quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

En medio de la plaza y sobre tosca piedra #6








Barcelona



 Madrid/ 73

Quando voltava da missa na Igreja de San Francisco de Borja, o automóvel de Luis Carrero Blanco, presidente do governo e braço direito do Generalíssimo Franco, voou pelos ares e caiu sobre a Casa Professa da Companhia de Jesus. Um comando do ETA havia cavado um túnel sob a calle Claudio Coello, por onde Carrero Blanco sempre passava, e instalou uma carga explosiva que foi detonada por volta das nove e meia da manhã de 20 de dezembro de 1973.


Barcelona/73

Sobre o atentado e a repressão que se esperava, o poeta catalão Joan Brossa escreveu um soneto elíptico e zombeteiro chamado “Llaor”:

A Espanya ha estat creada aquest hivern
una obra mestra d’art conceptual:
fer volar el cotxe del cap del govern
amb ell a dins..................................

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Madrid-Barcelona/74


Com a morte de Carrero Blanco, assumiu Carlos Arias Navarro, alcunhado “Carniceiro de Málaga” durante a Guerra Civil. Embora desse sinais de que estava disposto a iniciar uma abertura política, logo desfez o equívoco e mostrou-se solidário com o “bunker”, como era chamada a linha-dura do regime. Apesar de todas as manifestações internacionais de protesto e dos pedidos de clemência feitos pela Santa Sé e pelo chanceler alemão Willie Brandt, Arias não aceitou comutar a pena de morte à qual havia sido condenado o anarquista catalão Salvador Puig Antich, acusado de disparar os tiros que mataram o policial Francisco Anguas Barragán. Salvador tinha 25 anos, Francisco, 24.

Salvador Puig Antich foi executado em Barcelona em 2 de março de 1974. O método de execução foi o garrote, que consistia em prender o pescoço do condenado com uma coleira de metal, apertada aos poucos com uma manivela. O executor foi Antonio López Sierra, verdugo profissional desde 1949. Esta foi sua última execução. Com a abolição da pena capital em 1978, Antonio López foi trabalhar como porteiro no bairro de Malasaña, coração da vida boêmia dos jovens na época da Movida. Morreu em 1986.



Barcelona continua vermelha


No dia seguinte à execução de Salvador Puig, nasceu em Barcelona uma menina chamada Ada Colau. Quando era estudante participou de protestos contra a primeira guerra norte-americana no Golfo Pérsico. A grande maré esquerdista contra a globalização no começo dos anos 2000 a conduziu ao ativismo social. Em 2006, ela se engajou na defesa do direito de moradia e, três anos depois, tomou parte na organização da "Plataforma dos Afetados pela Hipoteca" (PAH), que se opunha ao despejo das famílias que não podiam pagar suas dívidas hipotecárias por causa da crise iniciada em 2008.

Quando eclodiu na Espanha o "Movimento dos Indignados", com as manifestações de 15 de maio de 2011 e a ocupação de grandes espaços públicos em várias cidades espanholas, como a Porta do Sol, em Madrid, e a Praça de Catalunha, em Barcelona, Ada Colau se projetou nacionalmente como uma das grandes figuras da novíssima esquerda espanhola. Em março de 2015, Ada se apresentou como cabeça da coalização de esquerda "Barcelona em Comum" e, ao vencer as eleições de maio, tornou-se a primeira mulher a administrar Barcelona.



 Barcelona, a vermelha, contra o imobilismo


O maior desafio de Ada Colau como alcaldesa da segunda maior cidade da Espanha tem sido encontrar um equilíbrio entre as reivindicações dos que são prejudicados pelo turismo massivo e dos que dependem do movimento turístico. 

