica ou neocolonial, Arequipa é a cidade branca, à beira do deserto, sob o sol que faísca.

* * *

Dia de turismo. Experimentamos um comedouro popular e barato do mercado central de San Camilo. Do mirante de Yanahuara, assistimos ao pôr-do-sol. Na Ponte Grau, acompanhamos as luzes da cidade ao anoitecer. No bar do hotel, tomamos dois chilcanos e um pisco sour. No quarto, adormecemos ouvindo o noticiário da Deutsche Welle na televisão.

* * *

Arma virumque cano.  O coronel Francisco Bolognesi Cervantes tombou em 1880 ao defender Arica, então porto peruano, contra as tropas chilenas. Foi declarado patrono do exército e, por todo o país, seu nome ilustra muitos logradouros públicos. Em Arequipa, uma vistosa estátua do coronel prestes a disparar seu revólver materializa no bronze  as  palavras finais do herói: Hasta quemar el último cartucho.

* * *

Brasa dormida. A recente invasão das empresas chilenas sobre o Peru ressuscitou, na direita populista, o velho ressentimento pela derrota do país na guerra do Pacífico.

* * *

Fogo morto. Passamos muitas horas no convento de Santa Catalina, entre as finadas monjas que, no oco da ausência, deambulavam lívidas pelos pátios de gerânios, enquanto suas vigorosas criadas cholas cardavam a alpaca imaterial e assavam o pão nos fornos extintos.




A periferia de Arequipa na borda do deserto






O vulcão Misti




Os táxis numerosos e minúsculos



As construções de sillar numa esquina da calle de Santa Catalina





Ao fundo, o vulcão Chachani



Calle Zela: ao fundo os muros do convento de Santa Catalina





Calle de Santa Catalina, em direção a Plaza de Armas, perto ao portal de San Agustin





Plaza de Armas e Catedral 




Plaza de Armas e Catedral



A Catedral com o Misti ao fundo




Fachada da igreja de San Agustin
Convento de Santa Catalina





Convento de Santa Catalina 




Convento de Santa Catalina




Convento de Santa Catalina





Convento de Santa Catalina



Convento de Santa Catalina



Convento de Santa Catalina




Convento de Santa Catalina



Convento de Santa Catalina




Convento de Santa Catalina




Convento de Santa Catalina



Convento de Santa Catalina



Convento de Santa Catalina



Detalhe da fachada da igreja e convento de São Francisco



Convento de São Francisco




Altar lateral e púlpito da Igreja da Companhia de Jesus



Pátio do colégio da Companhia de Jesus




Casa del Moral: pátio interno



Casa del Moral: pátio posterior







Casa natal de Mário Vargas Llosa



Mirante de Yanahuara



Estátua do Coronel Bolognesi Cervantes



Ludmila conversa com Antonia tejedora.



Antonia






abertura: lateral da catedral vista do portal de San Agustin








Nenhum comentário:

Postar um comentário