A R E Q U I P A
Por que eu viajo? Porque os
mapas, com seus nomes esplêndidos, são artefatos maravilhosos que, como os
mitos, me encantam sem que eu possa acreditar neles. Então, firmemente presos ao mastro, vamos longe experimentar o canto das sereias.
*
* *
Essa
viagem ao Peru foi uma viagem à Irlanda que fracassou. Três dias antes de
partir eu terminava de ler o romance de Vargas Llosa sobre Roger Casement.
Iríamos a Dublin para o centenário da revolta da Páscoa de 1916, mas chegamos
subitamente a Arequipa, terra de Vargas Llosa. Com a mesma inconstância e
incerteza, os ventos poderiam nos ter conduzido ao coração das trevas do Congo
ou ao impaludismo das selvas do Putumayo.
*
* *
Em
Arequipa, dois vulcões dominam a linha do horizonte: o Chachani e o Misti. É
história corrente que, mais de cinquenta anos antes da chegada de Pizarro, o
inca Yupanqui tentou aplacar a erupção do Misti oferecendo ao deus furibundo
inúteis pelotas de barro embebidas no sangue de lhamas. Desde então
aperfeiçoamos muito as técnicas de arremesso das pelotas, mas elas ainda se
dissolvem contra a onda de lava e lodo que avança.
*
* *
No
saguão do hotel, ficamos sabendo que David Bowie morreu, certamente por causa
da erupção de um vulcão invisível.
*
* *
Comprei
um chapéu branco que, no esplendor do meio-dia arequipeño, passou a ser um
sombrero luminoso.
*
* *
A
gente daqui é quieta e solícita. Ninguém gosta de parecer impositivo ou
assertivo, por isso, falam todos no modo condicional. Mas é modéstia de gente
orgulhosa. Na imensa Plaza de Armas e na enorme catedral, o que se vê é a vontade de grandeza.
*
* *
Por
toda a parte, os casais jovens dividem os bancos de praça, aos abraços, beijos
e confidências junto ao ouvido. Ainda há namoro em Arequipa e lambe-lambes nas
praças onde o povo se aglomera nas horas frescas.
*
* *
Arequipa
foi derrubada por muitos terremotos e reergueu-se todas as vezes, ganhando
formas novas. A Arequipa de outrora se queria neoclássica. O sillar, pedra
vulcânica que serve de material básico de construção na região, era talhado em
frisos com folhas de acanto e pilastras coríntias cobertas de fino gesso. Mais tarde, decidiu-se que
Arequipa seria neocolonial: em verdade, a mais espanhola das cidades peruanas.
Então o gesso foi retirado e a porosidade do sillar deixada à mostra como índice da rudeza dos tempos do
vice-reinado, naquelas casas refeitas a partir da década de
1950. No entanto, neoclássica ou neocolonial, Arequipa é a cidade branca, à
beira do deserto, sob o sol que faísca.
*
* *
Dia de turismo. Experimentamos
um comedouro popular e barato do mercado central de San Camilo. Do mirante de
Yanahuara, assistimos ao pôr-do-sol. Na Ponte Grau, acompanhamos as luzes da
cidade ao anoitecer. No bar do hotel, tomamos dois chilcanos e um pisco sour.
No quarto, adormecemos ouvindo o noticiário da Deutsche Welle na televisão.
*
* *
Arma
virumque cano. O coronel Francisco Bolognesi Cervantes tombou em
1880 ao defender Arica, então porto peruano, contra as tropas chilenas. Foi
declarado patrono do exército e, por todo o país, seu nome ilustra
muitos logradouros públicos. Em Arequipa, uma vistosa estátua do coronel
prestes a disparar seu revólver materializa no
bronze as palavras finais do herói: Hasta quemar
el último cartucho.
*
* *
Brasa
dormida. A recente invasão das empresas chilenas sobre o Peru ressuscitou,
na direita populista, o velho ressentimento pela derrota do país na
guerra do Pacífico.
*
* *
Fogo
morto. Passamos muitas horas no convento de Santa Catalina, entre as
finadas monjas que, no oco da ausência, deambulavam lívidas pelos pátios de
gerânios, enquanto suas vigorosas criadas cholas cardavam a alpaca imaterial e
assavam o pão nos fornos extintos.
|
A periferia de Arequipa na borda do deserto |
|
O vulcão Misti |
|
Os táxis numerosos e minúsculos |
|
As construções de sillar numa esquina da calle de Santa Catalina |
|
Ao fundo, o vulcão Chachani |
|
Calle Zela: ao fundo os muros do convento de Santa Catalina |
|
Calle de Santa Catalina, em direção a Plaza de Armas, perto ao portal de San Agustin |
|
Plaza de Armas e Catedral |
|
Plaza de Armas e Catedral |
|
A Catedral com o Misti ao fundo |
|
Fachada da igreja de San Agustin |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Convento de Santa Catalina |
|
Detalhe da fachada da igreja e convento de São Francisco |
|
Convento de São Francisco |
|
Altar lateral e púlpito da Igreja da Companhia de Jesus |
|
Pátio do colégio da Companhia de Jesus |
|
Casa del Moral: pátio interno |
|
Casa del Moral: pátio posterior |
|
Ludmila conversa com Antonia tejedora. |
|
Antonia |
abertura: lateral da catedral vista do portal de San Agustin
Nenhum comentário:
Postar um comentário