Desde que Barcelona foi remodelada para os Jogos Olímpicos de 1992, o turismo não para de crescer. Atualmente oito milhões de turistas chegam a Barcelona todos os anos, especialmente no verão, quando a praia de Barceloneta é tomada por italianos, franceses e alemães, que não se sentem obrigados a respeitar regras simples de decoro, higiene e civilidade quando estão fora de seus países de origem. A construção incessante de novos hotéis descaracteriza o patrimônio arquitetônica, cria uma pressão imobiliária que eleva os custos dos aluguéis, destrói a vida comunitária das áreas residenciais próximas a atrações turísticas como a Sagrada Família e o Parque Güell e afasta os moradores de certas áreas que, em outras épocas, marcavam a vida dos barcelonenses, como a Rambla e o Mercado da Boquería, hoje ocupadas diuturnamente por multidões de estrangeiros a tirar selfies. Por outro lado, o turismo é uma das principais fontes de receita de Barcelona. Além da rede hoteleira, do comércio e dos serviços, muitos aposentados engordam a magra pensão de 400 euros (quantia ridícula numa cidade de custo de vida altíssimo) alugando quartos para quem vem passar alguns dias na cidade.

Os problemas de Barcelona têm raízes que vão muito além da alçada municipal e, como tais, dependem de mudanças mais profundas que são bloqueadas pelos partidos tradicionais da Espanha: a centro-direita do Partido Popular e a centro-esquerda do Partido Socialista Operário Espanhol, ambos herdeiros dos acordos de Moncloa, ambos submissos às medidas de austeridade preconizadas pela Troika, ambos avessos a todas as formas de empowerment popular que se tornaram bandeira dos movimentos sociais que eclodiram no 15 de maio de 2011.

Há ainda os problemas relacionados com a relação entre a Catalunha e o governo central de Madrid, questão crucial no plano espanhol que tem consequências no plano europeu, pois se trata de propor também uma nova relação entre as nações que compõem a União Europeia que possa superar o imobilismo da burocracia de Bruxelas e as medidas restritivas impostas pelos bancos de Frankfurt ( a respeito desse problema, leia-se também Quando a pátria que temos não a temos: conclusão)

Num artigo para El País, Ada Colau escreveu à véspera da Diada (o dia nacional da Catalunha):

Cada vez que  Rajoy amenaza a las instituciones catalanas con medidas penales, no está insultando sólo a los representantes del pueblo catalán, sino al conjunto de la España democrática. (...)
Una parte muy importante de la población catalana, y del conjunto del Estado, ya no se siente representada en el pacto constitucional de 1978. El país ha cambiado. Es necesario y urgente ampliar el reconocimiento y garantía de los derechos civiles y sociales, incluyendo también el derecho a decidir del pueblo catalán a fin que éste pueda decidir libremente cuál tiene que ser su relación con España, sea ésta federal, confederal o de independencia. No se trata de un desafío a la democracia, sino de un desafío democrático. Se trata de ampliar la capacidad de decisión de la ciudadanía frente a aquellos que defienden una lectura inmovilista y restrictiva del texto constitucional. Ante esta voluntad democrática, la judicialización del conflicto no solo constituye la peor salida posible, sino que trae aparejada una consecuencia todavía más tenebrosa: la politización de la justicia, al convertir los tribunales en una tercera cámara sin control ciudadano. Los efectos de esta no-solución son de sobra conocidos: aumento de la polarización, pérdida de confianza en las instituciones y bloqueo político, que en este último ciclo electoral ha alcanzado incluso la gobernabilidad del estado. Por supuesto, estamos ante un asunto complejo, que no admite soluciones mágicas. Estoy convencida que para abordarlo correctamente son necesarias grandes dotes de escucha y diálogo, actitudes para las cuáles la derecha española, en sus formas más viejas o más nuevas, parece incapacitada.
Es urgente una modernización del modelo territorial que apueste decididamente por el reconocimiento de la plurinacionalidad y del derecho a decidir. Sin embargo, en las condiciones actuales, la incorporación a este nuevo modelo no puede realizarse a través de la imposición, sino tras el reconocimiento previo de las múltiples soberanías que libre y fraternalmente decidan sumarse, o no, a articular un proyecto común. Este es el reto que tenemos entre manos; no solo en España, sino también en Europa".
(Ada Colau, "La Diada y el día después", El País, 10 septembre de 2016)






Em que se declara a verdadeira e mais íntima razão 
da visita do autor a Barcelona


A fama de cidade vermelha, de grandes greves e de sindicatos anarquistas, de luta contra o "bando nacional" e de resistência contra a repressão franquista é uma das razões que nos trouxeram a Barcelona, mas não a única nem tampouco a maior.  

