Patologia da
ignorância
Não falo da
preguiça que é o justo desejo de estar livre das urgências que nos avassalam, mas
da outra: a inércia de quem se encolhe diante das tarefas difíceis para fugir ao esforço prolongado. O preguiçoso duvida que tais tarefas sejam necessárias ou que a via seja tão árdua. Tudo isso lhe parece preciosismos e rodeios de quem não chega logo ao ponto. Então o
preguiçoso assume o seu disfarce favorito, o de pessoa prática que exige soluções rápidas e
simples. Ele proclama que não há tempo a perder. Ele está decidido a pegar o atalho mais próximo, a dar ouvido ao primeiro boato,
a colocar em prática um esquema infalível, a acreditar na “intuição”, na sorte ou no pensamento positivo. O preguiçoso é
avesso à profilaxia intelectual que sustenta a legitimidade do conhecimento. O que marca o conhecimento legítimo não é a descoberta da verdade, mas tão somente o rigor na aplicação dos métodos e a possibilidade de escrutínio e revisão dos resultados obtidos. Por limitada que seja, tal profilaxia demanda virtudes beneditinas de dedicação e paciência, as quais repelem a ilusão de onisciência e onipotência própria dos preguiçosos. Pois os
preguiçosos são orgulhosos. Eles estão convencidos de suas próprias capacidades e de
seus próprios conhecimentos. Pascal dizia que a preguiça e o orgulho são as duas fontes do
pecado. O pecado aqui é a
bobagem e a estupidez, seja na forma de discurso leviano, de tolice pretensiosa,
de impostura intelectual ou de ignorância militante.
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