Assim que deixamos as malas no hotel, seguimos para o monumento a Cristóvão Colombo, versão local da coluna de Nelson na Trafalgar Square. Atrás de nós, a Rambla infame com sua multidão errante; diante de nós um largo píer moderno com centro de compras, ocupado por outra horda de zumbis. No meio, bem enterrada debaixo do monumento, figurei a praia em se deu o triste caso contado no capítulo “que trata de la aventura que más pesadumbre dió a don Quijote de cuantas hasta entonces le habían sucedido” (El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, Parte Segunda, LXIV), que constitui a verdadeira e mais íntima razão da minha vinda a Barcelona.

Deve ter sido ali, naquela praia agora oculta, que o Cavaleiro da Triste Figura enfrentou o da Branca Lua, que não era outro se não o bacharel Sansão Carrasco disfarçado, o qual, a fim de convencer o Quixote a tornar a casa e recobrar o juízo, desafiou-o a uma justa. Nesta aventura, não se sabe o que admirar mais, se o engenho do entrecho ou se a arte da pena que, das penas do fidalgo manchego, debuxou traços tão verazes e conformes a ponto de fazer do desvalimento mesmo exemplo de valor e lição proveitosa para os bravos e os discretos, pois seguramente não será nenhum nem outro, mas antes mui vil e tola pessoa quem não se compadecer do fidalgo e não lhe apreciar a honesta grandeza que a mesma derrota não quebrantou. Valham-me, então, as palavras de Don Miguel de Cervantes, que me trouxeram para este sítio azado nesta sexta-feira, 23 de janeiro de 2015: 

“Y una mañana, saliendo don Quijote a pasearse por la playa armado de todas sus armas, porque, como muchas veces decía, ellas eran sus arreos, y su descanso el pelear, y no se hallaba sin ellas un punto, vio venir hacía él un caballero, armado asimismo de punta en blanco, que en el escudo traía pintada una luna resplandeciente; el cual, llegándose a trecho que podía ser oído, en altas voces, encaminando sus razones a don Quijote, dijo: 

- Insigne caballero y jamás como se debe alabado don Quijote de la Mancha, yo soy el Caballero de la Blanca Luna, cuyas inauditas hazañas quizá te le habrán traído a la memoria. Vengo a contender contigo y a probar la fuerza de tus brazos, en razón de hacerte conocer y confesar que mi dama, sea quien fuere, es sin comparación más hermosa que tu Dulcinea del Toboso; la cual verdad si tú la confiesas de llano en llano, escusarás tu muerte y el trabajo que yo he de tomar en dártela; y si tú peleares y yo te venciere, no quiero otra satisfación sino que, dejando las armas y absteniéndote de buscar aventuras, te recojas y retires a tu lugar por tiempo de un año, donde has de vivir sin echar mano a la espada, en paz tranquila y en provechoso sosiego, porque así conviene al aumento de tu hacienda y a la salvación de tu alma; y si tú me vencieres, quedará a tu discreción mi cabeza, y serán tuyos los despojos de mis armas y caballo, y pasará a la tuya la fama de mis hazañas. Mira lo que te está mejor, y respóndeme luego, porque hoy todo el día traigo de término para despachar este negocio. 

Don Quijote quedó suspenso y atónito, así de la arrogancia del Caballero de la Blanca Luna como de la causa por que le desafiaba; y con reposo y ademán severo le respondió: 

- Caballero de la Blanca Luna, cuyas hazañas hasta agora no han llegado a mi noticia, yo osaré jurar que jamás habéis visto a la ilustre Dulcinea; que si visto la hubiérades, yo sé que procurárades no poneros en esta demanda, porque su vista os desengañara de que no ha habido ni puede haber belleza que con la suya comparar se pueda; y así, no diciéndoos que mentís, sino que no acertáis en lo propuesto, con las condiciones que habéis referido, aceto vuestro desafío, y luego, porque no se pase el día que traéis determinado; y sólo exceto de las condiciones la de que se pase a mí la fama de vuestras hazañas, porque no sé cuáles ni qué tales sean: con las mías me contento, tales cuales ellas son. Tomad, pues, la parte del campo que quisiéredes, que yo haré lo mesmo, y a quien Dios se la diere, San Pedro se la bendiga. 

Habían descubierto de la ciudad al Caballero de la Blanca Luna, y díchoselo al visorrey que estaba hablando con don Quijote de la Mancha. El visorrey, creyendo sería alguna nueva aventura fabricada por don Antonio Moreno, o por otro algún caballero de la ciudad, salió luego a la playa con don Antonio y con otros muchos caballeros que le acompañaban, a tiempo cuando don Quijote volvía las riendas a Rocinante para tomar del campo lo necesario. 

Viendo, pues, el visorrey que daban los dos señales de volverse a encontrar, se puso en medio, preguntándoles qué era la causa que les movía a hacer tan de improviso batalla. El Caballero de la Blanca Luna respondió que era precedencia de hermosura, y en breves razones le dijo las mismas que había dicho a don Quijote, con la acetación de las condiciones del desafío hechas por entrambas partes. Llegóse el visorrey a don Antonio, y preguntóle paso si sabía quién era el tal Caballero de la Blanca Luna, o si era alguna burla que querían hacer a don Quijote. Don Antonio le respondió que ni sabía quién era, ni si era de burlas ni de veras el tal desafío. Esta respuesta tuvo perplejo al visorrey en si les dejaría o no pasar adelante en la batalla; pero, no pudiéndose persuadir a que fuese sino burla, se apartó diciendo: 

- Señores caballeros, si aquí no hay otro remedio sino confesar o morir, y el señor don Quijote está en sus trece y vuestra merced el de la Blanca Luna en sus catorce, a la mano de Dios, y dense. 

Agradeció el de la Blanca Luna con corteses y discretas razones al visorrey la licencia que se les daba, y don Quijote hizo lo mesmo; el cual, encomendándose al cielo de todo corazón y a su Dulcinea -como tenía de costumbre al comenzar de las batallas que se le ofrecían-, tornó a tomar otro poco más del campo, porque vio que su contrario hacía lo mesmo, y, sin tocar trompeta ni otro instrumento bélico que les diese señal de arremeter, volvieron entrambos a un mesmo punto las riendas a sus caballos; y, como era más ligero el de la Blanca Luna, llegó a don Quijote a dos tercios andados de la carrera, y allí le encontró con tan poderosa fuerza, sin tocarle con la lanza (que la levantó, al parecer, de propósito), que dio con Rocinante y con don Quijote por el suelo una peligrosa caída. Fue luego sobre él, y, poniéndole la lanza sobre la visera, le dijo: 

-V encido sois, caballero, y aun muerto, si no confesáis las condiciones de nuestro desafío. 

Don Quijote, molido y aturdido, sin alzarse la visera, como si hablara dentro de una tumba, con voz debilitada y enferma, dijo: 

- Dulcinea del Toboso es la más hermosa mujer del mundo, y yo el más desdichado caballero de la tierra, y no es bien que mi flaqueza defraude esta verdad. Aprieta, caballero, la lanza, y quítame la vida, pues me has quitado la honra. 

- Eso no haré yo, por cierto -dijo el de la Blanca Luna-: viva, viva en su entereza la fama de la hermosura de la señora Dulcinea del Toboso, que sólo me contento con que el gran don Quijote se retire a su lugar un año, o hasta el tiempo que por mí le fuere mandado, como concertamos antes de entrar en esta batalla. 

Todo esto oyeron el visorrey y don Antonio, con otros muchos que allí estaban, y oyeron asimismo que don Quijote respondió que como no le pidiese cosa que fuese en perjuicio de Dulcinea, todo lo demás cumpliría como caballero puntual y verdadero. 

Hecha esta confesión, volvió las riendas el de la Blanca Luna, y, haciendo mesura con la cabeza al visorrey, a medio galope se entró en la ciudad. 

Mandó el visorrey a don Antonio que fuese tras él, y que en todas maneras supiese quién era. Levantaron a don Quijote, descubriéronle el rostro y halláronle sin color y trasudando. Rocinante, de puro malparado, no se pudo mover por entonces. Sancho, todo triste, todo apesarado, no sabía qué decirse ni qué hacerse: parecíale que todo aquel suceso pasaba en sueños y que toda aquella máquina era cosa de encantamento. Veía a su señor rendido y obligado a no tomar armas en un año; imaginaba la luz de la gloria de sus hazañas escurecida, las esperanzas de sus nuevas promesas deshechas, como se deshace el humo con el viento. Temía si quedaría o no contrecho Rocinante, o deslocado su amo; que no fuera poca ventura si deslocado quedara. Finalmente, con una silla de manos, que mandó traer el visorrey, le llevaron a la ciudad, y el visorrey se volvió también a ella, con deseo de saber quién fuese el Caballero de la Blanca Luna, que de tan mal talante había dejado a don Quijote”.





Conclusió

É inútil elencar tudo o que vimos depois. Basta dizer que os muitos dias que em Barcelona passamos me deram aquela sensação de que falou Joan Brossa:

“Cada vegada que passo per el carrer de la Princesa sento una emoció especial. Hi há la botiga on vaig comprar el primer joc de mans. (...)
Quan anava pel carrer amb el meu pare i veia un xarlatà que feia jocs de mans sentia uma gran curiositat. Un any em van regalar uma caixa de màgia i em va agradar moltissim. És una daquelles coses que et toquen i no saps ben bé per què; después resulta que per a tu són les més autentiques. Tot el que m’havia d’agradar – l’escola, la religió i la feina obligada – no em va satisfer mai, però la màgia m’há acompanyat sempre. He anat descobrint que no hi ha diferencia entre un joc de mans i un poema: tots dos són uma metamorfose de la realitat, uma sorpresa per a la persona intel-ligent.”
(Joan Brossa, A Partir del Silenci, Antologia Polimòrfica, Galàxia Gutenberg/Cercle de Lectors, Barcelona, 2001)






Rambla del Mar



 O bairro de El Poble Sec visto da Rambla del Mar




Passeig de Colom. Ao fundo, Montjuïc. foto: Ludmila Ciuffi






Bairro de Eixample. Casa Milá (La Pedrera) projetada por Antoni Gaudí.





Casa Milá vista do Carrer de Provença




Casa Milà. Detalhe da fachada.





Bairro de Eixample. Casa Batló, projetada por Antoní Gaudí.





Detalhe da fachada da Casa Batló (à direita) e da Casa Amatller (à esquerda) projetada por Josep Puig i Cadafalch 




Bairro de Eixample. Passeig de Gràcia.




Bairro de Eixample. Passeig de Gràcia.





Bairro de Eixample. Passeig de Gràcia.





Praça de Catalunha. A Deusa, escultura de Josep Clarà. Ao fundo, o monumento a Francesc Macià, projetado por Josep Maria Subirachs.




Praça da Catalunha ao pôr-do-sol/ foto: Ludmila Ciuffi,





Templo Expiatório da Sagrada Família, projetada por Antoní Gaudí.




Detalhe da igreja da Sagrada Família.





Fundação Antoní Tàpies





Fundação Antoní Tàpies/ foto: Ludmila Ciuffi




Fundação Antoní Tàpies/ foto: Ludmila Ciuffi




Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), projetado por Richard Meier.






Ao fundo, Palácio Nacional, sede do Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC)






Museu Nacional de Arte da Catalunha. Hall do piso superior.




Museu Nacional de Arte da Catalunha. Hall do piso superior.




Museu Nacional de Arte da Catalunha. Base do domo.



Museu Nacional de Arte da Catalunha. Foyer.





Museu Nacional de Arte da Catalunha. 
A Praça de Espanha e as Torres Venezianas vistas do foyer.




Museu Nacional de Arte da Catalunha. Abside de São Clemente de Taull/ foto: Ludmila Ciuffi




Praça de Carles Buigas. Fontes de Montjuïc.Ao fundo, as Torres Venezianas e a Praça de Espanha.




Fundação Miró. Projeto de Josep Lluis Sert.




Fundação Miró. Detalhe.





Fundação Miró. Terraço do piso superior.





Bairro de Raval. Igreja e Mosteiro de San Pau del Camp. 





Bairro de Raval. San Pau del Camp. Claustro.




Bairro de Raval. San Pau del Camp. Abside da igreja,




Bairro de Raval. Carrer d'Elisabets. Livraria Central.






Bairro Gótico. Catedral vista do Carrer dels Comtes/ foto: Ludmila Ciuffi




Bairro Gótico. À esquerda, a Catedral vista do Carrer dels Comtes/ foto: Ludmila Ciuffi





Bairro Gótico. Praça do Rei/ foto: Ludmila Ciuffi





Bairro Gótico, Praça do Rei. Escultura de Chilida.





Bairro Gótico. Praça do Rei. Museu de História de Barcelona.





Bairro de Ciutat Vella. Praça do Fossar de los Moreres. 
O cartaz é um exemplo do conceito althusseriano de ideologia.




Bairro de Ciutat Vella. Parque da Cidadela. Cascata Monumental.






Bairro de Ciutat Vella. Parque da Cidadela.





Bairro de Ciutat Vella. Saída do Parque da Cidadela. Avenida do Marques de l'Argentera. Ao fundo, Montjuïc.





Descanso no terraço da Fundação Tàpies.





"Me pasé de claro a Barcelona, archivo de la cortesía, albergue de los estranjeros,
hospital de los pobres, patria de los valientes, venganza de los ofendidos, y correspondencia
grata de firmes amistades, y en sitio y en belleza única".

El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, Parte Segunda, capítulo LXXII










segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

En medio de la plaza y sobre tosca piedra #5









 Madrid





Ao contrário da Itália e de Portugal, terras de pertencimento às quais me ata um longuíssimo cordão umbilical, a Espanha me veio em pequenas porções. Minha mãe, que tivera vizinhas e colegas espanholas quando morava na Mooca, foi quem me deu a primeira lição do idioma: filho se diz “hijo”, folha se diz “hoja”. Haciase la luz. Então o espanhol estava tão próximo do português que as diferenças podiam ser reduzidas a certas regras de transformação fonética? Não era bem assim, mas o iniciante precisava apoiar sua alavanca em algum ponto de Arquimedes. Com isso, o espanhol veio a ser a segunda língua que eu li, pois o italiano que se ouvia na minha casa, estropiado pelo analfabetismo e pela velhice balbuciante do nonos Giovanni Battista e Angelina, era demasiado escuro e sujo de terra, como costumam ser as raízes, ao passo que o espanhol era novo, brilhante e tinha algo de fulminante.

Na década de 1970, assistir ao Jornal Nacional à espera da novela das oito era um ritual para quase todas as famílias brasileiras que dispunham de aparelho de tv. Meu pai só comprava jornais aos domingos. Revistas, só aquelas com figurinos que minha mãe pudesse mostrar para as clientes que estavam indecisas quanto à roupa que iriam encomendar. É pela televisão que a Espanha nos chegava aos pedaços quase todas as noites. Os da minha geração devem se lembrar daquele ano de 1973, que começou com a morte de Picasso e terminou com o atentado do ETA que matou Luís Carrero Blanco, braço direito de Franco. Uma época estava para se encerrar. Menos de dois anos depois, vi a notícia da morte do Generalíssimo no Jornal Nacional.

O que se seguiu foi muito rápido e confuso para mim. A Espanha voltou a ser uma monarquia, mas quem governava o país era Adolfo Suárez, cuja pinta de cantor de tango contrastava com a sisudez do nosso general Geisel. Enquanto Suárez convocava as agremiações políticas e sindicais para negociar os pactos de Moncloa em 1977, vivíamos aqui os momentos tensos da nossa abertura gradual feita em slow motion para não assustar os homens das casernas. Quando ficou pronta a nova constituição democrática da Espanha no final de 1978, eu estava mais preocupado em acompanhar à noite as discussões entre Spock e McCoy em Jornada nas Estrelas, motivo pelo qual também não percebi que, a partir de 1º de janeiro de 1979, estávamos livres do Ato Institucional nº5.

A Espanha apareceu outra vez no Jornal Nacional em fevereiro de 1981. A inflação galopante e os atentados do ETA pareciam demonstrar a impotência da democracia em manter a ordem pública. Ao menos era o que parecia aos membros da Guarda Civil que invadiram o Congresso dos Deputados e dispararam suas carabinas para cima exigindo silêncio e obediência, mas o alzamiento de 1936 não se repetiu. Ao desautorizar a intentona no dia seguinte, o rei Juan Carlos mostrou uma decência que não se via entre os Bourbon desde os tempos de Henrique de Navarra. No mesmo ano do golpe malfadado, foi a vez de dois terroristas de quartel tentarem explodir um carro-bomba na frente do Riocentro no show do Dia do Trabalho. O sargento e o capitão, por demasiado afoitos ou incompetentes no manejo da matéria explosiva, subitamente viram-se diante dos portões do país desconhecido do qual ninguém volta. O alzamiento de 1964 não se repetiu.

Entre a Copa do Mundo e a Olimpíada de Barcelona, a Espanha viu o fundo do poço do desemprego, a recuperação “milagrosa”, o ingresso na Comunidade Europeia, o Oscar de Filme Estrangeiro de 1983, o Nobel de Literatura de 1989 e a consagração de Almodóvar como o expoente de um país sem recalques. O Partido Socialista Operário Espanhol, tendo à frente Felipe González, era um modelo de esquerda pragmática, disposta a abandonar da luta de classes em nome da governabilidade, como fará, na década de 90,  Tony Blair à frente do New Labour. Durante os anos de “milagre” espanhol, os bancos espanhóis se tornaram poderosos e o imenso conglomerado estatal da Rumasa foi desmembrado e privatizado. Os socialistas espanhóis pareciam ter encontrado a receita de sucesso para uma economia faminta de democracia e desenvolvimento. Tratava-se de uma combinação de welfare state socialdemocrata (inspirado de longe pelo modelo sueco que nós, brasileiros, também cobiçávamos), práticas neoliberais de incentivo ao capital rentista e ao consumo dos segmentos médios (já colocadas em prática no Chile, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos) e promoção de uma cultura laica e cosmopolita. No Brasil de meados dos anos 80, muitas figuras de centro-esquerda, especialmente as que viriam a fundar o PSDB, expressavam admiração pelos acordos de Moncloa e pelas conquistas de Felipe González. 

Essa Espanha, que volta e meia entrava em casa através da televisão, marcou-me a adolescência e o início da vida adulta. No curto governo de Calvo Sotelo, eu era um jovenzinho de família operária e católica. Entre meus colegas de escola, o filme era Mad Max e a música, Another Brick on the Wall. Todos éramos mais ou menos punks quando Guernica, de Picasso, passou a ser definitivamente exposta em Madrid. Na Copa de 82,  eu ouvia The Police e iniciava meu caminho para a filosofia. A Espanha entrou na Comunidade Europeia quando começavam minha vida universitária e o namoro com Ludmila. No auge do sucesso de Mujeres al borde de um ataque de nervios, que tornou Pedro Almodóvar mundialmente famoso, eu estava enfronhado em Nietzsche, Marx e Freud. No quinto centenário da chegada de Colombo à América, quando se celebraram as Olimpíadas de Barcelona, eu já era professor e apoiava meus alunos “cara-pintadas”, que saíam às ruas para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor. Durante os anos da socialdemocracia brasileira, instalada por Fernando Henrique Cardoso e continuada por Luís Inácio Lula da Silva, enquanto o Brasil corria para integrar o clube das nações mais ricas do mundo, sucessivas ondas de "reconquista ibérica" trouxeram a Telefónica, os bancos Santander e BBV, a seguradora Mapfre e dezenas de outras empresas espanholas. Além disso, nossos craques, antes destinados às prestigiadas equipes italianas, passaram a ser adquiridos em transações milionárias pelas duas novas potências do futebol mundial: o Real Madrid e o Barcelona. 

No entanto, a Espanha sofreu graves reveses. O atentado na estação madrilenha de Atocha, que matou quase duzentas pessoas em março de 2004, abriu um novo período de terrorismo na Europa. A crise do sistema financeiro internacional de 2008 colocou o povo espanhol sob o jugo da  Troika, apelido dado ao Cérbero cujas cabeças são a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI. Contudo, ao desembarcarmos em Madrid em janeiro de 2015, tudo indicava que o pior momento ficara para trás. O governo conservador de Mariano Rajoy pôde anunciar alguns discretos sinais de recuperação econômica, embora o taxista com quem conversamos não estivesse tão animado. A maior novidade, porém, é que, numa Europa acossada pela extrema-direita, a Espanha viu a rápida ascensão da esquerda novíssima representada pelo Podemos, cujas práticas e propostas a esquerda brasileira em crise tenta compreender e assimilar. A história continua a nos dar lições a partir da Espanha.

Eu não amo Madrid. A Catedral de Almudena é um bloco de mau gosto gris, pesado em português e em espanhol. Os duraznos do Mercado de San Miguel souberam-me a mangas. A Gran Via na altura de Callao é uma Times Square rastaquera, com a marca enfática das modernidades de imitação. El churro con chocolate no me ha encantado e estou disposto a encarar a eternidade sem provar outra vez o cocidito madrileño. Definitivamente esta não é a minha cidade, mas gosto do sotaque  castizo e tenho enorme simpatia pela juventude ochentera que, durante a Movida Madrileña, enchia as ruas de Malasaña, bairro boêmio de majos, chulos y chisperos desde os tempo de Goya. Esses jovens que, em Madrid como em São Paulo, eram desprezados como a blank generation são agora uns cinquentões como eu, punks tardios que, apesar do aburguesamento, ainda levam a sério aquela outra Madrid da qual Antonio Machado, que aqui morou por tantos anos, escreveu:

Como y por qué el pueblo, precisamente el pueblo madrileño era el menos surpreendido por la traición fascista, y el más dispuesto a combatirla, es algo que los historiadores del porvenir nos explicarán, acaso, algún dia”.
(Antonio Machado, Madrid, Baluarte de Nuestra Guerra de Independencia, 7. XI 1936 - 7.XI.1937,  Servicio Español de Información, Valencia, 1937).








Aeroporto Madrid-Barajas. Terminal 4. Projeto de Richard Rogers e do Estudio Lamela




Porta de Alcalá


Palácio das Comunicações.



Praça de Cibeles




Gran Via na altura do metrô Callao


Porta do Sol



Mercado de San Miguel



Plaza de la Villa



Plaza Mayor: estátua de Felipe III

Museu Thyssen-Bornemisza


Museu Thyssen-Bornemisza: Exposição Givenchy. No centro, Mark Rothko/ foto: Ludmila Ciuffi.



Museu Thyssen-Bornemisza





Museu Thyssen-Bornemisza: Ghirlandaio/ foto: Ludmila Ciuffi




Museu Thyssen-Bornemisza. O Sobrinho de Enesidemo diante dos construtivistas russos/ foto: Ludmila Ciuffi



Museu do Prado





Parque do Retiro



Parque do Retiro/ foto: Ludmila Ciuffi




Parque do Retiro




Parque do Retiro




Parque do Retiro




Parque do Retiro/ foto: Ludmila Ciuffi


Paseo del Prado


Jardins cobertos da Estação de Atocha


A estação de Atocha vista do Museu Rainha Sofia




Museu Rainha Sofia. O projeto dos elevadores é de

José Luis Íñiguez de Onzoño, Antonio Vázquez de Castro e Ian Ritchie.





Museu Rainha Sofia. Detalhe dos elevadores.



Museu Rainha Sofia. O corredor ao lado o pátio central.



Museu Rainha Sofia: seção de fotografia/ foto: Ludmila Ciuffi.



Museu Rainha Sofia. Uma escultura de Chilida e uma pintura de Antonio Saura/ foto: Ludmila Ciuffi.




Museu Rainha Sofia. Pintura de Antoni Tapiès/ foto: Ludmila Ciuffi.



Museu Rainha Sofia. Pintura de Manolo Millares/ foto: Ludmila Ciuffi.


Museu Rainha Sofia. Área ampliada projetada por Jean Nouvel.



Museu Rainha Sofia. Área ampliada projetada por Jean Nouvel.




Museu da América: fardo de múmia da cultura Paracas/ foto: Ludmila Ciuffi.



Museu Arqueológico Nacional: coroas visigóticas.



Telhados do bairro de Malasaña.










No centro, o Sobrinho de Enesidemo
ao tempo do Mundial da Espanha 
e da Movida Madrileña.